Mês do Orgulho: mapeamento do debate on-line em torno da 28ª Parada do Orgulho LGBT+
Por: FGV Direito Rio
Por: FGV Direito Rio
- Na análise das publicações realizadas durante o Mês do Orgulho no Facebook, Instagram, X (antigo Twitter) e YouTube, os assuntos mais abordados foram: a retomada pela população LGBT+ de símbolos nacionais, como as cores verde e amarela e a camisa da seleção brasileira; a ressignificação do conceito de família e a celebração dos direitos LGBT+. Desinformação e ataques a personagens políticos foram mais recorrentes no X do que nas demais plataformas.
- No Facebook e Instagram, prevaleceram postagens informativas acerca da Parada do Orgulho, destacando a programação e a presença de personagens relevantes para o cenário LGBT+. Em ambas as plataformas, mais de 90% do engajamento total foi concentrado por 10 perfis de mídia.
- No X, houve uma maior distribuição do engajamento entre os perfis: enquanto os 10 perfis com maior interação, juntos, obtiveram 39% do engajamento total em 42 postagens, os outros 27.303 usuários dividiram os 61% de interações restantes em 45.397 posts na rede.
- No YouTube, além de conteúdos celebrando a parada LGBT+, canais de diversos perfis publicaram vídeos que relacionavam o evento à disputa política para prefeitura de São Paulo, abordando de maneira mais aprofundada os significados da presença e ausência de representantes políticos, tanto da direita quanto da esquerda.
Apresentação
No dia 2 de junho de 2024, aconteceu a 28ª Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo com o tema “Basta de negligência e retrocesso no Legislativo: vote consciente por direitos da população LGBT+”. O evento, que ocorre anualmente, representa um espaço importante para visibilizar a luta da população LGBT+ e mobiliza diferentes setores da sociedade brasileira em torno de diversas pautas, como a garantia do exercício de direitos, o reconhecimento da diversidade de identidades de gênero e sexualidade, críticas ao arranjo heteronormativo da família tradicional, entre outras.
Neste relatório, analisamos o panorama do debate on-line sobre o evento nas plataformas Facebook, Instagram, X (antigo Twitter) e YouTube. O objetivo da pesquisa foi produzir um mapeamento das principais discussões que despontaram a partir da realização da 28ª Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo e se desenvolveram no decorrer do mês de junho de 2024.
Metodologia
Este relatório foi elaborado a partir de um conjunto de dados que incluem postagens do Instagram, Facebook e X (antigo Twitter) e vídeos publicados no YouTube, no período de 01 a 30 de junho de 2024. O recorte temporal escolhido, conhecido como “Mês do Orgulho LGBT+”, compreende a realização da 28ª Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, no dia 02 de junho, e o próprio Dia do Orgulho LGBT+, comemorado no dia 28.
Utilizando uma sintaxe de busca orientada por expressões e hashtags relacionadas à realização da Parada LGBT+ e ao contexto do Mês do Orgulho, foram extraídos 45.439 postagens do X e 432 vídeos do YouTube sobre o tema, independentemente do tipo de perfil que realizou tais publicações. Além disso, também foram extraídas 261 postagens do Facebook e 144 postagens do Instagram, realizadas especificamente por veículos de mídia. Com esse recorte para Facebook e Instagram mantivemos uma coesão temática mais precisa tendo em vista especificidades das plataformas e da coleta de dados a partir de palavras-chave, como “parada”, “homofobia”, “viado” etc., que nem sempre performam e entregam os mesmos resultados em todas as redes.
Durante a análise preliminar, identificamos um pequeno número de postagens residuais que eventualmente fugiram da temática. Por isso, foram descartadas do número inicial 49 postagens do Facebook, 37 do Instagram e 382 do X. Para o YouTube o número total de vídeos não sofreu alteração. Assim, as análises deste relatório exploram o contexto geral de 212 postagens do Facebook publicadas por 107 perfis de mídia; 107 postagens do Instagram de 61 perfis, também de mídia; 45.439 postagens realizadas no X por 27.313 usuários em geral (sem distinção de perfil); e 432 vídeos publicados no YouTube por 281 canais (também sem distinguir previamente os perfis).
Além de tratar das métricas gerais sobre todas as postagens, este relatório também compreende os resultados de uma análise qualitativa em profundidade das 10 publicações com maior interação em cada uma das quatro plataformas. As medidas de engajamento utilizadas foram:
- No Facebook, o total de interações abrange a soma de likes, comentários, compartilhamentos e reações.
