Posicionamento de Big Techs impulsiona participação favorável ao PL das Fake News, mas oposição ainda é maioria

Por: FGV ECMI 

 

Por: FGV ECMI 

 

  • No debate parlamentar no Facebook, a oposição ao PL das fake news representa maioria significativa, alegando ameaças à democracia e aos direitos individuais;
  • Episódio com Google motiva uma maior mobilização entre o campo favorável ao PL, mas o engajamento da esquerda ainda é significativamente menor do que o da direita;
  • Perfis lavajatistas se aproximam da direita bolsonarista, representando, juntos, cerca de 73,4% das interações no Twitter. O mote principal ainda é a censura. 



As expectativas e disputas em torno do PL 2.630/2020 seguem movimentando o debate nas redes sociais. No Twitter, a oposição ao Projeto ganha o protagonismo da discussão, sobretudo a partir da direita bolsonarista, com cerca de 62,5% das interações, e de perfis lavajatistas, com 10,9%. Este protagonismo se assemelha ao observado no debate parlamentar no Facebook, rede na qual deputados e senadores de oposição e de centro obtêm maioria esmagadora. É o que mostra o levantamento da Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV, que analisou postagens sobre o tema no Twitter e no Facebook, entre 25 de abril e 02 de maio de 2023. 

Ainda que a esquerda venha procurando pautar mais o debate, aumentando o número de postagens em defesa do Projeto, prevalecem as narrativas que associam o PL à censura, à perseguição política e ao controle das liberdades individuais dos cidadãos. Em alguns casos, estas narrativas foram associadas à agenda de costumes, com argumentos religiosos e perspectivas anti-gênero e anti-LGBTQIA+. Entre estes diferentes campos, há ainda uma singularidade relevante no modo como se articulam: enquanto a direita vêm sendo mobilizada, principalmente, por parlamentares, a esquerda conta com a atuação de ativistas, páginas de entretenimento e influenciadores. 

Debate Parlamentar

 

Evolução do debate parlamentar por campo político no Facebook

Período: das 00h do dia 25 de abril até às 14h do dia 02 de maio

 

grafo de evolução no Facebook

Fonte: Facebook | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV



Nos dias próximos à votação de urgência do PL, a direita dominou o debate no Facebook. Este cenário se modificou, em parte, após o Google incluir, em sua página de busca principal, um aviso contrário ao Projeto, episódio que motivou um pico de publicações entre a esquerda, que defende que o PL é relevante para conter a violência em ambiente digital. Ainda assim, no último período mapeado, às 14h do dia 02, o campo governista obteve cerca de 91% a menos de interações, quando comparado à direita, que associa o PL à censura e ao cerceamento da liberdade de expressão. 

 

Principais parlamentares do debate sobre o PL das Fake News no Facebook

Período: das 00h do dia 25 de abril até às 14h do dia 02 de maio

 

gráficos de barras dos principais parlamentares no Facebook

Fonte: Facebook | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

  • A oposição ao Governo tem destaque significativo no debate parlamentar sobre o PL 2.630/2020 no Facebook. Carla Zambelli (PL) e Gustavo Gayer (PL) ficam em evidência, estabelecendo uma afinidade temática com destaques de partidos de centro, como Rodrigo Valadares (UNIÃO) e Clarissa Tércio (PP). Termos como “PL da Censura” e argumentos que indicam que o Projeto irá permitir que o Estado controle as opiniões emitidas pelos cidadãos são centrais entre estes parlamentares. 
  • A esquerda, embora defenda a relevância do PL, demonstra uma desmobilização em torno do tema. Guilherme Boulos (PSOL), figura da esquerda com maior centralidade neste debate, apresentou cerca de 97% a menos de interação, quando comparado à Carla Zambelli. Em alguns casos, notam-se tentativas de mobilização, como ocorre nas redes do relator do PL Orlando Silva (PCdoB), que vem fazendo uma série de postagens sobre o assunto. Estes posts, no entanto, não obtiveram bons resultados, de modo que Orlando obteve índices irrisórios de interação no Facebook. 

 

Volume de interações e postagens por partido no Facebook

Período: das 00h do dia 25 de abril até às 14h do dia 02 de maio

 

volume de interações no Facebook

Fonte: Facebook | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

Os parlamentares do PL e do Novo lideram o engajamento entre os partidos políticos. Com o maior volume de deputados na composição das casas legislativas, o PL tem quase 9 vezes mais interações que o partido do presidente Lula. Na base aliada do governo, enquanto o PT tem o maior número de postagens, o PSOL lidera em volume de engajamento. Republicanos e União Brasil são os partidos com maior engajamento médio entre os blocos que compõem o centro.

