Direita mobiliza caso Elon Musk nas redes sociais para legitimar denúncias de “censura” e “ditadura” no Brasil
Por: FGV ECMI
● Grupos de direita somam 63,5% das interações sobre o tema no X, enquanto a esquerda alcança apenas 18,3%. Na plataforma, ataques a Moraes e elogios a Musk prevalecem;
Por: FGV ECMI
● Grupos de direita somam 63,5% das interações sobre o tema no X, enquanto a esquerda alcança apenas 18,3%. Na plataforma, ataques a Moraes e elogios a Musk prevalecem;
● No Facebook, parlamentares da oposição lideram em engajamento médio e volume de postagens, focando nos temas da censura e liberdade de expressão. Entre governistas, há um certo desinteresse no caso, as poucas postagens sobre o tema são pautadas pela defesa da democracia;
● O alinhamento à direita também é predominante nos apps mensageiros, com associações entre o Brasil e regimes ditatoriais.
O episódio envolvendo o ministro Alexandre de Moraes e Elon Musk mobilizou o debate nas redes sociais brasileiras em torno da ideia de que haveria uma “ditadura” protagonizada pelo Judiciário, com ataques concentrados na figura de Moraes e pedidos por liberdade de expressão nas plataformas digitais. É que mostra o estudo da FGV Comunicação Rio, que analisou postagens no X, no Facebook, no WhatsApp e no Telegram, entre o dia 06 e a tarde do dia 09 de abril de 2024. Em termos de alcance e volume no debate, grupos alinhados a Bolsonaro estiveram significativamente mais numerosos no X, com articulação robusta pró-Musk de atores políticos, influenciadores e veículos de mídia hiperpartidária.
Mapa de interações sobre caso Elon Musk no X
Período: de 6 a 8 de de abril de 2024
Fonte: X | Elaboração: FGV ECMI
Direita associada a Jair Bolsonaro (Azul escuro) - 41,1% de perfis | 51,8% de interações
Atores políticos vinculados a Jair Bolsonaro e veículos de mídia hiperpartidária de direita protagonizam o grupo, que se utiliza do episódio envolvendo Elon Musk para reforçar uma narrativa de censura, autoritarismo e perseguição política por parte do Judiciário brasileiro. As interações estabelecidas entre os perfis do grupo azul escuro são visivelmente mais densas do que o conjunto vermelho, além de contarem com o suporte dos grupos amarelo e azul claro, que sustentam argumentos semelhantes. Os perfis do grupo azul escuro defendem que o ministro Alexandre de Moraes representaria uma ruptura democrática que teria como pressuposto limitar as liberdades individuais e silenciar opositores políticos. Atribui-se a Moraes, ao TSE e STF alegadas tentativas de violar a Constituição e o Marco Civil da internet como modo de prejudicar o campo político bolsonarista. É interessante observar como Musk é constantemente evocado como uma instância de legitimação das supostas irregularidades do Judiciário, sendo referido como uma pessoa heróica que estaria mostrando a “verdade” ao mundo - o que, no âmbito do debate nacional sobre o caso, contribui para fortalecer o posicionamento do grupo perante os demais. Os parlamentares Marcel van Hattem, Gustavo Gayer e Eduardo Bolsonaro estão em destaque, além do pastor Silas Malafaia, do influenciador Leandro Ruschel e dos veículos Revista Oeste e News Liberdade.
Esquerda (Vermelho) - 18% de perfis | 16,3% das interações
O grupo orbita em torno de influenciadores progressistas e atores políticos da esquerda, que defendem como pautas prioritárias a regulação das plataformas digitais, a autonomia da democracia brasileira e a defesa do Estado de Direito. Os perfis elogiam a conduta de Alexandre de Moraes no episódio do Musk e argumentam que o empresário estaria interessado em interferir diretamente nas eleições nacionais em prol de grupos extremistas, atentando, dessa forma, contra a soberania nacional. São relatados ainda supostos episódios de censura de perfis progressistas por parte do X, o que é tido como uma contradição dentro do discurso pró-liberdade de expressão sustentado por Musk. Os parlamentares André Janones e Gleisi Hoffmann estão entre os destaques do grupo, além dos influenciadores Felipe Neto, Thiago Resiste e Vinicios Betiol.
Direita liberal (Verde) - 7,5% de perfis | 7,5% das interações
O grupo sustenta uma perspectiva pró-Musk, mas de forma ligeiramente mais branda do que o conjunto azul. O embate entre Musk e Moraes é visto sobretudo pelo prisma da defesa da liberdade de imprensa, à qual, na visão desses perfis, estaria em risco sob as decisões de Moraes em relação às plataformas. É interessante pontuar que parte dos perfis recorrem à ideia de que o caso Musk estaria “expondo” e “comprovando” a alegada interferência do Judiciário brasileiro nas eleições de 2022, na qual Moraes teria boicotado deliberadamente uma possível reeleição de Bolsonaro a partir de restrições nas mídias digitais. No grupo, veículos como O Antagonista e Metrópole tiveram grande influência, além de parlamentares como Kim Kataguiri e outros nomes ligados ao MBL.