- No Instagram, o total de interações compreende a soma de likes e comentários; como havia um post com o mesmo conteúdo entre aqueles com maior interação nessa rede, ele foi substituído pelo seguinte da lista.
- Para a plataforma X (antigo Twitter), o total de interações corresponde à soma de likes, retweets e replys.
- No YouTube, o número total de visualizações é que foi utilizado como métrica para maior interação; dos 10 primeiros vídeos, apenas 1 não mencionou a Parada e foi substituído.
A elaboração das categorias utilizadas no relatório foi feita a partir dessa análise qualitativa. As categorias são: (i) símbolos nacionais em disputa; (ii) família; (iii) celebrando a diversidade e; (iv) outras narrativas: políticos e a Parada do Orgulho. Nessa análise, foram observados os temas com maior recorrência e relevância para os perfis de mídia e outros usuários que abordaram a Parada do Orgulho em suas postagens. Em um segundo momento, a análise buscou compreender o modo como cada tema aparece em cada plataforma.
- Mês do orgulho nas redes
I. Evolução temporal das publicações nas redes
O gráfico abaixo mostra a evolução das publicações realizadas ao longo de todo o mês de junho, conhecido como “Mês do Orgulho LGBT+” nas quatro plataformas.
Gráfico 1: Linha do tempo das publicações no Facebook, Instagram, X e YouTube
Fonte: X | Elaboração: FGV Direito Rio
- Analisando a linha do tempo do Facebook, Instagram, X e YouTube, é possível identificar que o maior pico de publicações ocorreu logo no dia 02 de junho, data de realização da 28ª Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo. Foram 81 posts publicados no Facebook, 32 no Instagram, 18.273 no X e 88 vídeos no YouTube apenas nesse dia. Juntas, essas publicações correspondem a 40% das postagens recolhidas nas quatro plataformas.
- O pico mais discreto de publicações no X, no dia 13 de junho, compreende as postagens fazendo referência a uma suposta “Parada do Orgulho da Família” na Sérvia. Nessa data, a principal mobilização do assunto ocorreu em perfis conservadores que se opõem aos direitos das pessoas LGBT+. Nas demais redes, o conteúdo foi diluído no decorrer do mês com postagens pelos perfis de mídia no Facebook e Instagram, e vídeos no YouTube, em datas não necessariamente comemorativas.
- Nas quatro plataformas, outro pico, menor que os primeiros, pode ser observado no dia 28 de junho. A data marca o Dia do Orgulho LGBT+ e em todas as redes foram realizadas postagens sobre o tema, com teor majoritariamente de celebração e memória da luta pelos direitos da comunidade LGBT+.
II. Engajamento dos perfis no Facebook, Instagram e X
O gráfico 2 mostra o total de interações nas plataformas Facebook, Instagram e X, com destaque para os 10 principais perfis responsáveis pelas publicações.
Gráfico 2: Principais perfis segundo o total de interações no Facebook, Instagram e X
Fonte: Facebook, Instagram e X | Elaboração: FGV Direito Rio
- As 212 postagens do Facebook e 107 do Instagram foram publicadas, respectivamente, por 107 e 61 perfis de mídia. É possível observar uma diversificação dos 10 perfis com maior engajamento em cada uma das redes, sendo os perfis Mídia Ninja, g1 e Terra os únicos que aparecem em ambas as listas. No Facebook e Instagram, o Mídia Ninja ficou em primeiro lugar com, respectivamente, 16,98% e 33,87% das interações. Em seguida, no Facebook aparecem UOL (16,17%), Terra (16%) e g1 (13,50%). Já no Instagram, o g1 ficou em segundo lugar, com 28,31% das interações, seguido pelo Terra, com 13,49%.
- No Facebook, 90,04% do engajamento gerado por todas as postagens na plataforma foi concentrado pelos 10 perfis no topo da lista. Os outros 97 veículos de mídia que publicaram sobre a Parada e o Mês do Orgulho, juntos, reuniram apenas 9,96% da interação total no período completo. Também no Instagram, os 10 perfis de mídia com mais engajamento reuniram 93,55% das interações totais, enquanto os 51 outros perfis apenas 6,45%.
- No X o engajamento já foi mais disseminado, tendo em vista a própria quantidade de postagens reunidas dessa rede. Enquanto os 10 perfis com maior interação obtiveram, juntos, 39% do engajamento total em 42 postagens, os outros 27.303 usuários dividiram 61% das interações em 45.397 posts na rede.
