Direita domina debate sobre Palestina e Israel, associando Lula e a esquerda ao Hamas
Por: FGV ECMI
Por: FGV ECMI
- A discussão sobre o conflito é marcada pelo protagonismo da direita em plataformas como Facebook, Instagram e X;
- No debate parlamentar, oposição também se destaca, com engajamento médio cerca de 871% maior do que os parlamentares governistas;
- Número baixo de publicações entre parlamentares de esquerda indica uma tentativa de se afastar do episódio. Enquanto oposição fez 156 posts sobre o conflito, governistas publicaram apenas 23 vezes;
- Posicionamento favorável a Israel é predominante em todas as redes, com recorrentes associações entre Lula e o Hamas.
A guerra entre Israel e Palestina teve ampla mobilização de cunho político nas redes sociais, com marcado protagonismo do campo da direita, que enfatizou críticas à suposta associação entre o governo e o grupo terrorista Hamas. É o que mostra o levantamento da FGV Comunicação Rio, que analisou quase 800 mil posts do debate sobre o conflito no X, no Facebook e no Instagram, de 7 a 10 de outubro.
No X, foi observada uma tendência de personificação da discussão em torno de Lula e Bolsonaro. Essa divisão do debate foi reafirmada nas demais plataformas, seja nos argumentos em circulação no Instagram ou nos links provenientes de mídias hiperpartidárias no Facebook. No debate parlamentar desta rede, enquanto a direita procura politizar o conflito, associando o governo ao terrorismo, deputados e senadores da esquerda procuraram se afastar da discussão, apenas compartilhando notas de repúdio à violência e divulgando ações do governo federal para auxiliar brasileiros em Israel.
Debate geral sobre o conflito entre Israel e Palestina
Menções ao tema no X
Período: de 7 de outubro até 12h de 10 de outubro
Menções no debate geral: 2.268.200
Menções ao conflito: 751.900
Fonte: X | Elaboração: FGV ECMI
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A discussão sobre o conflito entre Israel e Palestina ocupa uma parcela relevante do debate mais geral sobre política no antigo Twitter. Disputada entre os diferentes campos políticos, nota-se um certo domínio da direita na discussão, contando com uma rede de compartilhamentos de perfis comuns em relação a políticos e páginas de direita.
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Os picos mapeados indicam ainda a personificação do debate em torno de Lula e Bolsonaro. Por um lado, uma suposta relação entre Lula e o Hamas é acionada, por outro, circulam elogios a Bolsonaro por ter condenado o lado palestino do conflito.
Principais termos sobre o tema no X
Período: de 7 de outubro até 12h de 10 de outubro
Fonte: X | Elaboração: FGV ECMI
- Ao destrincharmos o debate a partir dos termos mais frequentes no X, nota-se a centralidade das menções à Faixa de Gaza, citada em posts que trazem desdobramentos e atualizações do conflito. Lateralmente, preocupações humanitárias com os moradores da região também podem ser mapeadas.
- O cerne da discussão, no entanto, é bastante crítico ao lado palestino, caracterizado como terrorista. A esse respeito, vale ressaltar que a caracterização do Hamas como um grupo terrorista aparece fortemente vinculada a Lula, com publicações que indicam que o presidente apoia o terrorismo.
- Essa associação também aparece em posts que indicam que o Hamas teria parabenizado Lula pela vitória nas eleições de 2022, além de publicações que criticam outros membros do Governo, como o ministro dos Direitos Humanos. Nesse sentido, Silvio Almeida é criticado pela suposta falta de posicionamento sobre o conflito.
Principais argumentos sobre o tema no Facebook e no Instagram
Período: de 7 de outubro até 12h de 10 de outubro
Total de posts no Facebook: 21.504 | Total de posts no Instagram: 13.149
Fonte: Facebook e Instagram | Elaboração: FGV ECMI
- A discussão sobre o conflito no Facebook e no Instagram adquire um forte tom religioso e conservador, mobilizando páginas cristãs e perfis de pastores. Em ambas as redes, predomina uma perspectiva de apoio a Israel, com o compartilhamento de versículos bíblicos, imagens de supostos desaparecidos e notas de solidariedade ao país.
