Críticas a Gonçalves Dias e Eliziane Gama marcam o debate sobre a CPMI do 8 de janeiro nas redes

Por: FGV ECMI

 

Por: FGV ECMI

 

  • Com o argumento central de que o governo estaria se desgastando e sendo exposto com a CPMI, a oposição soma 58,4% dos perfis e 52% das interações do debate sobre o tema no Twitter;
  • A oposição também teve vantagem expressiva no Facebook, Instagram, YouTube e Telegram, com a narrativa de que o governo cometeu fraudes e esteve por trás dos ataques aos Três Poderes;
  • O depoimento de Mauro Cid, no dia 11 de julho, representou o pico mais notório do debate desde a instalação da CPMI. Neste caso, foi preponderante a posição de perfis progressistas críticos a Cid.
  • Suspeitas de fraude em relatório da Abin também mobilizaram críticas a Lula e Flávio Dino, sendo compreendidas como uma prova de interferência do governo.

 

Com diferentes picos desde a sua instalação, no final de maio, o debate digital sobre a CPMI do 8 de janeiro vêm sendo pautado, majoritariamente, pela oposição ao Governo, com ênfase em parlamentares e veículos de mídia hiperpartidários. É o que mostra o levantamento da FGV Comunicação Rio, que analisou publicações no Twitter, Facebook, Instagram, YouTube e Telegram, entre 25 de maio e 11 de julho.

Críticas de suposta parcialidade da relatoria e denúncias de fraude de evidências em favorecimento do Governo foram ideias dominantes na oposição, assim como protestos contra a prisão de manifestantes antidemocráticos. No debate parlamentar no Facebook, a oposição registrou os maiores índices de engajamento, o que sugere uma certa capilarização desta perspectiva sobre a CPMI na rede.

 



Debate geral



Evolução do debate sobre a CPMI do 8 de janeiro no Twitter 

Período: de 25 de maio a 11 de julho

graficoFonte: Twitter | Elaboração: FGV ECMI

 

  • Desde a sua instalação, em 25 de maio, a CPMI do 8 de janeiro passou por oscilações diversas, sendo uma pauta tratada pelos diferentes campos políticos de maneira episódica e sem um grau de constância. Nesse sentido, nota-se que o debate acerca da Comissão começou de forma bastante disputada, mas, ao longo dos picos observados, houve uma tendência de crescimento da direita; 
  • Entre os motes principais deste campo, destacam-se 1) a noção de que Eliziane Gama estaria favorecendo o Governo em sua relatoria; 2) pedidos para que figuras da esquerda e aliados governistas também fossem convocados; 3) tuítes que defendem que Lula e Flávio Dino estariam interferindo nas investigações, como no caso da suposta adulteração de um relatório da Abin;
  • No dia 11 de julho, o debate voltou a crescer, com o pico mais significativo desde a instalação da CPMI. Com foco no depoimento de Mauro Cid, a discussão foi disputada, mas nota-se um certo domínio de perfis progressistas. Entre estes, repercutem as visitas de Cid na prisão, além de tuítes que comemoram a quebra de sigilo do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. O silêncio de Cid em depoimento não minou esta discussão, com parlamentares como Erika Hilton participando ativamente para vincular o militar a Bolsonaro e assim responsabilizar também o ex-presidente pelo 8 de janeiro.

 

Principais termos sobre a CPMI do 8 de janeiro no Twitter 

Período: de 25 de maio a 11 de julho

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Fonte: Twitter | Elaboração: FGV ECMI

 

