Dez dias após o início do conflito em Gaza, direita brasileira segue associando Lula ao Hamas

Por: FGV ECMI

 

Por: FGV ECMI

 

  • Debate sobre o conflito entre Israel e o Hamas ocupa entre 40% e 30% da discussão mais geral sobre política no X, mas apresenta tendência de queda;
  • Somando mais de 197 mil posts no X desde o início do conflito, menções a Lula se tornaram um pouco mais positivas a partir do dia 13;
  • Facebook e Instagram somam cerca de 139 mil publicações sobre o tema, predominando o tom religioso, conservador e pró-Israel;
  • Nomes do Partido Liberal, sobretudo Carla Zambelli, protagonizam o debate parlamentar no Facebook, indicando relações diretas entre Lula e o Hamas.

     

As menções ao conflito entre Israel e o Hamas seguem se destacando no debate nacional sobre política, disseminando uma perspectiva majoritariamente pró-Israel e estabelecendo associações entre Lula e grupos terroristas. É o que mostra estudo da FGV Comunicação Rio, que coletou mais de 2 milhões de menções ao conflito no X, cerca de 104 mil no Facebook e quase 35 mil no Instagram, de 7 de outubro de 2023 até às 11h do dia 17 do mesmo mês.

Em geral, nota-se uma mudança no debate mapeado no X: nos primeiros dias do conflito, uma suposta relação entre Lula e o Hamas foi recorrentemente acionada, mas a partir do dia 13, as ações do governo federal para resgatar brasileiros em Israel e em Gaza começou a crescer, gerando elogios e menções positivas a Lula. No Facebook e no Instagram, o teor pró-Israel se manteve em todo o período mapeado, repercutindo informações de mortos e desaparecidos, além de posts que insistem em relacionar o governo federal ao grupo Hamas. 

 

Debate geral sobre o conflito

 



Menções ao tema no X

Período: de 00h de 7 de outubro até 11h de 17 de outubro

Menções no debate geral: 7.311.050

Menções ao conflito: 2.282.900 

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Fonte: X | Elaboração: FGV ECMI

 

  • Desde o início do conflito, as menções a Israel e ao Hamas vêm ocupando uma parcela significativa do debate mais amplo sobre política no Brasil. 
  • Há, no entanto, uma certa tendência de queda nessa discussão: entre os dias 11 e 12, as menções ao conflito representaram quase 40% desse debate total, mas a partir do dia 13, esse volume ficou abaixo de 30%. O que pode indicar que o debate digital mais amplo sobre política vêm, aos poucos, focando em outros episódios para além do conflito. 
  • Entre os eixos temáticos abordados, destaca-se uma perspectiva crítica ao Hamas e à Palestina, além de associações entre o grupo terrorista e o governo Lula. Estas teses, vale dizer, foram encabeçadas por parlamentares, jornalistas e influenciadores, sendo fortemente compartilhadas também por perfis comuns. 
  • Esse ponto de vista foi central em todos os dias mapeados, mas a partir do dia 13, também se destacaram elogios ao governo federal por ações humanitárias, seja resgatando brasileiros, seja enviando suprimentos a Gaza.

 

Principais termos sobre o tema no X

Período 1: de 7 a 12 de outubro de 2023

Período 2: de 13 a 17 de outubro de 2023 

post X

Fonte: X | Elaboração: FGV ECMI

 

  • Nos primeiros dias do conflito, foram comuns associações entre o Hamas e o governo brasileiro. Menções a “governo Lula”, “presidente Lula” e “Luis Inácio Lula da Silva”, por exemplo, somaram cerca de 124.500 posts até o dia 12 de outubro. Críticas ao governo e à esquerda brasileira também foram mapeados em 21.500 publicações com indicativos que o Hamas parabenizou Lula pelas eleições de 2022, além de 23.500 posts que indicam que parlamentares da esquerda estariam apoiando o Hamas.

  • Essa vinculação sofreu algumas alterações a partir do dia 13 de outubro, tanto em volume quanto em conteúdo. Somando cerca de 51.450 posts, as menções a “governo Lula” e “governo brasileiro” se tornaram mais equilibradas: há, por um lado, postagens que parabenizam as ações do governo para resgatar brasileiros em Israel e em Gaza; mas, por outro, perfis de direita seguem utilizando o conflito para atacar Lula, o PT e toda a esquerda, indicando, por exemplo, que o governo estaria utilizando recursos públicos para trazer membros do Hamas ao Brasil. 

  • Em ambos os períodos mapeados, destacam-se conteúdos desinformativos. Entre 7 e 12 de outubro, por exemplo, cerca de 32.900 posts citaram a suposta decapitação de 40 bebês pelo Hamas; já entre os dias 13 e 17, foram mapeadas 6.500 menções à uma suposta desavença entre Lula e Netanyahu, que teria se recusado a falar com o presidente brasileiro, inserindo o país em uma “lista” de nações que apoiam o terrorismo.

 

Posts sobre o tema no Facebook e no Instagram

Período: de 00h de 7 de outubro até 11h de 17 de outubro

Total de posts no Facebook: 104.229 | Total de posts no Instagram: 34.931

post facebookpost instagrampost instagram

Fonte: Facebook e Instagram | Elaboração: FGV ECMI

 

  • No Instagram e, principalmente, no Facebook, o conflito vem motivando milhares de postagens desde o dia 7 de outubro. Em termos de interações, também há um volume considerável: no Instagram, foi mapeado um pico logo no primeiro dia do conflito, em 7 de outubro, de 12,34 milhões de interações; enquanto no Facebook, há um pico de 2,56 milhões de interações no dia 10.
  • A discussão adquire um forte tom religioso e conservador, mobilizando páginas cristãs e predominando uma perspectiva de apoio a Israel, com o compartilhamento de versículos bíblicos, imagens de desaparecidos e mortos e notas de solidariedade ao país. 
  • A participação de parlamentares também chama a atenção, principalmente no Facebook, onde cerca de 947 posts foram feitos por deputados federais e senadores. Há, nesse sentido, um forte predomínio da base do Partido Liberal, com destaque para Carla Zambelli (44 posts) e Bia Kicis (28 posts). Aqui, o mote argumentativo se concentra na politização do conflito, afirmando, por exemplo, que Lula estaria interferindo na ONU para ajudar o Hamas.

 

Principais links entre veículos hiperpartidários no Facebook

Período: de 00h de 7 de outubro até 11h de 17 de outubro

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Fonte: Facebook | Elaboração: FGV ECMI

 

  • Entre veículos de mídia hiperpartidários atuantes no Facebook, há um protagonismo da direita, por meio de sites como Jornal da Cidade Online e Jovem Pan News. Veículos alinhados à esquerda não foram mapeados entre os cinco links com maior volume de interações. 
  • Estes veículos se centram em duas mobilizações principais: associar o governo Lula e a esquerda brasileira ao Hamas e trazer desdobramentos e atualizações do conflito. No que diz respeito à primeira vertente, chama atenção o teor desinformativo do link de maior interação, indicando que a deputada estadual Luciana Genro teria “perdido o emprego” por “apoiar o terrorismo”.