Considerando o grande volume de publicações identificadas no X, 45.439 postagens realizadas no X por 27.313 usuários em geral, um grafo de interações foi elaborado para ilustrar melhor a dinâmica que se desenvolveu entre os perfis nessa rede no período analisado.
Figura 1: Grafo de interações entre os perfis no X
Fonte: X | Elaboração: FGV Direito Rio
- O grafo na figura 1 permite observar que o debate na plataforma X foi pautado por um baixo volume de perfis, mas cujas publicações foram muito compartilhadas. Isso é representado pelo emaranhado de linhas que saem dos pontos focais em azul (origem da publicação) e se disseminam pelos pontos verdes (perfis que compartilharam).
- A visualização também indica uma “bolha” no debate, visto que houve uma alta concentração de perfis compartilhando as mesmas publicações, oriundas de um número relativamente baixo de perfis, mas cujo alcance em geral é alto. É possível observar, ainda, que essas publicações tiveram capilaridade também “fora da bolha”. Essa disseminação é representada pelos compartilhamentos posicionados nas extremidades do emaranhado, associados a perfis que não estão totalmente engajados com as demais publicações.
- O padrão do grafo sinaliza também uma concentração do debate, visto que não existem pólos significativos observados na representação. A pequena concentração de compartilhamentos no canto inferior esquerdo, quando observada qualitativamente, não representou oposição ao debate, mas um comportamento atípico de compartilhamento de perfis e links, sem uma mensagem específica, podendo indicar comportamento de bots.
III. Engajamento das publicações no Facebook, Instagram e X
Os gráficos a seguir mostram as 10 publicações com maior interação nas plataformas Facebook, Instagram e X.
Gráfico 3: Top 10 postagens do Facebook com maior engajamento
Fonte: Facebook | Elaboração: FGV Direito Rio
- No Facebook, as publicações realizadas pelos perfis de mídia focaram, sobretudo, na programação da Parada, com destaque para o nome de figuras públicas que marcaram presença no evento, tais como Pabllo Vittar, Glória Groove e Tiago Abravanel. Outras informações destacadas pelos veículos de mídia diziam respeito, principalmente, à mensagem associada ao nome oficial da 28° Parada, “Basta de Negligência e Retrocesso no Legislativo: Vote consciente por direitos da população LGBT+”, bem como à reapropriação de símbolos nacionais em uma demonstração democrática.
Gráfico 4: Top 10 postagens do Instagram com maior engajamento
Fonte: Instagram | Elaboração: FGV Direito Rio
- No Instagram, apesar dos perfis da amostra também corresponderem a veículos de mídia, como no Facebook, o teor das publicações principais apresentou uma diferença: o maior engajamento refletiu mais mensagens com tom de celebração da 28ª Parada e destacando a presença e demonstrações de acolhimento de familiares das pessoas da comunidade LGBT+. A publicação com maior engajamento em ambas as plataformas foi a mesma, postada pelo perfil do Mídia Ninja.
Gráfico 5: Top 10 postagens do X com maior engajamento
Fonte: X | Elaboração: FGV Direito Rio
- O debate difundido entre usuários de perfis variados no X foi caracterizado pela disseminação de fotos e vídeos feitos no dia Parada, celebrando o evento, e uma menor atenção à presença de celebridades, por exemplo. Das 10 postagens na plataforma com maior engajamento, sete são em sua maioria favoráveis à Parada LGBT+. A postagem com maior destaque é do portal “@gaybrasil”, com mais de 29.275 interações. Seguida desta, vem a publicação da deputada Erika Hilton, que trouxe um trecho do seu discurso em vídeo, onde foi aclamada pelo público e acumulou 22.424 interações.
- A desinformação também teve espaço no X, ganhando destaque como terceira e quarta postagem das 10 mais engajadas. Os perfis “@cabolucena” e “@misteriouspavao” buscaram fazer oposição ao apoio recebido pelo movimento LGBT+, com imagens descontextualizadas da Sérvia para falar de uma suposta “Parada do Orgulho da Família”, recebendo um total de 39.149 em número de interações.
- Outra postagem contrária ao movimento foi de autoria do deputado Eduardo Bolsonaro, que também recorreu ao cenário internacional. A publicação recorreu a um material escrito em hebreu a fim de esvaziar o debate da Parada no Brasil, sinalizando apoio à Israel ao dizer que tal mobilização jamais seria possível em Gaza, devido ao Hamas. A publicação recebeu um total de 10.609 interações.
