Aprovação do Marco Temporal e mudanças em atribuições de ministérios mobilizam debate ambiental

Por: FGV ECMI 

 

Por: FGV ECMI 

 

  • Especulações de um rompimento entre a ministra Marina Silva e o presidente Lula mobilizam oposição ao redor de debate sobre interesses políticos e ambientais do governo;
  • Debate ambiental no Twitter se avolumou após aprovação do Marco Temporal, com ênfase em críticas a Arthur Lira e mobilização por ação do STF para impedir a lei;
  • No Facebook, parlamentares do PT domina o debate ambiental em número de publicações, mas PL tem melhor desempenho em engajamento;

 

Em destaque nas plataformas digitais, o debate ambiental é enquadrado a partir de três tópicos principais: a votação do Marco Temporal, assunto de maior destaque do período; as mudanças nas atribuições dos Ministérios dos Povos Indígenas e, principalmente, do Meio Ambiente e Mudança do Clima; e, de modo mais lateral, as tratativas em torno da CPI do MST. É o que mostra o levantamento da Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV, que analisou publicações no Twitter, no Facebook e no YouTube, entre 23 e 30 de maio.

Nota-se, nesse sentido, que os campos políticos se comportam de modos diferentes a depender da pauta. Enquanto parlamentares governistas e perfis progressistas procuram disputar a discussão sobre o Marco Temporal, mobilizando uma considerável oposição ao Projeto, os debates sobre a CPI do MST e as mudanças nas atribuições ministeriais são dominadas pela oposição. Há, nestes casos, uma intensa circulação de narrativas que insinuam que o Governo estaria em um momento de muitas derrotas, vivenciando uma suposta crise por causa de um conflito de interesses, especialmente entre a ministra Marina Silva e o presidente Lula.  Estes debates, vale dizer, perdem o teor ambiental e enveredam por um caminho mais ideológico, o que prejudica o próprio nível da discussão.

 

Debate geral

 

 

Twitter

 

 

Evolução do debate sobre Meio Ambiente no Twitter

Período: de 23 a 30 de maio

gráfico de evolução

 

Fonte: Twitter| Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

  • A aprovação do PL 490/2007, que define o Marco Temporal, mobilizou um alto volume de menções relacionadas aos povos indígenas, garimpo e agronegócio. Além de postagens criticando o PL, os conteúdos também criticam o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, por sua condução da votação e por cortar o microfone da deputada Célia Xakriabá (PSOL-MG), que falava contra o projeto;
  • Entre os críticos ao PL, também se destacam postagens falando sobre as possibilidades de impedir o Marco Temporal no STF ou no Senado, argumento que o projeto de lei é inconstitucional e representa grave ameaça a população indígena e a preservação do meio ambiente;
  • Apesar da maior parte das mensagens sobre o Marco Temporal sejam de crítica a urgência, também há mensagens comemorando a aprovação na Câmara dos Deputados, argumentando que essa é uma vitória da segurança jurídica e ainda que há muitas terras já demarcadas e poucos indígenas, então a lei não seria um problema;
  • O debate sobre desmatamento também teve um crescimento após declarações da ministra Marina Silva e críticas à aprovação em uma comissão mista da medida provisória que retira atribuições dos ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Originários. As mensagens acusa a MP de “desmonte socioambiental”;
  • A CPI do MST também mobilizou os perfis, dessa vez favoráveis à investigação do movimento que, segundo as mensagens, “espalha terror entre produtores rurais”. A declaração do presidente da CPI do DF, afirmando que o agronegócio financiou parte dos atos golpistas, também repercutiu no debate;

 

Nuvem de palavras sobre Meio Ambiente no Twitter

Período: de 23 a 30 de maio

nuvem de palavras

 