  • No primeiro mês, o debate sobre a CPMI no Twitter foi pautado de modo equilibrado entre os diferentes campos políticos. De um lado, perfis progressistas defendem a relevância de uma Comissão “do golpe” e “dos atos golpistas” para investigar a relação entre Bolsonaro e o 8 de janeiro; 
  • Já a direita compartilha assiduamente um suposto relatório da Abin que indica que a ida de Lula a Araraquara, no dia dos atos, foi proposital. A relatora Eliziane Gama, o ministro Flávio Dino e o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, são figuras de destaque nesse primeiro momento, sendo enquadrados de maneira negativa. O mote principal das críticas aponta para a suposta parcialidade destes atores, que estariam tentando enviezar a CPMI; 
  • A partir do segundo mês, Mauro Cid passa a ocupar um lugar de centralidade na discussão. Disputado, o debate apresenta tentativas diversas, tanto de responsabilizá-lo, quanto de indicar que Cid estaria sendo injustiçado pela esquerda. Entre os motes discutidos, destacam-se as visitas recebidas por Cid na prisão, além de tuítes que defendem que o silêncio do tenente-coronel em depoimento à Comissão já qualifica atitude incriminatória.

 

Mapa de interações sobre o tema no Twitter

Período: de 25 de maio a 11 de julho | Quantidade de publicações: 194,9 mil

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Fonte: Twitter | Elaboração: FGV ECMI

 

Direita (azul) - 52,6% de perfis | 48,5% de interações 

Assim como observado em levantamento sobre a CPI do MST, o debate sobre a CPMI do 8 de janeiro conta com a centralidade da direita. Com nomes como @caroldetoni e @bolsonaroSP, chama a atenção a relevância da página @SpaceLiberdade entre o grupo. Na discussão, o cluster adere a estratégia de compartilhar vídeos com declarações gravadas durante as sessões da CPMI, trazendo desdobramentos que apontam para uma narrativa principal: a de que o governo estaria se desgastando com a Comissão. Destacam-se ataques à relatora por suposta parcialidade, elogios aos senadores de direita e posts que retratam um tratamento tido como desumano contra os presos do 8 de janeiro. Todos caminham para explicitar que a “a verdade sobre os fatos” estaria vindo à tona. 

Esquerda (vermelho) - 39,5% de perfis | 47,1% de interações 

Estratégias similares podem ser mapeadas entre o cluster da esquerda, com circulação de vídeos com trechos da CPMI, além de tuítes que apontam para a noção de que a Comissão estaria revelando verdades importantes. Neste grupo, parlamentares têm atuação central, com ênfase em @RogerioCorreia_ e @ErikaHilton, disseminando críticas a figuras específicas, como o ex-diretor da PRF, Silvinei Vasques, pela condução das tropas no segundo turno das eleições. Outros atores também são criticados, como o coronel Jean Lawand e Mauro Cid, mas este repúdio figura de modo bastante lateral e pouco significativo. 

Perfis conservadores (azul claro) - 5,8% de perfis | 3,5% de interações 

Chama a atenção a criação de um cluster que, contando com perfis conservadores diversos, apresenta uma característica principal: elogios à participação da deputada Paula Belmonte. Entre os tópicos salientados pelo cluster, destaca-se o endosso a críticas contra o ministro Flávio Dino por, supostamente, ter tido a intenção de “tomar o GSI do Exército” e sabotar documentos enviados ao Gabinete. Afirma-se, em tom de comemoração, que a deputada estaria permitindo a abertura de uma nova linha de investigação na CPMI. 

 

Principais links do debate sobre a CPMI do 8 de janeiro no Facebook

Período: de 25 de maio a 11 de julho

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Fonte: Facebook | Elaboração: FGV ECMI

 

  • No geral, os links mais compartilhados no Facebook privilegiam a perspectiva da oposição. Matérias veiculadas no Gazeta do Povo e na Jovem Pan News, por exemplo, noticiam supostas evidências de que houve conivência de órgãos do governo pelos ataques do 8 de janeiro, em especial o GSI. A figura do ex-presidente Jair Bolsonaro também teve destaque, com abordagens distintas: ora sendo ressaltado o seu endosso à realização da CPMI, ora sendo apontado como o principal suspeito pelos ataques.