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Ressignificando símbolos e instituições
A pesquisa identificou três temas principais que nortearam o debate on-line sobre a Parada do Orgulho. Presentes nos 10 conteúdos com mais visualizações em cada uma das redes sociais, analisamos os temas e apresentamos como estão postos nas diferentes plataformas, acompanhando suas especificidades e formatos. São eles: (i) símbolos nacionais, (ii) família e (iii) diversidade de gênero e sexualidade.
I. Símbolos nacionais em disputa
Os símbolos nacionais fazem parte da cultura, da história e das instituições que regem o país. Durante a última década, verificamos uma disputa na sociedade brasileira em torno de quais valores e projetos de Estado os símbolos nacionais representam. Vimos, por um lado, grupos de extrema direita, que se apresentam como nacionalistas, se apropriando das cores verde e amarelo e da camisa da Confederação Brasileira de Futebol como símbolos de pautas próprias. Por outro lado, setores do campo progressista se distanciaram dos símbolos que deveriam representar toda a nação. A 28ª Parada do Orgulho LGBT+ foi marcada pelo forte incentivo, por parte da organização do evento, para que o público vestisse verde e amarelo, além das tradicionais cores do arco-íris que representam o movimento.
Na análise das 10 postagens com mais engajamento em cada plataforma, destacou-se o discurso de retomada pela população LGBT+ de símbolos nacionais como as cores verde e amarela, a camisa da seleção brasileira e a bandeira nacional. Assim, as cores foram utilizadas de modo a restabelecer seu significado vinculado a todos os brasileiros e brasileiras.
Facebook e Instagram
- Cinco postagens no Instagram mencionam expressamente que a organização do evento fez um pedido para usarem as cores da bandeira nacional, definindo uma espécie de “dress code”. Ainda, comentam sobre como determinadas personalidades – como a cantora Pabllo Vittar e Tiago Abravanel – aderiram ao pedido e vestiram as cores da bandeira.
Figura 2: Exemplos de postagens no Instagram abordando a retomada de símbolos nacionais durante a Parada LGBT+
Fonte: Instagram (Terra; Brasil de Fato)
- No caso do Facebook, as postagens destacaram principalmente a tomada da Avenida Paulista pela Parada e destacaram aspectos como a diversidade, os direitos e o orgulho da comunidade LGBT+. A nuvem de palavras abaixo ilustra os principais termos que circularam nas publicações nessa rede.
Figura 3: Nuvem de palavras das postagens no Facebook
X (antigo Twitter)
- Na plataforma X (antigo twitter), a narrativa presente em quase todas as postagens favoráveis à Parada é a da reconquista de símbolos nacionais brasileiros. A bandeira do Brasil, as cores verde e amarelo ou as camisetas da seleção brasileira de futebol foram, nos últimos anos, apropriadas por movimentos de direita, em geral intolerantes com as pautas LGBT+, tornando a retomada destes signos na atual conjuntura do país uma estratégia relevante para a comunidade LGBT+. A postagem com maior engajamento teve 340.8K visualizações, mais de 27K curtidas e 1,9K de compartilhamentos apenas dentro da plataforma (Figura 4).
Figura 4: Postagem com maior engajamento no X
Fonte: X
YouTube
- No YouTube, o movimento da esquerda que pleiteia a reapropriação dos símbolos nacionais também foi veiculado nas notícias sobre a Parada do Orgulho LGBT+. Dos 10 vídeos mais visualizados na plataforma, sete deles falam amplamente sobre essa disputa. Isso é relevante pois a campanha do ex-Presidente da República, Jair Bolsonaro, foi marcada pela apropriação de símbolos nacionais, como a camiseta amarela da seleção do Brasil, uso da bandeira do país como acessório e até chamadas para atos políticos no dia da independência do Brasil.
- Jornalistas e criadores de conteúdo ressaltaram que artistas e transeuntes foram à Parada do Orgulho LGBT+ com cores que remetessem à bandeira do país, em especial verde e amarelo. Além disso, os vídeos destacavam os vários artistas que representam algumas letras da sigla LGBT+ e que cantaram o hino nacional durante o evento.