 

 

Debate Público

 

 

Evolução de menções ao PL das Fake News no Twitter

Período: de 25 de abril até 02 de maio

 

grafico de evolução no twitter

Fonte: Twitter | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

 

  • Três picos consideráveis marcaram, até o momento, o debate mais geral sobre o PL 2.630/2020 no Twitter. O primeiro, na noite do dia 25 de abril, quando foi votada e aprovada a urgência do Projeto, foi marcado por parlamentares aliados a Bolsonaro, como Nikolas Ferreira (PL), Marcel van Hattem (NOVO) e Flávio Bolsonaro (PL). Nota-se que, neste momento, os perfis contrários à aprovação do Projeto mobilizaram narrativas de fácil assimilação e com teor de pânico moral, listando as supostas consequências do PL e indicando que versículos bíblicos serão equiparados a discurso de ódio.
  • Na noite de 1º de maio, outro pico foi observado, desta vez com maior protagonismo de atores favoráveis ao Projeto, como Felipe Neto, Sleeping Giants Brasil, Gregorio Duvivier e Flávio Dino. A mobilização deste grupo foi motivada pelo anúncio do Google contrário ao PL, episódio classificado como “imundo”, “vergonhoso” e “muito grave”. Entende-se que a ação do Google explicitaria ainda mais a necessidade de uma política de regulação das plataformas. Por outro lado, críticas à Rede Globo e conteúdos desinformativos sobre suposta censura contra a Bíblia aglutinou atores contrários ao Projeto.  
  • Estas narrativas se intensificaram ao longo das horas, representando o maior pico de menções do debate, mapeado na noite do dia 02 de maio. Concentrando termos como “censura” e hashtags como #pl2630nao, a discussão foi alavancada por uma forte mobilização de parlamentares, como Eduardo Bolsonaro (PL)  e Deltan Dallagnol (PODE), além de influenciadores bolsonaristas. Nesse sentido, o grupo se demonstrou focado em 1) criticar a decisão de Alexandre de Moraes envolvendo o Google e 2) atacar Arthur Lira pelo adiamento da votação do Projeto. Afirma-se que a ação de Lira foi justificada por “medo” de não aprovar o PL. A esquerda consta nesse debate de modo mais lateral, trazendo atualizações sobre a possível votação do projeto na noite do dia 02, além de críticas às plataformas.

 

Mapa de interações sobre o PL das Fake News no Twitter

Período: de 25 de abril até 02 de maio

 

grafo-twitter

Fonte: Twitter | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 



Direita (Azul) - 49,3% de perfis | 62,5% de interações

O grupo mais assiduamente contrário ao PL das Fake News é formado por nomes da direita bolsonarista, desde parlamentares, como @zambelli2210 e @nikolas_dm, até influenciadores, como @leandroruschel. Veículos hiperpartidários, a exemplo da @revistaoeste, também se somam a este coro, compartilhando supostos indícios de que o PL irá cercear as liberdades individuais dos cidadãos. A publicação mais retuitada pelo grupo, de autoria de Nikolas Ferreira, indica que “ensinamentos bíblicos” serão equiparados ao discurso de ódio, “discordar da homossexualidade” à homofobia e “ser contra homem em banheiro feminino” à discriminação. Referindo-se ao Projeto como o PL da censura, o grupo direcionou críticas a Alexandre de Moraes e ao Governo por supostamente censurarem o Google. A noção de que o Projeto irá inviabilizar o oferecimento de “serviços gratuitos na internet” também compõe o mote de argumentações do grupo. Nota-se, de modo geral, a reiterada utilização da retórica da ameaça nestas postagens, alertando aos cidadãos sobre os supostos prejuízos do PL. Em alguns casos, esta perspectiva foi acionada de modo conjunto a discursos da chamada agenda de costumes, compartilhando argumentos religiosos e anti-LGBTQIA+. Críticas a veículos de mídia tradicionais e à classe artística que, supostamente, se beneficiam do projeto, não ganharam destaque.

Perfis progressistas e de esquerda (Vermelho) - 36% de perfis | 26% das interações

O grupo que defende o PL 2.630/2020 é diverso, com protagonismo de perfis e páginas progressistas e de esquerda, como @slpng_giants_pt, @felipeneto, @lazarorosa25 e @choquei. Interessante notar que o protagonismo de parlamentares observado no cluster da direita não se repete entre o grupo favorável ao PL. Com um pico de mobilizações na noite de 1º de maio, o episódio envolvendo o Google motivou a participação do grupo na discussão, repercutindo tuítes que, em tom irônico, questionam como as plataformas não interrompem a circulação de discurso de ódio, mas supostamente bloqueiam conteúdos favoráveis ao PL das fake news. Em destaque, circulam uma série de denúncias sobre a suposta interferência das big techs em tais postagens, afirmando, por exemplo, que as plataformas foram as responsáveis por impulsionar conteúdo desinformativo que associa o Projeto à censura de versículos bíblicos.

