Parlamentares governistas dominam debate sobre violência de gênero, enquanto oposição se destaca ao tratar de violência racial
Por: FGV ECMI
Por: FGV ECMI
- Uma disputa de narrativas sobre posicionamentos de Lula e Bolsonaro acerca de questões de gênero e de raça desempenhou papel central nas páginas de parlamentares no Facebook;
- Na discussão sobre violência de gênero, o governo se destacou com críticas ao governo Bolsonaro e divulgação de ações institucionais;
- No debate racial, a oposição dominou em engajamento e oscilou entre postagens de repúdio ao racismo e ataques à esquerda, com o argumento de que racismo seria “invenção” para gerar caos social.
Nas páginas dos parlamentares no Facebook, o debate sobre violência de gênero e de raça é objeto de disputa política entre os blocos partidários do Congresso Nacional. Enquanto o debate sobre gênero tende a ser disputado entre o governo e o Centro, sem grandes divergências quanto ao seu conteúdo, a discussão sobre raça é mais acirrada entre o governo e a oposição, gerando discursos visivelmente mais polarizados. É o que mostra o levantamento da FGV Comunicação Rio, que analisou publicações de parlamentares no Facebook, entre 1º de janeiro e 24 de julho.
Disputa de narrativas sobre Lula e Bolsonaro, mensagens de repúdio a episódios de racismo, divulgação de ações institucionais e negacionismo racial estão entre os temas de destaque nos debates referidos. Enquanto parlamentares governistas disputam a pauta de gênero com o Centro, a oposição vem dominando o debate racial com argumentos díspares: ora condenando o racismo, ora negando a sua existência. Em alguns momentos, as pautas de gênero e de raça se relacionaram, tratando, sobretudo, de atos de violência contra mulheres negras. Este cruzamento, no entanto, não foi significativo no debate parlamentar.
Debate parlamentar sobre violência de gênero
Evolução do debate parlamentar sobre violência de gênero no Facebook
Período: de 01 de janeiro a 24 de julho
Fonte: Facebook | Elaboração: FGV ECMI
- O mês de março registrou os maiores picos da discussão sobre violência de gênero no âmbito do debate parlamentar. Com protagonismo do campo governista e do Centro, foi dominante a ideia de que o governo Lula teria retomado as políticas públicas de promoção de direitos da mulher e de combate à violência de gênero;
- Destacaram-se posts celebrativos ao Dia da Mulher, anúncios do governo a respeito de programas de combate à violência de gênero e a repercussão de crimes. O debate específico sobre feminicídio, a exemplo de melhorias na lei vigente, foi disputado entre governo e Centro. No total, foram registrados 120 posts enquadrados nesta discussão no período.
Principais atores no debate parlamentar sobre violência de gênero no Facebook
Período: de 01 de janeiro a 24 de julho
Fonte: Facebook | Elaboração: FGV ECMI
- Parlamentares do PT (28) e de siglas do Centro (12), como MDB, PSD e União, protagonizaram o debate sobre violência de gênero. Nomes da oposição também integraram a discussão, mas em número pouco expressivo (2);
- Dois deputados do PT e do MDB tiveram os maiores índices de engajamento. No entanto, trataram-se de posts únicos e sem vínculo à agenda mais ampla e sistemática protagonizada pelas parlamentares mulheres sobre o tema;
- As deputadas Gleisi Hoffmann (PT), Mara Gabrilli (PSD) e a senadora Soraya Thronicke (União) tiveram o melhor desempenho em termos de pautar a discussão na rede. Avanços do governo em relação aos direitos das mulheres, a composição feminina do Senado e aprimoramentos na lei de feminicídio, respectivamente, foram os temas centrais tratados por essas parlamentares;
- Os deputados Jaques Wagner e Odair Cunha, do PT, também registraram índices de engajamento relevantes. Em geral, seus posts tiveram como foco a divulgação de iniciativas do governo de combate à violência de gênero.
Principais argumentos no debate parlamentar sobre violência de gênero no Facebook
Período: de 01 de janeiro a 22 de julho
Fonte: Facebook | Elaboração: FGV ECMI
- Entre os posts de maior repercussão, existe a ideia recorrente de que o governo Lula teria retomado iniciativas de proteção às mulheres e de ampliação de seus direitos, enquanto o governo de Jair Bolsonaro teria sido um atraso nesta agenda, inclusive com o aumento de casos de violência de gênero. Este argumento é trazido tanto em posts celebrativos, como na ocasião do Dia das Mulheres, como na divulgação de iniciativas do governo nesse sentido, como o Pronasci e a lei de igualdade salarial;
- A denúncia de que a oposição, em especial o PL, estaria praticando violência política de gênero contra parlamentares mulheres também surgiu com destaque. Isso se deve ao fato de seis parlamentares governistas terem sido processadas e denunciadas ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados por declarações proferidas durante a comissão do Marco Temporal indígena. As deputadas denunciaram uma suposta articulação da extrema direita para cassar os seus mandatos e silenciar pautas progressistas, como o combate à violência de gênero, ao racismo, à LGBTQfobia e ao desmatamento ilegal;
- Os avanços jurídicos concernentes à proteção das mulheres e à ampliação de seus direitos constituem uma pauta central na discussão em questão. Medidas para tornar a pena do feminicídio mais severa, protocolos de atendimento a casos de assédio e violência sexual em eventos, a lei de igualdade salarial, ações de combate à pobreza menstrual e aprimoramentos na lei Maria da Penha estão entre os pontos de destaque desta linha argumentativa.