Figura 5: Exemplo de vídeo publicado no Youtube abordando a retomada de símbolos nacionais durante a Parada LGBT+
Fonte: Youtube
II.Família
A família é considerada, em diversas sociedades, como uma instituição primária devido a sua importância na organização e estruturação social. Entretanto, seu formato e objetivos se apresentam de forma dissemelhante a depender da época, do território e das condições socioeconômicas. A família nuclear heteronormativa e exclusivamente consanguínea como modelo se mostrou extremamente limitada e tornou-se uma das formas de perpetuação da violência para aqueles que não se encaixam nos padrões pré-estabelecidos.
A análise identificou que a 28ª Parada do Orgulho levou para as ruas de São Paulo a discussão sobre os diferentes significados do que é família, suas camadas e a importância da mesma para a comunidade LGBT+.
Facebook e Instagram
- Dentre as 10 postagens com maior engajamento analisadas no Instagram, apenas uma trouxe informações sobre o movimento de pais e mães de pessoas LGBT+ que ofereceram abraços e acolhimento para aquelas que não têm parente que os apoiam. A disputa em torno do conceito de família em si não apareceu de forma tão destacada nas postagens do Facebook e do Instagram.
Figura 6: Exemplo de postagem no Instagram destacando as manifestações de acolhimento às pessoas LGBT+
Fonte: Instagram
X (antigo Twitter)
- Dentre as 10 postagens com maior interação no X, sete tratavam de aspectos positivos e comemoravam a realização do evento, a retomada dos símbolos nacionais e a luta pelos direitos LGBT+. Contudo, a primeira postagem a mencionar “família” recorreu a um conteúdo desinformativo para se posicionar contrariamente à Parada LGBT+.
- Publicada pelo perfil (@cabolucena) de um dos principais organizadores de “motociatas” pró-Bolsonaro, o moto clube “Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”, o post recebeu alto engajamento: foram mais de 4K compartilhamentos, 165 respostas e mais de 16K curtidas (Figura 7). A publicação desinforma ao utilizar imagens descontextualizadas de um festival promovido na Sérvia, afirmando que se trata de uma “Parada do Orgulho da Família”. O conteúdo já foi, inclusive, desmentido por diversas agências de checagem de fatos. A terceira postagem com mais interações no X, do perfil “@misteriouspavao”, também trata do mesmo assunto.
Figura 7: Postagem com desinformação no X
Fonte: X
Youtube
- Dos 10 vídeos mais visualizados da plataforma Youtube, quatro comentaram, em tom jornalístico, a disputa do significado de família que houve entre Carlos Bolsonaro, vereador carioca e filho do ex-presidente, e o Ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania do Brasil, Silvio Almeida. Jornalistas e criadores de conteúdo informaram que Carlos Bolsonaro propôs um projeto para impedir que crianças e adolescentes desfilem na Parada LGBT+ do Rio de Janeiro. Além disso, falaram sobre a ida de Silvio Almeida à Parada de São Paulo para defender o direito da família LGBT+ existir em segurança. Os propagadores de informação não fizeram isso ao acaso, uma vez que os personagens citados se posicionam em espectros políticos opostos, os quais defendem concepções de família diferentes.
Figura 8: Vídeo destacando a fala do Ministro Silvio Almeida em defesa dos direitos das famílias LGBT+
Fonte: YouTube
III.Celebrando a diversidade
Esta seção é dedicada à análise das publicações em apoio à parada e aos direitos LGBT+. Trata-se de postagens que dão visibilidade aos participantes do evento e ao orgulho de serem quem são, demonstrando a pluralidade e as diversas nuances de um evento que é político e festivo.
Facebook e Instagram
- Tanto no Facebook, quanto no Instagram, a cantora e artista Pabllo Vittar foi figura central e recorrente nas postagens, as quais destacaram sua importância para o movimento e cultura LGBT+ no Brasil. Além disso, também foram identificadas postagens que exibiam imagens de pessoas fantasiadas, famílias LGBT+ e demonstração de afeto entre elas (Figura 9).
Figura 9: Exemplo de postagem informativa feita por canal de mídia
Fonte: Instagram
X (antigo Twitter)
- No X, posts de figuras importantes para a política nacional e que compareceram ao evento, como a deputada Erika Hilton, receberam alto engajamento. A deputada ressaltou a diversidade dentro da comunidade LGBT+ e a coesão do movimento em momentos de organização como a Parada.
Figura 10: Postagem da deputada Erika Hilton, segunda entre as 10 mais engajadas
Fonte: X
Youtube
- As publicações realizadas no YouTube diziam respeito, em sua maioria, à coberturas de canais de variados perfis celebrando a Parada do Orgulho e dando protagonismo ao público que prestigiou o evento. Os canais se dedicaram a entrevistar pessoas LGBT+, dando voz à comunidade e mostrando sua pluralidade.