 

Debate parlamentar sobre a CPMI do 8 de janeiro no Facebook 

Período: de 25 de maio a 11 de julho

Total de publicações: 549

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Fonte: Facebook | Elaboração: FGV ECMI

 

  • No Facebook, embora a ala governista tenha produzido uma quantidade superior de posts sobre a CPMI, os parlamentares da oposição lideraram o debate com folga em decorrência do alto engajamento obtido por suas publicações. Em termos de alcance na rede, Mauricio Marcon (PODEMOS-RS), André Fernandes (PL-CE), Bino Nunes (PL-RS), Carla Zambelli (PL-SP) e Filipe Barros (PL-PR) foram nomes centrais no âmbito deste debate. Da base governista, Gleisi Hoffmann (PT-PR), Carlos Zarattini (PT-SP) e Erika Hilton (PSOL-SP) tiveram maior destaque.
  • Entre os parlamentares envolvidos na discussão, 48 são da ala governista, 38 são da oposição e 23 do Centro. O PT e o PL foram os partidos com maior número de publicações, com 227 e 164 posts respectivamente. Em termos de engajamento, o Podemos e o PL registraram os maiores índices. Marcon, por exemplo, teve 88% a mais de engajamento do que Hoffmann, que registrou o maior índice da categoria na ala governista, o que indica uma forte capilarização da narrativa da oposição no Facebook em relação à CPMI.

 

Principais posts sobre a CPMI do 8 de janeiro no Instagram

Período: de 25 de maio a 11 de julho

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Fonte: Instagram | Elaboração: FGV ECMI

 

  • A oposição ao governo domina o Instagram com larga vantagem, contando com a articulação entre parlamentares e veículos de mídia hiperpartidários. Chama a atenção o potencial destes grupos, quando articulados entre si, em pautar o debate. Na discussão, Gonçalves Dias tem destaque, com posts que indicam que o ex-GSI estaria colaborando para esconder a participação do governo no 8 de janeiro. Outros tópicos de relevância, como o depoimento de Mauro Cid, os ataques contra as deputadas Sâmia Bomfim e Erika Hilton ou as críticas contra a relatora Eliziane Gama, não obtiveram destaque; 
  • Já a base governista não demonstra articulação nesta plataforma, obtendo destaque muito inferior à direita. Sem a centralidade de atores diversos, este grupo conta com a participação mais ativa de páginas ativistas, como Mídia Ninja e Seremos Resistência. O foco aqui foi o repúdio aos ataques contra Sâmia Bomfim e Erika Hilton, além de posts que vinculam aliados de Bolsonaro ao 8 de janeiro. Não foram mapeados indícios de mobilização articulada contra uma figura específica. 

 

Principais vídeos sobre o tema no YouTube

Período: de 25 de maio a 11 de julho

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Fonte: YouTube | Elaboração: FGV ECMI

 

  • A oposição dominou o debate em termos de vídeos de alta circulação no YouTube. Predominaram vídeos com compilados de falas “lacradoras” dos parlamentares durante as sessões da CPMI, especialmente de Nikolas Ferreira. Com cortes fora de contexto e que privilegiam momentos em que o deputado teria “esculachado” e “vencido” seus adversários, esses vídeos tiveram ampla inserção no debate, assim como momentos de “bate-boca” entre parlamentares. Análises políticas que privilegiaram a perspectiva da oposição também se destacaram, especialmente do canal Te Atualizei.

 

Mensagens mais compartilhadas sobre o tema no Telegram

Período: de 25 de maio a 11 de julho

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Fonte: Telegram | Elaboração: FGV ECMI

 

  • Como nas demais plataformas analisadas, o debate no Telegram foi dominado pela oposição. O argumento central foi de que a CPMI estaria sendo fraudada para beneficiar o governo e prejudicar e criminalizar a base de apoio do ex-presidente Bolsonaro;
  • Tiveram destaque críticas de parcialidade à relatora Eliziane Gama, apontamentos de fraudes em relatórios da Abin por parte de Gonçalves Dias e supostas denúncias de que os ataques teriam sido conduzidos por infiltrados ligados ao governo.