Debate parlamentar sobre violência racial
Evolução do debate parlamentar sobre violência racial no Facebook
Período: de 01 de janeiro a 24 de julho
- Os maiores picos do debate parlamentar sobre violência racial ocorreram nos meses de março e maio. O Dia Internacional para Eliminação da Discriminação Racial, celebrado no dia 21 de março, e a repercussão em torno do caso de racismo contra o jogador de futebol Vinicius Jr., no dia 22 de maio, impulsionaram os picos referidos;
- No total, foram registrados 835 posts de parlamentares sobre a temática racial, o que equivale a um montante 595% maior em relação ao registrado no debate parlamentar sobre violência de gênero no mesmo período. Este debate também foi muito mais disputado politicamente, com forte presença da oposição, que conseguiu alcance relevante ao se apropriar da pauta racial ora com mensagens de repúdio ao racismo, ora com ataques à esquerda.
Principais atores no debate parlamentar sobre violência racial no Facebook
Período: de 01 de janeiro a 24 de julho
Fonte: Facebook | Elaboração: FGV ECMI
- Parlamentares do PT (66) e de siglas do Centro (77), como PSD, União e Republicanos, estiveram em maior número no debate. A oposição, representada pelo PL (22), também teve presença considerável;
- Parlamentares do PT e do PL publicaram o maior número de posts sobre o tema: 439 e 47, respectivamente. No entanto, apesar do número de posts do PT ser quase dez vezes superior, o PL registrou 60,1% a mais de engajamento; Podemos e Rede, do Centro, registraram um engajamento ainda maior: tiveram, ao todo, 291,1% e 66,2% a mais do que o PT;
- Mauricio Marcon (Podemos), Rui Falcão (PT), Carla Zambelli (PL) e Gleisi Hoffmann (PT) registraram os maiores índices de engajamento nesta agenda;
- A diversidade de partidos em destaque e a disparidade em termos de engajamento sinalizam uma alta disputa parlamentar em torno da pauta.
Principais argumentos no debate parlamentar sobre violência racial no Facebook
Período: de 01 de janeiro a 24 de julho
Fonte: Facebook | Elaboração: FGV ECMI
- Como observado no debate sobre violência de gênero, comparações entre os governos de Lula e Bolsonaro foram frequentes: parlamentares governistas ressaltaram que Lula representaria o avanço de pautas progressistas, enquanto o ex-presidente seria racista, homofóbico e misógino. Os parlamentares em questão reconhecem a existência de diferentes modalidades do racismo, como institucional, estrutural e religioso, e ressaltam a importância de desenvolver ações governamentais que combatam o preconceito racial. Posts celebrativos, divulgações de ações institucionais e notas de solidariedade a vítimas de racismo estão entre os posts de destaque;
- Na oposição, circulou a ideia de que o governo Lula teria traído os setores progressistas ao supostamente não priorizar a escolha de mulheres, pessoas negras e LGBTQs para cargos importantes do governo. A oposição vem lançando mão deste argumento desde o final do ano passado, quando Lula começou a anunciar nomes para a equipe de transição do governo. Também teve ampla circulação a ideia de que Bolsonaro teria sido vítima de difamação da esquerda ao ser classificado, entre outros adjetivos, de racista, enquanto Lula seria blindado de ofensas de parlamentares da oposição em decorrência de supostas ameaças de Zeca Dirceu, líder do PT na Câmara dos Deputados;
- Assim como no Centro e no governo, postagens de repúdio a episódios racistas e a divulgação de projetos para criminalizar o racismo foram identificados nos posts da oposição. A despeito dessa semelhança pontual, o argumento de que o racismo seria uma invenção de setores de esquerda circulou de maneira isolada, mas com ênfase, em várias postagens veiculadas no perfil do deputado Hélio Lopes (PL). De caráter negacionista, estas postagens afirmam que o racismo se basearia em estatísticas duvidosas e seria uma falsa narrativa para a obtenção de votos e promoção do caos social. Afirma-se, ainda, que a esquerda objetivaria segregar negros e brancos de modo a estimular uma cultura de ódio e de ressentimento. Ataques a iniciativas de cotas raciais também foram recorrentes por parte do parlamentar.