Figura 11: Vídeo de cobertura independente feita pela blogueira Natty Hills
Fonte: Youtube
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Outras narrativas - Políticos e a Parada do Orgulho
Identificamos entre as publicações analisadas contornos políticos que, inclusive, não ficaram restritos às demandas da comunidade. A presença de atores políticos, dos diferentes poderes e esferas de governo, gerou debate durante o evento e após ele. Tais discussões foram mobilizadas principalmente nas plataformas YouTube e X.
I. O pleito para São Paulo
A presença ou ausência de pré-candidatos à prefeitura de São Paulo no evento, que além de representativo movimenta a economia da capital paulistana, fizeram parte das notícias que mais circularam principalmente no YouTube.
- O deputado federal Guilherme Boulos participou ativamente da 28ª Parada. Seu discurso enfatizou a importância do evento para a cidade de São Paulo e as políticas que pretende implementar em consonância com as demandas LGBT+. Importa ressaltar que os vídeos que repercutiram a presença de Boulos receberam comentários de apoio à sua candidatura.
- Já Ricardo Nunes, pré-candidato à reeleição na capital paulista, ganhou repercussão pela sua ausência na Parada do Orgulho. Ao ser entrevistado na semana seguinte, Nunes declarou que estava em uma consulta médica no domingo em que o evento ocorreu. Os comentários de um dos vídeos do YouTube que repercutiram o fato, se dividiram entre questionamentos sobre a justificativa e relativização da obrigatoriedade do prefeito em marcar presença no evento.
Figura 12: Exemplo de vídeo no YouTube abordando a ausência de Ricardo Nunes na Parada LGBT+
Fonte: Youtube
II. Congressistas
- Além da deputada Erika Hilton, cuja postagem no X obteve o segundo maior engajamento entre as analisadas, a deputada Sâmia Bomfim foi bastante mencionada nos posts na plataforma. Cabe ressaltar, contudo, que a maior parte dessas menções à Sâmia, associadas principalmente ao compartilhamento de seus posts, continham ataques gordofóbicos, LGBTfóbicos e violência política.
- Dentro das críticas ao mês do orgulho e suas manifestações, destaca-se uma postagem feita pelo Deputado Eduardo Bolsonaro, vinda em último lugar do Top 10 na plataforma X. O deputado aponta uma suposta incoerência da "esquerda", colocada de maneira homogênea e generalizada, ao insinuar que seus apoiadores são contraditórios por se posicionarem favoravelmente à comunidade LGBT+ e à população Palestina. A fala mobiliza explicitamente o fato de o governo palestino do Hamas ser conhecido por sua intolerância à diversidade sexual e de gênero.
Figura 13: Postagem mobilizando o contexto de Israel para pautar intolerância à comunidade LGBT+
Fonte: X
Elaborado por:
Este relatório foi produzido pelo Programa de Diversidade & Inclusão da FGV Direito Rio no âmbito do Projeto Mídia e Democracia.
Autoria:
Yasmin Curzi (Professora da FGV Direito Rio, Coordenadora do Programa de Diversidade & Inclusão e do Projeto "Mídia e Democracia" na Escola de Direito)
Carolina Peterli (Pesquisadora do Programa de Diversidade & Inclusão da FGV Direito Rio/ Projeto "Mídia e Democracia")
Fernanda Gomes (Pesquisadora do Programa de Diversidade & Inclusão da FGV Direito Rio/ Projeto "Mídia e Democracia")
Giullia Thomaz (Pesquisadora do Programa de Diversidade & Inclusão da FGV Direito Rio/ Projeto "Mídia e Democracia")
Hana Mesquita(Pesquisadora do Programa de Diversidade & Inclusão da FGV Direito Rio/ Projeto "Mídia e Democracia")
Iris Rosa (Pesquisadora do Programa de Diversidade & Inclusão da FGV Direito Rio/ Projeto "Mídia e Democracia")
Isabella Markendorf Marins (Pesquisadora do Programa de Diversidade & Inclusão da FGV Direito Rio/ Projeto "Mídia e Democracia")
Lorena Abbas (Pesquisadora do Programa de Diversidade & Inclusão da FGV Direito Rio/ Projeto "Mídia e Democracia")
Camila Lopes (Pesquisadora do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV Direito Rio)