Perfis lavajatistas  (Azul Claro) - 12,9% de perfis | 10,9% de interações

Composto, principalmente, por perfis que aderem às perspectivas lavajtistas e se autodenominam, em alguns casos, “liberais” ou “libertários”, como @analuizaholan10, @ideias_radicais e @KimKataguiri. O grupo se assemelha muito ao cluster da direita bolsonarista, estabelecendo fortes vínculos ao defender que o PL 2.630/2020 irá colocar em risco a liberdade dos cidadãos, regulando apenas grupos de oposição ao Governo Lula. Repercutem ainda críticas contra os atores que defendem o Projeto, acusando-os de incoerência por supostamente compartilharem fake news. Há ainda, entre o cluster, um movimento de expor os nomes dos parlamentares favoráveis ao PL, classificados como “censuradores”.

 

Nuvem de termos sobre o PL das Fake News no Twitter

Período: de 29 de abril até 02 de maio

 

4 nuvens de palavras

Fonte: Twitter | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

  • Para melhor compreendermos o modo como o debate público sobre o PL das fake news se desenvolveu ao longo dos recentes desdobramentos, desmembramos a análise de termos em 4 dias, considerando de 29 de abril a 02 de maio de 2023. 
  • Nota-se, de início, que os respectivos termos centrais das 4 nuvens, “PL da Censura”, “Propagar fake news”, “#pl2630nao” e “liberdade de expressão” foram alavancados pelo grupo contrário ao Projeto. Formado por perfis comuns, influenciadores, veículos de mídia hiperpartidários e parlamentares de direita, o grupo segue salientando que o PL ameaça a democracia e os direitos individuais da população ao supostamente institucionalizar a censura, permitindo que o Governo Lula decida o que é ou não verdade. Há ainda, em todo o período analisado, uma série de tentativas de acusar aliados do Governo de fake news, classificando-os como “incoerentes”. 
  • A partir do dia 30, também foram mapeadas críticas a veículos de mídia tradicionais, com tuítes que apelidam o projeto de “PL da Rede Globo”. A narrativa em circulação indica que o fato de “jornalistas do mainstream brasileiro” defenderem a aprovação do PL já explicita os supostos perigos do Projeto à liberdade de expressão. Há, nesta discussão, um forte teor pejorativo e irônico ao se referir a jornalistas, associados a “comunistas” e “militantes de cabelo azul”.
  • O episódio com o Google, em 1º de maio, trouxe perfis favoráveis ao PL para o debate, alavancando uma discussão sobre a necessidade de regulação das plataformas, sobretudo das big techs. De modo acalorado, mas ainda lateral, alguns poucos usuários tentaram esboçar uma mobilização mais significativa, compartilhando que “O Google mente”, enquanto outros criticaram o posicionamento do Governo frente ao Projeto, defendendo que o trâmite legislativo deveria ter sido feito de modo menos midiatizado. 
  • No dia 2 de maio, o protagonismo de perfis contrários ao Projeto, observado nos dias anteriores, se intensificou, principalmente pela decisão de adiar a votação do PL. Assim, foram mapeados ataques diretos a Arthur Lira, classificado como “inimigo número 1 da democracia brasileira”, e alegações de que o Governo Lula estaria comprando votos. Críticas ao Ministro da Justiça, Flávio Dino, também se intensificaram após pressão do Governo contra o Google. Ainda que tenham demonstrado descontentamento com o adiamento da votação, os perfis contrários ao PL indicam também que, por hora, “o bem venceu”, havendo ainda uma longa batalha pela frente. 

 



Principais links sobre o PL das Fake News no Facebook

Período: de 25 de abril até 02 de maio

 

principais links no Facebook

Fonte: Facebook | Elaboração: Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV

 

  • Links associados à direita bolsonarista e à oposição ao PL 2.630/2020 foram centrais entre os conteúdos com maior engajamento no Facebook, com protagonismo de veículos hiperpatidários, como Jovem Pan News, O Antagonista e Jornal da Direita Online. A mobilização parlamentar de grupos e bancadas que desejam barrar a aprovação do Projeto foi salientada em tais conteúdos, disseminando a noção de que a base do governo estaria fragilizada e o PL não seria aprovado em virtude das ações de deputados e senadores que estariam “lutando” contra a censura. 
  • Nesse sentido, o destaque negativo aos parlamentares de oposição que votaram pela aprovação da urgência, ainda no dia 25 de abril, também fica em evidência por meio do link do placar registrado na Câmara dos Deputados. Apenas dois conteúdos repercutem argumentos favoráveis à aprovação. Enquanto o veículo alinhado ao governo Diário do Centro do Mundo enfatiza a fala do relator Orlando Silva, a ofensiva do governo contra a Google ganha destaque no UOL.