Parlamentares da oposição ganham destaque ao politizar debate sobre eleições argentinas
Por: FGV ECMI
Por: FGV ECMI
- Para além de comparações com Lula e Bolsonaro, polarização da discussão sobre eleições vizinhas se expressou também no debate parlamentar, com alto grau de envolvimento de nomes da oposição;
- Acusações de fraude com supostas intervenções de autoridades brasileiras foram recorrentes, como Lula, Alexandre de Moraes e Carmen Lúcia, que teve 714% de menções a mais do que o ministro;
- Sergio Massa teve melhor receptividade no X, impulsionado por comparações positivas com Lula, enquanto Javier Milei obteve mais destaque no Facebook, em páginas ligadas à extrema-direita.
Após o primeiro turno das eleições argentinas, a polarização do debate sobre o pleito vizinho se expressou pelo envolvimento significativo de parlamentares brasileiros da oposição que politizaram o evento, além de comparações dos candidatos com Lula e Bolsonaro. É o que mostra estudo da FGV Comunicação Rio, que analisou postagens sobre o sufrágio no X e no Facebook, entre 22 de outubro e 6 de novembro.
Enquanto as comparações entre Lula e Sergio Massa foram marcadas pelo suposto envolvimento desses políticos com práticas de corrupção e com a criminalidade de maneira geral, as comparações entre Bolsonaro e Milei tiveram como enfoque relações escusas com o crime organizado e o apoio deliberado ou alegado às ações das ditaduras militares ocorridas em seus respectivos países.
Debate sobre as eleições Argentinas no Brasil
Evolução de menções ao tema no X
Período: de 23 de outubro a 6 de novembro de 2023
Fonte: X | Elaboração: FGV ECMI
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A divulgação do resultado do primeiro turno no dia 23 de outubro gerou o maior pico de menções ao tema. A alta foi impulsionada, sobretudo, pelas várias manifestações de surpresa a respeito da liderança do candidato Sergio Massa, resultado que dividiu os campos políticos. Na data, as comemorações do campo progressista ficam em maior destaque;
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Dois episódios específicos ficam em proeminência e geram maior número de comentários. No dia 30, os registros audiovisuais de longas filas de carros em Buenos Aires foram explorados em posts de apoiadores de Milei no Brasil, como o deputado Eduardo Bolsonaro. Já no dia 1º de novembro, alegações de supostos vínculos entre a família de Alberto Lynch, aliado de Milei, e um grupo de narcotráfico, circulam entre críticos do político;
- Em todo o período, chama a atenção o alto envolvimento e participação de atores políticos de relevância no Brasil. Logo após o primeiro turno, no dia 23, o senador Humberto Costa, por exemplo, se destacou, assim como posts em resposta ao senador Flávio Bolsonaro. Em todo o período, das 28.750 publicações mapeadas, cerca de 9,2 mil fazem referência a Lula ou a Bolsonaro, explicitando como o debate sobre as eleições na Argentina aparecem associados ao contexto brasileiro.
Principais termos sobre o tema no X
Período 1: de 23 a 30 de outubro de 2023
Fonte: X | Elaboração: FGV ECMI
- No X, apoiadores de Massa e, em geral, de Lula, tiveram maior protagonismo nos dois períodos do debate. Comparações entre Milei e o ex-presidente Jair Bolsonaro foram expressivas em ambas as nuvens de termos e tiveram um caráter majoritariamente crítico, com menções numerosas também ao deputado federal Eduardo Bolsonaro, que fez campanha ativa para Milei antes do primeiro turno. Ao todo, foram registradas 14,3 mil menções ao ex-presidente no X, enquanto o seu filho foi mencionado 4,8 mil vezes;
- Nesse sentido, termos como “genocídio”, “roubo”, “economia”, “fascismo” e “vergonha” foram mobilizados para pautar comparações negativas entre Bolsonaro e Milei, especialmente em decorrência de suposta associação entre Milei e um ex-general da ditadura argentina, Antonio Domingo Bussi.
- No período pós-primeiro turno, teve ampla circulação em perfis progressistas a notícia de que Milei teria ligação com a família Benegas Lynch, acusada de envolvimento com mercado financeiro paralelo e narcotráfico. Além disso, o assunto da guerra entre Israel e Palestina foi relacionado às eleições argentinas, de maneira pontual, em decorrência de postagens que denunciam boicote a candidaturas de esquerda no país, ao exemplo de Myriam Bregman.
