Dados sobre crimes ambientais viram arma política em disputa sobre desmatamento

Por: FGV ECMI

 

Por: FGV ECMI

 

  • Debate sobre desmatamento é protagonizado por ala da oposição no Twitter: menções à “hipocrisia” e “falta de compromisso” exploram novos recordes de alertas de desmatamento e queimadas;
  • Discussão é polarizada a respeito de qual governo fez e fará mais pelo meio ambiente, com negação de críticas a Bolsonaro e suposições conspiratórias sobre autoridades internacionais e científicas;
  • Destaques positivos para Lula são vinculados à agenda ambiental em âmbito internacional. Tendência de alta parece se repetir em encontros com autoridades europeias, como na Cúpula CELAC-UE;
  • A lei antidesmatamento da UE teve repercussão restrita no debate geral, sendo elogiada por ambientalistas e questionada pela bancada agropecuária, que realizou audiência pública sobre o tema.

 

Duas narrativas antagônicas sobre o combate ao desmatamento no Brasil tiveram alta visibilidade desde o início do governo Lula: enquanto a oposição afirmou que o atual presidente teria demonstrado uma condução desastrosa das políticas ambientais, com base em dados que apontam para recordes de desmatamento ilegal, perfis entusiastas ao governo ressaltaram a habilidade diplomática de Lula para conseguir apoio de outros países no âmbito desta agenda. É o que mostra o levantamento da FGV Comunicação Rio, que analisou publicações no Twitter, Facebook e Telegram, entre 1º de janeiro e 13 de julho.

No Twitter e no Telegram, a oposição ao governo tendeu a dominar a discussão ao sugerir que os “resultados negativos” da atual gestão comprovariam que o ex-presidente Jair Bolsonaro teria sido “injustiçado” por críticos. Por outro lado, também no Twitter e, em maior grau, no Facebook, encontros de Lula com autoridades europeias para tratar de parcerias contra o desmatamento tiveram proeminência. No Telegram, narrativas negacionistas e teorias da conspiração foram identificadas entre as mensagens de maior destaque nesta discussão.

 

Debate geral



Evolução do debate sobre desmatamento no Twitter 

Período: de 01 de janeiro a 13 de julho



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Fonte: Twitter | Elaboração: FGV ECMI

 

  • Notícias de que o desmatamento na Amazônia registrou recordes negativos no governo Lula foram responsáveis pelos maiores picos sobre o tema, em fevereiro e abril. Páginas de mídia tradicional e veículos hiperpartidários de direita, além de atores políticos da oposição, ganharam alta visibilidade com o assunto. No geral, essas notícias foram mobilizadas para combater a ideia de que o governo Bolsonaro teria sido trágico em relação ao meio ambiente e que Lula estaria comprometido com a agenda ambiental;
  • Um caso de guarda irregular de uma capivara também foi mobilizado pela base bolsonarista para criticar a atuação do governo Lula. O episódio motivou ataques virtuais e presenciais ao Ibama, que teve uma de suas sedes invadidas em Manaus. Enquanto a oposição argumentou que a atenção dirigida ao caso teria como objetivo esconder as falhas do governo Lula, ambientalistas, que tiveram proeminência nesta discussão, afirmaram que os ataques seriam uma resposta às operações de combate ao desmatamento;
  • Notícias sobre recordes de desmatamento no Cerrado também tiveram repercussão, sobretudo em veículos hiperpartidários de direita. Após a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, associar esse fato ao governo anterior, parlamentares da oposição reforçaram o coro de que o governo atual estaria tentando esconder uma má condução da seara ambiental;
  • De modo lateral, a atuação internacional do presidente Lula em relação à agenda ambiental e climática também teve destaque, em especial parcerias com países europeus para mitigar o desmatamento ilegal a Amazônia.

 

Principais termos sobre desmatamento no Twitter 

Período: de 01 de janeiro a 13 de julho

nuvem de palavras

 

Fonte: Twitter | Elaboração: FGV ECMI

 

  • Termos como desmatamento na Amazônia e recorde de desmatamento ilustram a disputa de narrativas sobre o cuidado ambiental nos governos Bolsonaro e Lula. Notícias sobre recordes de desmatamento registrados no período foram amplamente mobilizadas pela oposição para reforçar que Lula não teria compromisso com o meio ambiente. Ambientalistas, por sua vez, rebateram essa ideia e ressaltaram conquistas recentes, como a revogação de determinação que facilitava a exploração de madeira em terras indígenas;
  • Ainda teve alto alcance a notícia de que o Ibama se reestruturou no atual governo e voltou a atuar no combate contra o desmatamento. No início do ano, o papel do garimpo ilegal na tragédia humanitária envolvendo os Yanomamis realçou a discussão sobre o desmatamento no governo anterior.

 

 

Principais links do debate sobre desmatamento no Facebook

Período: de 01 de janeiro a 13 de julho

 

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Fonte: Facebook | Elaboração: FGV ECMI

 

  • Veículos de notícias hiperpartidários de direita, portais ambientalistas e sites da mídia tradicional hospedaram os links de maior circulação no Facebook sobre o tema, o que indica uma alta disputa de narrativas acerca do assunto;
  • Enquanto o Jornal da Cidade Online ganhou notoriedade ao classificar a gestão da ministra do Meio Ambiente Marina Silva e do presidente Lula como “incompetente” e criminosa, em referência a recordes de desmatamento em fevereiro, portais ambientalistas como O Eco e Revista Cenarium Amazônia ressaltaram consequências ambientais oriundas do governo Bolsonaro;
  • Em veículos de mídia tradicional e em portais voltados para o agronegócio, teve destaque a notícia sobre restrições de bancos a ruralistas que criam gado em áreas desmatadas ilegalmente na Amazônia. O episódio foi associado ao veto aprovado pelo Parlamento Europeu à importação de produtos de áreas desmatadas ilegalmente, no final de 2020.