Possível despedida de X no Brasil gera comoção entre usuários, que enxergam plataforma como “insubstituível”
Por: FGV Comunicação Rio
Por: FGV Comunicação Rio
- Entre lamentos e postagens de indignação, os usuários repercutem possíveis desdobramentos da decisão do ministro Alexandre de Moraes e o fim do antigo Twitter no Brasil;
- Nesse escopo, usuários do X compartilham tutoriais para acesso à plataforma por VPN ou divulgam outras redes como alternativas;
- Enquanto opositores enxergam a ação de Moraes como mais uma tentativa de “censura” e um “atentado” à liberdade de expressão, apoiadores reforçam a necessidade de regulação das plataformas.
No dia 28 de agosto, o STF intimou Elon Musk e a rede social X a indicarem uma representação legal no Brasil em 24 horas, sob pena de suspensão da plataforma. A postagem da corte na rede social já conta com mais de 2 milhões de visualizações. O evento situa-se na intersecção do debate entre tecnologia, liberdade de expressão e jurisdição legal em um contexto de plataformas digitais e foi monitorado pela FGV Comunicação Rio nos dias 28 e 29 de agosto, no próprio X e no Facebook e Instagram.
No período em análise, além das expressões de lamento, comemorações, descrença sobre a possibilidade da plataforma ser bloqueada no Brasil, e tutoriais de como usar VPN para driblar o bloqueio, destacam-se declarações de Musk afirmando que Moraes será preso, bem como de parlamentares sugerindo que a decisão do ministro não é técnica. Predomina, assim, a narrativa de “ditadura”, com menções a “dias sombrios” de censura e atentado à liberdade constitucional.
Debate geral sobre o X
Nuvens de termos sobre o caso no X
Fonte: X | Elaboração: FGV ECMI
A maioria das menções ao possível encerramento do X transborda o debate mais político em torno das figuras de Alexandre de Moraes e Elon Musk, mobilizando sentimentos coletivos de lamentação, nostalgia e incredulidade. Chamando a rede social por seu nome antigo, Twitter, os posts em tom afetivo indicam que não há outra rede que possa substituí-la, devido à sua cultura de uso ágil e teor confessional.
Na esteira de classificar o X como “insubstituível”, há uma mobilização por parte dos usuários para que “aproveitem até o último segundo” as possibilidades da plataforma, sublinhando, principalmente, a circulação de conteúdo pornográfico e a confecção de posts em tom de reclamação. Dentro dessa movimentação, vários perfis compartilham também capturas de tela para relembrar o que chamam de “grandes momentos do Twitter” – geralmente episódios que envolveram o engajamento de vários perfis em torno de uma polêmica ou um conteúdo viral.
Mesmo assim, parte considerável dessa discussão é formada por uma tentativa de fidelizar seguidores, convidando-os para migrarem para outras plataformas, sobretudo, canais no YouTube e perfis no Instagram, Blue Sky e Reddit. Sentimentos negativos podem ser mapeados nas menções ao Threads, com perfis reclamando sobre “serem obrigados” a entrar na rede. Uma parte minoritária não acredita que o X será encerrado, indicando que se trata de apenas mais um capítulo das várias polêmicas que conformam o cenário brasileiro.
Embora a mobilização destes sentimentos e opiniões seja majoritária, também podem ser mapeados posts mais políticos sobre o tópico. Entre estes, prevalecem críticas a Alexandre de Moraes, além da noção de que o Brasil estaria se juntando a uma série de outros países autoritários, como Coréia do Norte e Rússia, na lista de países onde a plataforma é proibida.
Plataformas mais mencionadas
Período: 28 e 29 de agosto de 2024
Base total de dados: 5,3 milhões de posts | Amostra: 46.755 posts
Fonte: X | Elaboração: FGV ECMI
Posts que mencionam possíveis migrações para outras redes que se assemelham ao. X estiveram em destaque na plataforma, especialmente a Threads (18.467 menções), da Meta, e Bluesky (16.306). Koo (6.090), Reddit (2.161) e Mastodon (392) também foram redes observadas em termos de menções no X.
É interessante pontuar postagens de links para acompanhar determinados perfis em outras redes, para além das plataformas citadas, desde apps móveis como Telegram e WhatsApp ao Instagram. Os usuários do X se dividem entre questionar sobre qual plataforma aderir diante de um possível bloqueio da ferramenta e afirmar que isso se trata de uma inverdade, uma vez que outras tentativas de bloqueio anteriores não teriam sido efetivadas.
As menções ao Threads foram numerosas, mas não representam necessariamente um indício de adesão dos usuários do X, uma vez que foram identificadas diversas críticas às funcionalidades da ferramenta e referências ao X ser insubstituível.
Menções ao caso em outras redes
Posts em destaque no Instagram e Facebook
Período: 28 e 29 de agosto de 2024
Fonte: Instagram e Facebook | Elaboração: FGV ECMI
A repercussão do debate sobre o possível bloqueio do X no Brasil no Instagram e no Facebook obedeceu a uma tendência semelhante: em ambas as redes, foi registrado alcance notório de perfis de mídia tradicional e hiperpartidária de direita e atores políticos alinhados à oposição ao governo, em particular aqueles vinculados ao ex-presidente Jair Bolsonaro e à operação Lava-Jato.
As ideias de censura, abuso de poder e ataque à liberdade de expressão são evocadas especialmente nos posts de parlamentares, que criticam o Judiciário e Alexandre de Moraes em específico. Eduardo Bolsonaro, Luiz Philippe de Orleans, Julia Zanatta, Marcel van Hattem e Kim Kataguiri se destacaram neste grupo.
É interessante apontar a centralidade obtida pelo ex-deputado federal Deltan Dallagnol, vinculado à Lava-Jato, no debate. Entre todos os perfis considerados, foi de Dallagnol o primeiro post com mais interações sobre o tema no Instagram, e o terceiro no Facebook. Além de atribuir a Moraes uma postura alegadamente autoritária e criminosa, Dallagnol afirma que o ministro também pretende “destruir” a empresa Starlink, de Elon Musk, o que prejudicaria o acesso à Internet em lugares como a Amazônia. O posicionamento do senador Sergio Moro também reverberou no debate, mas lateralmente e a partir de posts de veículos de notícias.