Debate sobre chuvas no RS aciona disputas de narrativas envolvendo desinformação, discurso de ódio e ações solidárias
Por: FGV Comunicação Rio
Por: FGV Comunicação Rio
Entre abril e junho de 2024, diferentes temas mobilizaram o projeto Mídia e Democracia. Entre eles, as múltiplas nuances do debate digital sobre a tragédia provocada pelas chuvas no Rio Grande do Sul, ao longo de maio de 2024, motivaram parte importante do projeto no âmbito dos estudos produzidos, das verificações de fatos e da discussão do conselho. A propagação de desinformação, a disputa por protagonismo e atritos entre as esferas pública e privada no escopo do incidente, além do debate sobre racismo ambiental acionado em sua decorrência, foram alguns dos recortes trabalhados dentro do escopo do ocorrido.
Entre os outros temas investigados pelo projeto nesse período, estiveram a regulação das plataformas, os ataques sistemáticos a atores e instituições democráticas - em especial o judiciário brasileiro e as instituições associadas ao processo eleitoral -, o debate sobre temas da chamada “agenda conservadora” - como o aborto e a descriminalização das drogas -, a violência de gênero no contexto eleitoral e falhas na moderação de conteúdos de anúncios das plataformas digitais envolvendo desinformação e discurso de ódio.
Apresentamos esse policy paper, inicialmente, com a seção “Linhas de análise: o panorama do período”, composta pelos resultados encontrados no debate sobre as chuvas no Rio Grande do Sul e outras temáticas caras ao projeto em redes como o X, o WhatsApp e o Telegram. Esses resultados, bem como o mergulho analítico realizado para a confecção destes estudos, possibilitou o apontamento de possíveis linhas de ação, reunidas na seção “Linhas de ação: direcionamentos temáticos”. Por fim, na seção “Restrospectiva”, apresentamos as principais atividades desenvolvidas pelo projeto, entre abril e junho de 2024.
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Linhas de análise: o panorama do período
De abril a junho de 2024, o projeto Mídia e Democracia elaborou 13 relatórios de monitoramento de mídias sociais e sete verificações de fact-checking. O período abrangeu diversas temáticas caras ao projeto, com ênfase nos debates oriundos das chuvas que assolaram o Rio Grande do Sul, entre os meses de maio e junho, que constituem o cerne deste policy paper. Entre as outras temáticas investigadas, estão a regulação das plataformas digitais, inteligência artificial, pautas conservadoras e discursos de fraude nas urnas.
O estudo sobre as chuvas no Rio Grande do Sul analisou o debate sobre a tragédia entre 1º e 15 de maio de 2024, identificando contraposições entre mobilizações civis e ações do Estado e refletindo uma politização significativa do episódio. Em termos de protagonismo, no entanto, influenciadores, artistas e celebridades estiveram em destaque. É relevante salientar que a questão da desinformação obteve proeminência, com uma intensa disputa entre os campos da direita e da esquerda em torno dessa temática. No X, as menções ao termo “fake news” dentro do debate sobre o RS superaram em 30% as menções à capital gaúcha, por exemplo.
Um outro recorte analisado em relação às chuvas do Rio Grande do Sul consistiu no debate sobre racismo ambiental, que se deu sobretudo a partir da fala de uma influenciadora digital afirmando que a tragédia seria um “castigo divino” por conta da presença de um alto número de praticantes de religiões de matrizes africanas no estado. Um estudo aprofundou a temática a partir do episódio referido e das reações de políticos de direita contra iniciativas que priorizavam a ajuda a grupos mais vulneráveis na tragédia, como pessoas quilombolas, ciganas, indígenas e negras.
Já a questão da regulação das plataformas foi debatida à luz do notório embate entre o empresário sul-africano Elon Musk, proprietário da rede social X, e autoridades e instituições democráticas brasileiras, que foram acusadas de censura e autoritarismo. O protagonismo dessa discussão tendeu a se concentrar em atores da extrema-direita, o que aponta para o contínuo fortalecimento desse campo político nas redes.
Outros relatórios do período apontam para a mesma tendência de proeminência da extrema-direita nas plataformas, como os estudos que: 1) identificam a ideia de “fraude eleitoral” como central no debate sobre o Judiciário e 2) analisam os atores de destaque em pautas conservadoras, como aborto e descriminalização das drogas.
