Mobilizações recentes de debates sobre aborto, casamento homoafetivo e banheiros sem gênero definido sugerem mobilização da oposição
Por: FGV ECMI
Por: FGV ECMI
- No mês de setembro, foi observado um alto envolvimento de atores políticos e religiosos de oposição ao governo nos temas, sugerindo centralidade na agenda do campo conservador;
- Postagens sobre a atuação do STF e seus ministros tiveram destaque nos debates sobre aborto e casamento homoafetivo, com críticas advindas de parlamentares, como o deputado Nikolas Ferreira;
- À exceção da tentativa de proibição do casamento homoafetivo, cujo debate teve uma maioria de comentários progressistas, os demais temas foram dominados por abordagens conservadoras.
No fim de setembro, a oposição ao governo se mobilizou de maneira expressiva, no Facebook e no Instagram, a respeito dos debates sobre a descriminalização do aborto, a proibição do casamento homoafetivo e a suposta instauração de banheiros sem gênero definido. Os três temas tiveram picos expressivos, praticamente de maneira simultânea, na ocasião de votações no âmbito da Câmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal. Atores políticos e líderes religiosos se destacaram entre as páginas de maior influência nesses debates. É o que mostra estudo da FGV Comunicação Rio, que analisou o debate digital sobre os temas no Facebook e no Instagram, entre 1º de julho e 25 de de setembro de 2023.
Debate sobre a descriminalização do aborto
Evolução de número de postagens no Facebook e no Instagram
Período: de 1º de julho a 25 de setembro
Fonte: Facebook e Instagram | Elaboração: FGV ECMI
- O debate mais volumoso entre os três temas analisados foi a descriminalização do aborto. O Facebook e o Instagram registraram 3.421 e 2.642 posts sobre o assunto, respectivamente. Em ambas as redes, manifestações contra o aborto foram preponderantes. No Facebook, com teor mais político, as postagens orbitaram em torno do ex-presidente Jair Bolsonaro - desde a página oficial do político a páginas de apoio e de correligionários. Já no Instagram, houve um marcado tom religioso, com posts publicados sobretudo por lideranças e páginas evangélicas e católicas;
- O maior pico do debate em ambas as redes foi a votação a respeito da pauta no âmbito do Supremo Tribunal Federal, no dia 22 de setembro. O tópico foi levantado com destaque pelo ex-presidente Bolsonaro e por deputados federais, como Eduardo Bolsonaro, Bia Kicis e Filipe Barros. No Facebook, ainda tiveram destaque postagens que repercutiram a Manifestação Pró-vida, que ocorreu em frente ao STF, no dia 14 de setembro. A presença de parlamentares no evento, como o deputado federal Nikolas Ferreira, foi mobilizada como modo de legitimar a ação dos manifestantes;
- No Instagram, postagens com imagens de fetos e bebês chorando, acompanhadas de textos contra o aborto, circularam com destaque em perfis de lideranças religiosas, como o pastor André Valadão e o padre Paulo Ricardo. A ministra do STF, Rosa Weber, também apareceu de forma recorrente na rede, tanto em perfis de veículos de comunicação - da mídia tradicional ou progressista - quanto em perfis de caráter religioso, nos quais foi classificada como “contra a vida”.
Posts de destaque no Facebook e no Instagram
Período: de 1º de julho a 25 de setembro
Fonte: Facebook e Instagram | Elaboração: FGV ECMI
Debate sobre a proibição do casamento homoafetivo
Evolução de número de postagens no Facebook e no Instagram
Período: de 1º de julho a 25 de setembro
Fonte: Facebook e Instagram | Elaboração: FGV ECMI
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O adiamento da votação do projeto de lei que objetiva proibir o casamento homoafetivo configurou o maior pico do debate tanto no Facebook quanto no Instagram - redes que registraram, respectivamente, 2.827 e 2.129 postagens sobre o tópico. Em relação aos campos políticos, o debate foi mais disputado do que a discussão sobre a discriminalização do aborto. Enquanto no Facebook ele tendeu ao equilíbrio, entre postagens contra e a favor do casamento homoafetivo, no Instagram a predominância foi de postagens a favor da união entre pessoas do mesmo sexo;
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Declarações do deputado federal Nikolas Ferreira contra o casamento homoafetivo e com críticas à abordagem dessas pautas no STF tiveram alto alcance no debate do Facebook. Em contrapartida, o discurso da deputada federal Erika Hilton teve repercussão mais capilarizada em ambas as redes, em postagens críticas à tentativa de proibição do casamento homoafetivo. Foi apontado com frequência que os deputados que propuseram a votação teriam cometido um crime de homofobia. A denúncia de ato de transfobia contra Hilton no Parlamento também teve alto alcance.
Posts de destaque no Facebook e no Instagram
Período: de 1º de julho a 25 de setembro
Fonte: Facebook e Instagram | Elaboração: FGV ECMI
Debate sobre banheiros sem gênero definido
Evolução de número de postagens no Facebook e no Instagram
Período: de 1º de julho a 25 de setembro
Fonte: Facebook e Instagram | Elaboração: FGV ECMI
- A questão dos banheiros sem gênero definido teve a menor repercussão entre os três temas analisados, com 616 postagens no Facebook e 545 no Instagram. Diferentemente dos outros casos, praticamente não houve menções a esta discussão até o dia 22 de setembro, quando a oposição passou a afirmar que o governo Lula teria determinado a criação de “banheiros unissex” em escolas. Apesar do volume desse debate ser menor do que os demais tópicos observados neste relatório, ele ainda é bastante significativo, visto que foi concentrado em poucos dias;
- A discussão pode ter sido potencializada pela articulação da oposição ao governo em torno dos debates da proibição do casamento homoafetivo e da descriminalização do aborto, cujos picos ocorreram no mesmo período. A deputada federal Julia Zanatta, por exemplo, afirmou em post no Instagram que já estava em frente ao STF para uma oração contra o aborto quando soube do caso, o que fez com que ela acrescentasse a suposta medida do governo Lula à sua agenda de manifestações contra o governo;
- Entre os argumentos da oposição, está um suposto conluio entre o governo Lula e o Judiciário, especificamente na figura do ministro Alexandre de Moraes. Persiste a ideia de que o presidente do TSE e ministro do STF teria facilitado a eleição de Lula no pleito presidencial de 2022 e que, agora, estaria facilitando uma agenda político-ideológica de apoio a causas como drogas, aborto e “banheiro unissex”.
Posts de destaque no Facebook e no Instagram
Período: de 1º de julho a 25 de setembro
Fonte: Facebook e Instagram | Elaboração: FGV ECMI