Influenciadores e mídia de direita (Azul claro) - 4,4% de perfis | 4,2% das interações
O grupo também endossa a perspectiva de Musk a respeito dos fatos, enfatizando declarações do empresário sobre suposta pressão indevida do Judiciário ao impor restrições de conteúdo. A ideia central é de que a “verdade” importaria mais do que tudo para Musk, o que justificaria o seu posicionamento de ameaça às instituições democráticas. Os influenciadores Doge Designer, Renata Barreto e Monark se destacam, além de veículos como Jovem Pan News.
Nuvem de termos sobre o caso Elon Musk no X
Período: de 6 até 14h de 9 de de abril de 2024
Fonte: X | Elaboração: FGV ECMI
A centralidade de Alexandre de Moraes no debate sobre o caso Elon Musk é nítida. Nas menções ao magistrado no X, há uma dualidade interessante: de um lado, o campo progressista corrobora as ações de Moraes e defende que a legislação brasileira não pode ser subjugada por nenhuma figura de poder estrangeira, em referência a Musk; mas, de outro, a direita alinhada a Bolsonaro mobiliza a situação para reforçar a narrativa de que o país vive uma ditadura, ou seja, quanto mais o magistrado freia as ações de Musk, mais ele é enquadrado como uma figura autoritária. Até o momento, este debate consta de modo bastante disputado.
Ainda que haja um certo equilíbrio na discussão, a oposição se demonstra mais preparada para as disputas narrativas em voga. Nesse escopo, algumas estratégias podem ser destacadas, como: a mobilização do medo, acionada pela possibilidade de a plataforma sair do Brasil e por anúncios sobre supostas provas de que o magistrado agiu contra a Constituição; as crescentes associações entre o caso e o governo Lula, circulando tanto pela noção de que o presidente corrobora com a suposta ditadura, quanto pelo entendimento de que Lula estaria na “coleira” de Moraes; e pela tentativa de levar ao exterior um retrato caótico do Brasil, a partir de denúncias de deputados conservadores ao parlamento europeu.
Principais termos no debate parlamentar sobre o caso Elon Musk no Facebook por campo político
Período: de 6 a 8 de de abril de 2024
Fonte: Facebook | Elaboração: FGV ECMI
No debate parlamentar do Facebook, a base de oposição ao governo é protagonista na discussão sobre o caso Elon Musk, com ênfase nos nomes de Bia Kicis (PL), Eduardo Bolsonaro (PL) e Gustavo Gayer (PL). Entre os 10 parlamentares com maior engajamento médio, 9 são da oposição, disseminando uma perspectiva fortemente centrada em termos como “liberdade de expressão” e “censura” – tópicos de destaque entre as palavras acionadas pela oposição. Nesse sentido, o caso é usado não apenas para atacar Alexandre de Moraes ou Lula, mas para desqualificar o resultado das eleições de 2022, reforçando a tese de fraude eleitoral.
Para além do engajamento médio, o baixo envolvimento do campo progressista fica explícito ao observarmos que entre os 10 parlamentares com maior número de posts sobre o tema, não há nenhum nome da base do governo – o que pode indicar uma falta de interesse em disputar essa discussão. Ainda assim, entre os parlamentares de esquerda que publicam sobre o caso Musk, com ênfase em José Guimarães (PT) e Lindberg Farias (PT), há um destaque a termos como “democracia”, “soberania” e “regulação”.
Mensagens sobre o caso Elon Musk nos apps móveis
Período: de 6 até 14h de 9 de de abril de 2024
Fonte: WhatsApp e Telegram | Elaboração: FGV ECMI
O caso Musk é destaque nos aplicativos móveis. No WhatsApp, por exemplo, de um total de 255,7 mil mensagens enviadas desde o dia 06, o assunto é destaque entre as 20 mensagens com maior número de envios. Em ambos os mensageiros, o caso Musk é abordado sobretudo entre grupos alinhados à direita, fazendo com que o tópico circule de modo favorável ao empresário sul-africano.
Entre as narrativas em voga, a noção de que Musk estaria “salvando” o país dos abusos é predominante. De modo similar ao mapeado no X, podem ser mapeados conteúdos que demonstram satisfação com o entendimento de que, finalmente, alguém tão ou mais poderoso do que Moraes estaria agindo em prol das liberdades individuais da população brasileira.
Nas mensagens em destaque, um dos eixos narrativos tem forte diálogo com a relação entre o Brasil e o exterior, defendendo, por exemplo, a responsabilização de Moraes por tribunais e parlamentos internacionais. Nesse escopo, chamam atenção também o crescimento das associações entre o país e regimes ditatoriais, indicando que ao bloquear o acesso do X em terreno nacional, Moraes estaria estabelecendo similaridades entre o Brasil e países como a China, a Coréia do Norte e o Irã