Outros dois relatórios dialogam diretamente com diferentes nuances da questão da preservação da democracia, tendo em vista o contexto das eleições municipais de 2024, que ocorrem em outubro. Um desses estudos observou a incidência de posts com conteúdo de violência de gênero, discurso de ódio e desinformação voltados para as pré-candidaturas da cidade de São Paulo, identificando um ambiente on-line mais tóxico para as postulantes mulheres. Já o outro estudo avaliou a efetividade do Google Ads em restringir conteúdos de ódio e/ou desinformativos no YouTube, antecipando uma série de falhas que podem impactar negativamente as eleições.
Em abril também foi lançado o policy paper "Integridade eleitoral no ambiente digital: riscos e recomendações para as eleições municipais brasileiras", produzido pelo Democracy Reporting International (DRI) em colaboração com a FGV Comunicação Rio, FGV Direito Rio e a Lupa. Baseado em discussões com o conselho Mídia e Democracia e outros atores, o relatório identificou três principais eixos de risco no ambiente digital para as eleições de 2024: discursos de ódio, desinformação e anúncios políticos. A pesquisa também apresentou recomendações específicas para autoridades eleitorais, entidades da sociedade civil e plataformas digitais, com o objetivo de fortalecer a democracia digital e antecipar desafios regulatórios e comunicacionais durante as campanhas online de 2024.
1.1 Debate sobre as chuvas: atores e argumentos em destaque
O estudo sobre as chuvas do RS mapeou o debate digital no primeiro período da tragédia, entre 1º e 15 de maio de 2024. A pesquisa mapeou os principais atores e temas, focando em como o debate evidenciou rupturas entre os âmbitos público e privado, refletindo uma crise epistêmica e questionamentos sobre a legitimidade das instituições políticas. Entre os principais achados do estudo, está a ampla politização da tragédia, com perfis privados ganhando destaque sobre atores governamentais, conformando uma “esfera pública digital” onde distintos grupos disputam espaço e influência.
Grafo de interações do debate sobre as chuvas do RS no X
O debate sobre a tragédia no Rio Grande do Sul no X esteve concentrado em torno de 6 grupos principais, respectivamente: direita (47% das interações), esquerda (25,4% das interações) organizadores de campanhas de doação (9,3% das interações), páginas de entretenimento (5,8% das interações), páginas de fã-clubes (2,1% das interações) e perfis comuns (1,3% das interações).
Período de análise: 1º até 15 de maio de 2024
Fonte: X | Elaboração: FGV ECMI
Em todos os clusters, quando mapeados os 50 usuários com maior centralidade, observou-se um predomínio considerável de perfis privados em detrimento de atores e órgãos políticos. Isso ocorre mesmo entre os clusters de direita e esquerda, explicitando que embora estes grupos pautem a crise no RS do ponto de vista político, tratando da atuação do governo federal e da desinformação sobre o tema, são formados, majoritariamente, por perfis de influenciadores, jornalistas e artistas.
O fato de um ator ser central, vale dizer, evidencia que uma grande quantidade de outros atores se relacionaram com ele no debate online. É significativo, portanto, que os usuários com maior centralidade no debate sobre o RS sejam influenciadores, ao invés de políticos, pois aponta para o caráter público da crise foi suplantado pelo protagonismo do setor privado. Essa dinâmica evidencia uma característica que, mapeada em todo o debate sobre o RS, diz respeito a uma certa contraposição entre mobilizações civis e auxílios governamentais, o povo e o Estado, o privado e o público.
Esse fenômeno fica nítido quando verificado que, entre a direita, apenas 22% dos perfis estão vinculados à arena política, enquanto 66% são figuras públicas ou influenciadores e 12% correspondem a veículos de mídia e páginas ativistas. Entre o campo progressista, há uma tendência similar: cerca de 48% são artistas ou influenciadores, 28% são veículos de mídia e páginas ativistas e 24% correspondem a atores e órgãos políticos. Os outros grupos de destaque reforçam essa tendência de protagonismo do setor privado, uma vez que giram em torno de páginas de entretenimento e perfis comuns.