- Chama a atenção também a forte participação de figuras de direita com relevância na cena política, como o influenciador e ex-candidato à Presidência, Pablo Marçal, ou ainda deputados federais, como Carla Zambelli e Eduardo Bolsonaro.
- A esse respeito, nota-se uma forte politização do conflito, com tais perfis acionando os recentes episódios para criticar a esquerda e o Governo do PT. Não foram mapeados posts de destaque por parte de figuras da esquerda.
Principais links entre veículos hiperpartidários no Facebook
Período: de 7 de outubro até 12h de 10 de outubro
Fonte: Facebook | Elaboração: FGV ECMI
- Entre veículos de mídia hiperpartidários atuantes no Facebook, há um protagonismo total da direita, com sites como Jornal da Cidade Online e Jovem Pan News. Não foram mapeados veículos alinhados à esquerda entre os links de destaque.
- Esse protagonismo se reflete em uma intensa circulação de associações entre o Hamas e a esquerda brasileira, personificados nas figuras de Lula e do PT. Nesse escopo, uma suposta parabenização do Hamas a Lula pela vitória nas eleições de 2022 está sendo recorrentemente acionada para embasar críticas à esquerda nacional e, assim, politizar o caso.
Debate parlamentar sobre o conflito entre Israel e Palestina
Principais parlamentares e partidos no Facebook
Período: de 7 de outubro até 12h de 10 de outubro
Fonte: Facebook | Elaboração: FGV ECMI
- O conflito motivou cerca de 338 posts sobre o tema, com amplo protagonismo de parlamentares da direita, principalmente do PL. Carla Zambelli, Eduardo Bolsonaro e Bia Kicis, todos pró-Israel, estão entre os nomes que tiveram maior alcance com o episódio.
- Esse protagonismo fica explícito em número de posts e em engajamento médio: enquanto parlamentares da oposição publicaram sobre o conflito 156 vezes, a base governista o fez em apenas 23 posts; já em termos de engajamento médio, a direita obteve um desempenho cerca de 871% superior ao observado entre parlamentares governistas.
- O tom adotado também se difere bastante. Se, por um lado, a direita assume uma postura mais combativa, politizando o conflito e atacando diretamente Lula e o PT; por outro, a esquerda procura se afastar desse debate, assumindo um tom mais ameno e institucional, seja publicando notas de repúdio à violência, seja divulgando ações do governo federal para auxiliar brasileiros em Israel.
Principais argumentos no debate parlamentar no Facebook
Período: de 7 a 10 de outubro de 2023
Fonte: Facebook | Elaboração: FGV ECMI
- Entre os argumentos mais mobilizados no debate, existe a tentativa de associar o Hamas diretamente a Lula e ao PT. Os parlamentares da oposição ainda atacam a suposta falta de posicionamento de atores governistas, tanto por parte do presidente quanto por parte de ministros e parlamentares.
- O ex-presidente Bolsonaro é evocado como uma figura que prega a paz e condena os ataques a Israel. Ele é colocado em contraste com Lula, especialmente em posts que resgatam o posicionamento de parlamentares de esquerda sobre não considerarem o Hamas um grupo terrorista. Ainda ironiza-se a atribuição do termo “terroristas” aos participantes do 8 de Janeiro, sob a afirmação de que a esquerda e a mídia tradicional não usam o termo para se referir ao Hamas.
- É também presente a ideia de que a militância de partidos de esquerda estaria se esforçando para convencer jovens a defenderem a retomada de territórios por parte da Palestina a partir do apoio a grupos terroristas, como o Hamas, a partir de uma “cooptação por um discurso mentiroso”.