Evolução de posts e interações sobre o tema no Facebook
Período: de 23 de outubro a 6 de novembro de 2023
Total de posts: 1.833 | Total de interações: 318.410
Fonte: Facebook| Elaboração: FGV ECMI
- No Facebook, foram registrados 1.833 posts sobre as eleições da Argentina após o resultado do primeiro turno, com um total de 318.410 interações. É interessante observar que quatro dos dez posts de maior destaque, publicados por parlamentares ou influenciadores da extrema-direita, recorreram à narrativa de fraude nas urnas e de interferência de Lula e do Judiciário brasileiro nas eleições, com menções a nomes como os ministros do STF Alexandre de Moraes e Cármen Lúcia.
- É interessante observar que um número expressivo de parlamentares brasileiros repercutiram o pleito argentino e tiveram destaque importante no Facebook. Nesse sentido, parlamentares que manifestaram apoio a Milei e a Bolsonaro tiveram alcance significativamente mais expressivo, como Gustavo Gayer, Carla Zambelli, Eduardo Bolsonaro, Carlos Jordy e Marcel van Hattem. A tônica geral é de que Sergio Massa representaria o “projeto de poder de destruição da esquerda e do atual governo”, conforme argumentou Jordy. Com menor alcance, nomes governistas, como Gleisi Hoffmann, manifestaram entusiasmo com o resultado favorável a Massa.
- Detentor do post de maior destaque, o deputado federal Gustavo Gayer publicou vídeo no qual sugere que o resultado repetiu a suposta fraude ocorrida no Brasil e que o segundo turno deverá ocorrer da mesma forma, com um alegado resultado falso apertado e favorável à esquerda. Já o influenciador Deycon Silva, que publicou o terceiro post de maior destaque, ressaltou que o STF teria sido alvo de manifesto internacional por supostas acusações de censura no Brasil.
- Em ambos os posts, o fato de Sergio Massa ter vencido o primeiro turno tendo sido ministro da Economia diante de taxas de inflação altas foi tratado como uma “evidência” da suposta fraude em andamento nas eleições argentinas.
- Uma alegada fake news a respeito de Lula ter obtido a maioria dos votos entre presidiários nas eleições de 2022 circulou adaptada para o caso de Massa, por meio de post do senador Magno Malta. Segundo o site Infobae, que que teria se baseado em dados da Câmara Eleitoral Nacional, Massa teria registrado mais de 70% dos votos de presidiários argentinos, o que foi mobilizado como “prova” de que o candidato seria um criminoso em potencial.
Eixos potencialmente desinformativos sobre o tema
Período: de 23 de outubro a 6 de novembro de 2023
Fonte: X e Facebook | Elaboração: FGV ECMI
- Ao menos 3.212 publicações no X fizeram associações entre o Judiciário brasileiro e as eleições argentinas, sejam instituições, como o STF, ou autoridades, como os ministros deste Tribunal, especialmente Cármen Lúcia e Alexandre de Moraes. É interessante observar que Lúcia teve cerca de 714% de menções a mais do que Moraes, tendo em vista que a ministra foi acusada em diversas mensagens de ter sido enviada pelo STF e pelo governo brasileiro à Argentina para supostamente interferir no pleito vizinho.
- Embora as associações entre Lula e Sergio Massa tenham sido, em geral, positivas, acusações de envolvimento desses políticos com práticas de corrupção e com a criminalidade de maneira geral foram recorrentes no polo crítico à esquerda. Teve destaque, por exemplo, a notícia, compartilhada por autoridades como o senador Magno Malta, de que Massa teria recebido mais de 70% dos votos registrados em presídios, alegado fato que se assemelha ao argumento utilizado em campanha de Jair Bolsonaro, após o primeiro turno com Lula, de que o petista teria sido o mais votado entre detentos.
- Comparações entre Bolsonaro e Milei em relação a envolvimento alegado ou declarado com criminosos também foram observadas com recorrência. Nesse sentido, Milei foi acusado de ser conivente com as violências cometidas durante a ditadura militar, em decorrência de associação ao ex-general da ditadura argentina Antonio Domingo Bussi, e de envolvimento com o crime organizado, por conta da aproximação com a família Benegas Lynch. Esses argumentos foram associados à reverência declarada de Bolsonaro pelos crimes da ditadura e ao suposto envolvimento de sua família com milicianos.
- No X, foram registradas acusações da base de apoiadores de Jair Bolsonaro de que Lula estaria se articulando politicamente de maneira enfática para prejudicar a candidatura de Milei. No Facebook, circulou com destaque em diferentes páginas a informação de que a imprensa argentina teria divulgado provas de que isso teria ocorrido. Foi dito ainda que, por outro lado, Milei e Jair Bolsonaro estariam se articulando para remover Lula do cargo de presidente do Brasil.