Fonte: Twitter| Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

  • A votação do PL 490 também mobilizou usuários da plataforma, que replicaram mensagens chamando a população a se manifestar contra o projeto de lei. As mensagens divulgam os partidos que votaram contra ou a favor do projeto e criticam Arthur Lira e a bancada ruralista;
  • Nesse tema, é possível observar o protagonismo de lideranças e influenciadores indígenas, que se posicionam contra o projeto e dão ênfase nos perigos do Marco Temporal para as populações indígenas e para o meio ambiente. No entanto, há também a presença de mensagens de parlamentares de oposição celebrando a aprovação do projeto, que afirmou que o projeto permitia que qualquer terra pudesse ser invadida, sem indenização ao proprietário;
  • Entre os termos mais mencionados no debate ambiental, cobranças relacionadas às mudanças feitas no ministério do Meio Ambiente e no ministério dos Povos Indígenas geraram críticas ao presidente Lula e ao legislativo. Enquanto parte dos usuários responsabiliza Lula por retirar atribuições ao ministério, outra parte afirma que o agro e partidos de centro desejam boicotar o governo Lula através de mudanças na atribuição dos ministérios;
  • A licença negada pelo Ibama para exploração de petróleo na foz do Amazonas pela Petrobras também repercutiu ao longo da semana. Os perfis envolvidos no debate compartilharam artigos falando de experiências positivas e modos de aliar o desenvolvimento econômico à proteção do meio ambiente e falaram sobre os possíveis impactos da exploração do combustível fóssil. Há também mensagens divulgando que o Ibama vai reavaliar o pedido e críticas a Lula por estar, supostamente, interferindo no órgão ambiental;
  • Argumentando que os deputados estão atendendo os interesses de grileiros e lobistas, a CPI do MST foi criticada em postagens que mencionaram o relator Ricardo Salles e o presidente Tenente Coronel Zucco;

 

Menções aos ministérios do Meio Ambiente e Povos Indígenas no Twitter

Período: de 23 a 30 de maio

gráfico de evolução

 

Fonte: Twitter| Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

  • A ministra Marina Silva esteve entre as ministras e ministros com maior volume de menções no período, após a votação de uma Medida Provisória que retira atribuições do seu ministério e declarações que foram interpretadas como uma uma declaração de “guerra” da ministra ao presidente Lula. As mensagens ainda afirmam que o governo está “passando a boiada” e criticam supostas tentativas do presidente de interferir no IBAMA para aprovar licenciamento para exploração de petróleo na foz do Amazonas pela Petrobras;
  • A ministra Sônia Guajajara também recebeu apoio diante da aprovação da Medida Provisória que também interfere no seu ministério. O presidente Lula também foi criticado por não ter se mobilizado para impedir o desmonte dos ministérios. Nesse sentido, declarações da ministra sobre o caso também foram interpretadas como críticas ao governo;
  • Tendo destaque desde o início do governo em volume de menções, os ministros Flávio Dino, Fernando Haddad e Geraldo Alckmin foram ultrapassados por Marina Silva e por Sônia Guajajara no dia 24 de maio, apontando para a repercussão expressiva do debate sobre as mudanças nos ministérios. O ministro Carlos Fávaro, cujo a pasta recebeu parte das atribuições dos outros dois ministérios, também teve um leve crescimento na data e recebeu acusações de que o agronegócio estaria destruindo a legislação ambiental;

 

 

YouTube

 



Principais vídeos sobre Meio Ambiente no YouTube

Período: de 23 a 30 de maio

lista de principais vídeos

 

Fonte: YouTube | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

  • A licença para exploração de petróleo na foz do Amazonas e trechos da CPI do MST estiveram entre os vídeos sobre meio ambiente com maior número de visualizações. No caso da exploração de petróleo, os vídeos divulgam o caso e repercutem falas da ministra Marina Silva, do presidente Lula e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, em uma perspectiva majoritariamente favorável à exploração do combustível fóssil. Já no caso da CPI, os vídeos abordam o debate caloroso entre o deputado Ricardo Salles (PL-SP) e as deputadas Sâmia Bomfim (PSOL-SP) e Taliria Petrone (PSOL-RJ). Se destacam ainda vídeos com trechos das sessões na comissão e vídeos de comentaristas do canal Jovem Pan News; 
  • As mudanças nos ministérios promovidas pela medida provisória alterada pelo Congresso, a licença ambiental para exploração de petróleo e a aprovação do Marco Temporal também motivaram vídeos de opinião afirmando que há uma ruptura entre Lula e Marina e que o presidente não tem real interesse em proteger o meio ambiente. Os vídeos ponderam se Marina continuará a frente do ministério e alegam que o presidente Lula estaria mais interessado em ganhos financeiros e apoio político do que em políticas de preservação ambiental;

