Às vésperas de possível votação, oposição vence debate digital sobre PL das Fake News
Por: FGV ECMI
Por: FGV ECMI
- Oposição domina debate sobre o Projeto e consolida coro crítico à aprovação de urgência do que é chamado de “PL da Censura”;
- Parlamentares de oposição se aliam aos de centro, superando amplamente o engajamento de aliados do governo;
- Guilherme Boulos, principal perfil da esquerda no debate, obteve cerca de 97% a menos de engajamento, quando comparado ao destaque da direita, Marcel van Hattem;
- Riscos de censura e supostas ameaças à democracia são os principais motes dos críticos do Projeto.
As expectativas pela possível apreciação do PL 2.630/2020 movimentaram forte campanha contrária à aprovação da matéria na Câmara. Parlamentares de oposição e conteúdos que vinculam o PL das Fake News à censura e à ameaça à liberdade de expressão foram dominantes no debate digital. É o que mostra levantamento da Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV, que analisou postagens sobre o tema no Facebook, das 00h do dia 15 às 12h do dia 25 de abril.
O debate sobre a aprovação de urgência da matéria na Câmara dos Deputados movimentou manifestações gerais sobre o mérito do projeto e, de forma mais ampla, as iniciativas governamentais em relação à regulação de plataformas digitais. Nesses termos, a campanha de rejeição ao PL 2.630/2020 ganhou força nas redes e mobilizou a crítica ao governo federal, sendo fortemente mobilizada por parlamentares de oposição e centro.
Principais links de notícias sobre o PL das Fake News no Facebook
Período: das 00h do dia 15 às 12h do dia 25 de abril
Fonte: Facebook | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV
- Links associados à direita bolsonarista e à oposição ao PL 2.630/2020 foram predominantes entre os conteúdos com maior engajamento. As críticas enfatizam a perspectiva de que o Projeto seria uma ameaça à liberdade de expressão e que a aprovação da urgência equivaleria à aprovação do mérito.
- Sinalizando para o destaque de veículos hiperpartidários de mídia neste debate, a coluna convocatória de Deltan Dallagnol (PODE), publicada no Gazeta do Povo e intitulada “Urgente: O Brasil será amordaçado”, e o vídeo do pastor Silas Malafaia, publicado em seu canal de YouTube e replicado por Pleno News, ficam em destaque. Parcialmente republicada em Pleno News, a coluna de Dallagnol alcançou expressiva vantagem em número de reações, amplamente positivas.
- Já O Antagonista e os tradicionais veículos UOL e CBN ficaram em evidência ao repercutirem atualizações sobre a disputa política em torno da matéria. Em tom pouco opinativo, ficam em destaque os requerimentos que solicitaram a instauração de uma Comissão Especial, além de manifestações de autoridades públicas em defesa dos méritos do projeto, inclusive do relator da matéria.
- Os links da Veja são os únicos a terem efeito geral favorável ao PL. Enquanto a veiculação de resultados de pesquisa de opinião pública destaca o apoio popular à pauta de regulação de plataformas, reportagem publicada pela Redação rebate, ativamente, as críticas feitas ao Projeto e à votação em regime de urgência. O alto número de comentários se deve às críticas dos usuários às reportagens.
Principais parlamentares do debate sobre o PL das Fake News no Facebook
Período: das 00h do dia 15 às 12h do dia 25 de abril
Fonte: Facebook | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV
- Parlamentares da direita aliada a Jair Bolsonaro dominam, quase totalmente, o debate sobre o PL das Fake News no Facebook, assinando 22 das 25 publicações com maior engajamento. Nomes como Marcel van Hattem (Novo), Carla Zambelli (PL) e Bia Kicis (PL) ficam em evidência.