 



Facebook

 



Principais links noticiosos sobre Meio Ambiente no Facebook

Período: de 23 a 30 de maio

tabela de principais links



Fonte: Facebook | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

  • Os links de destaque no debate ambiental no Facebook se voltam, principalmente, à votação do Marco Temporal e, de modo mais lateral, aos recentes episódios envolvendo as atribuições do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, de Marina Silva;
  • Ainda que duas notícias da Jovem Pan News disseminem a noção de que o governo estaria apresentando perdas recorrentes junto ao Congresso, os principais links são favoráveis a uma perspectiva mais progressista. Nesse sentido, a mobilização contrária à aprovação do PL 460 foi o principal destaque destas notícias;
  • A centralidade da Revista Cenarium Amazônia, junto a veículos tradicionais mais consolidados, como O Globo, pode indicar um maior espaço para fontes com atuação regional. Neste caso, a revista traz a perspectiva de lideranças indígenas para o debate;
  • Convém ressaltar ainda o papel de figuras internacionais, como Leonardo DiCaprio e Mark Ruffalo, nesta discussão, atraindo a atenção coletiva para as questões pautadas. 

 

Principais posts no debate sobre Meio Ambiente no Facebook

Período: de 23 a 30 de maio

 

print marina silva print facebookprint facebook

 

Fonte: Facebook | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

  • Os posts de maior destaque no Facebook oferecem um panorama do debate ambiental no período analisado, marcado por três pautas principais: as mudanças nas atribuições dos Ministérios de Marina Silva e Sonia Guajajara, a CPI do MST e a votação do Marco Temporal; 
  • O primeiro tópico é pautado, principalmente, por opositores do governo, sejam estes parlamentares ou cidadãos comuns. A perspectiva em circulação aponta para um “racha” protagonizado por Marina Silva e Lula. Nesse sentido, as declarações da Ministra em contrariedade às mudanças pautadas ofereceu combustível para as narrativas da oposição;
  • A CPI do MST percorre um caminho similar, sendo dominada pela oposição ao governo. Neste caso, são comuns argumentos que acionam o pânico moral em relação à atuação do Movimento, indicando que famílias e crianças estariam sob ameaça. Dessa maneira, o debate perde parte de seu caráter ambiental, enveredando para um teor mais ideológico;
  • Por fim e com a maior centralidade do período, publicações sobre a votação do Marco Temporal apresentam um equilíbrio maior, sendo disputadas tanto por perfis que apoiam o PL, que argumentam que a aprovação do Marco configura uma vitória para o agronegócio brasileiro, quanto por aqueles que se opõem ao Projeto, que saem em defesa dos direitos dos povos indígenas. 



Parlamentares e partidos no debate sobre Meio Ambiente no Facebook

Período: de 23 a 30 de maio

Quantidade de publicações: 1.074

gráfico de dispersão

 

Fonte: Facebook | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

  • A discussão ambiental no Facebook é marcada, em termos de número de interações, por parlamentares de oposição ao governo, sobretudo a deputada Carol De Toni (PL). O foco foi a aprovação do Marco Temporal na Câmara, comemorado pela base do PL como uma “derrota do Governo Lula”. Nesse sentido, obtiveram destaque vídeos dos deputados no plenário, recurso utilizado tanto para informar sobre os rumos da votação em tempo real, quanto para performar relevância no plenário;
  • Já os parlamentares governistas se destacaram em número de postagens, com o PT sendo o partido que mais aglutinou publicações (45), sobretudo em repúdio ao Marco Temporal. Estas, no entanto, não obtiveram um engajamento considerável, ainda que os deputados tenham adotado a estratégia supracitada de divulgação de vídeos, com trechos que destacam suas respectivas participações em plenário. Aqui, foram comuns associações entre o PL 460 e termos como “criminoso”, “cruel” e “brutal”.