- Entre essas publicações, o deputado Guilherme Boulos (PSOL) é o principal destaque da base governista, mas obteve cerca de 97% a menos de engajamento, em comparação a Van Hattem. Alguns parlamentares de partidos de centro, como Sergio Moro (União) e Deltan Dallagnol (PODE), também ficaram à frente de figuras da esquerda, se aproximando da oposição ao criticar fortemente o Projeto de Lei.
- Com um pico de interações em 24 de abril, não há indícios de disputa significativa do debate entre os diferentes campos políticos, com notado protagonismo da direita. Nesse sentido, o assunto é abordado a partir da lógica da censura e do cerceamento à liberdade de expressão, defendendo que os direitos da população e a própria democracia estariam em risco.
- Algumas destas postagens se caracterizam pela convocação à ação, com pedidos para que os eleitores pressionem os deputados para rejeitarem a aprovação do Projeto, como orientou Eduardo Bolsonaro (PL) em publicação de destaque. A mobilização parlamentar também envolve a realização de lives com especialistas, a divulgação do site “PL da Censura” e a circulação de conteúdos que indicam que o Projeto irá banir versículos bíblicos das redes sociais. O deputado Deltan Dallagnol chegou a afirmar, nesse sentido, que “a fé será censurada se nós não impedirmos a aprovação do PL da Censura”.
- Quando comparada à quantidade de postagens e ao elevado engajamento obtido pela direita, a base governista, favorável ao projeto, apareceu de modo bastante lateral, com Guilherme Boulos (PSOL), Sâmia Bomfim (PSOL) e Rogério Correia (PT) defendendo a aprovação do Projeto. Apesar de ser o relator do projeto, o deputado Orlando Silva (PCdoB) obteve um engajamento quase insignificante ao tratar do tópico. Os deputados pedem uma maior responsabilização das plataformas digitais e apontam os perigos da circulação de conteúdos violentos e extremistas.
Volume de interações e postagens por partido no Facebook
Período: das 00h do dia 15 às 12h do dia 25 de abril
Fonte: Facebook | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV
- Representando a preponderância da oposição no debate, parlamentares do PL e Novo lideram com ampla vantagem. Com ao menos 30 parlamentares ativos na pauta, o Partido Liberal é o que mais publicou sobre o tema entre todas as siglas, enquanto nomes como Marcel van Hattem (NOVO) garantem forte engajamento a outros partidos de oposição.
- Podemos e União Brasil aparecem na sequência, sinalizando a força da crítica ao Projeto por parlamentares de centro. Mauricio Marcon (PODE), Deltan Dallagnol (PODE) e Sergio Moro (UNIÃO) se destacam. Em conjunto com a oposição, os partidos compõem forte bloco crítico ao projeto.
- Com baixo volume de interações no comparativo, os partidos PT e PSOL se destacam entre a base governista. O PT foi o terceiro partido a mais publicar sobre o tema, mas apenas Guilherme Boulos (PSOL) se destacou minimamente em termos de engajamento.
Volume de interações e postagens por campo político no Facebook
Período: das 00h do dia 15 às 12h do dia 25 de abril
Fonte: Facebook | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV
- O campo de oposição ao governo federal teve larga vantagem dentro do debate. Composto pelo PL e NOVO, o grupo é maioria tanto em número de postagens e de engajamento, quanto em número de parlamentares envolvidos no debate, totalizando 33 dos 65 dos deputados e senadores que postaram sobre a PL no Facebook.
- O centro é formado pelos blocos parlamentares com maior volume de partidos na Câmara dos Deputados. O primeiro é formado pelo União Brasil, PP, Federação PSDB-Cidadania, PDT PSB, Avante, Solidariedade e Patriota. O segundo agrupa o MDB, PSD, Podemos e PSC. Junto com os parlamentares alinhados com o governo federal, que é formado pelo PT, PSOL, REDE, PV, PTB, PROS e PC do B. Os dois campos políticos têm uma expressão menor no debate, tanto com relação ao número de postagens e de interações, quanto no número de parlamentares, que totalizam 33 deputados e senadores nos dois campos.