Mesmo que os atores centrais não sejam necessariamente figuras políticas, as narrativas em destaque apresentam um caráter politizado e um teor, mesmo que indireto, de confronto entre iniciativas públicas e privadas. No grupo de esquerda, circularam posts que defendem que influenciadores, como Felipe Neto, teriam ajudado mais o RS do que políticos aliados ao ex-presidente Bolsonaro. Por outro lado, no cluster de direita, ganhou capilaridade a narrativa de que o Estado é inapto para resolver algumas crises. No grupo composto por páginas de entretenimento, as ações de ex-BBBs e influenciadores, como Whindersson e Nego Di, são evidenciadas, em tom elogioso.
Dessa maneira, nota-se que o setor privado, representado sobretudo por influenciadores e artistas, não apenas mobilizou de modo mais central o debate sobre o RS, como ocupou o centro das narrativas e discursos em circulação.
Principais atores no Facebook e no Instagram
A repercussão das chuvas no Rio Grande do Sul no Facebook e no Instagram foi marcada pela cobertura midiática em diferentes níveis - da mídia tradicional à regional - e pelo forte interesse na cultura da celebridade, observada a partir da proeminência de perfis de influenciadores e canais de entretenimento. A ausência de nomes políticos aponta para um baixo agendamento de perfis deste segmento no debate mais amplo (1).
Período de análise: 1º até 15 de maio de 2024
Fonte: Facebook e Instagram | Elaboração: FGV ECMI
De maneira análoga às dinâmicas observadas no X, o debate no Facebook e no Instagram foi marcado pelo protagonismo de influenciadores, artistas e páginas de mídia e entretenimento. De maneira geral, houve pouco destaque para perfis governamentais ou representantes políticos propriamente ditos, o que denota um agendamento restrito por parte de perfis da esfera política sobre o tema.
No Facebook, foi registrado um predomínio de páginas de mídia de diferentes enquadramentos: desde a mídia tradicional à mídia hiperpartidária de direita e esquerda, passando por veículos esportivos e regionais focados em cidades do Sul. Já no Instagram, o debate foi impulsionado por páginas de entretenimento e fofoca, além de veículos de mídia, influenciadores e celebridades.
Em amplas as plataformas, o debate tendeu a ser centrado nas ações de influenciadores e celebridades, minimizando de maneira expressiva o agendamento de perfis políticos sobre o tema. No Instagram, o foco nas ações de influenciadores foi notadamente mais marcado, enquanto no Facebook ele coexistiu de maneira mais equilibrada com notícias de ordem prática, como atualizações sobre os riscos das chuvas e as situações das cidades, além da divulgação de canais de ajuda.
Nesse sentido, veículos de mídia tiveram grande centralidade no debate. Páginas ligadas à cultura da celebridade (Silva & Oliveira, 2016) tiveram especial proeminência - como as revistas Caras, Contigo, Quem e o site Splash UOL, no Facebook, e os perfis de entretenimento e/ou fofoca Gina Indelicada, Alfinetei e Hugo Gloss, no Instagram. Apresentadores de programas jornalísticos de televisão, como Reinaldo Gottino, também se destacaram.
O ministro Paulo Pimenta, à frente do Ministério Extraordinário da Reconstrução do Rio Grande do Sul, foi o único ator político a figurar entre os perfis de destaque: ocupou as 27ª e 94ª posições de engajamento médio no Facebook e no Instagram, respectivamente. O Governo do Rio Grande do Sul, a Defesa Civil do estado e algumas prefeituras foram os únicos órgãos governamentais a figurar entre os atores de destaque. Enquanto a página do Governo do RS atingiu a 16ª posição de engajamento médio no Instagram, a Defesa Civil gaúcha figurou nas 58ª e 19ª posições no Facebook e no Instagram, respectivamente.
No Instagram, as postagens de maior alcance foram relatos de influenciadores e celebridades que se articularam de alguma forma em prol das vítimas das chuvas. O DJ Alok, o comediante Whindersson Nunes, a modelo Gisele Bundchen e o vencedor do BBB 24, Davi, publicaram posts de maior impacto na plataforma. O envolvimento de celebridades com a tragédia registrou amplo espaço no debate não apenas a partir dos próprios perfis desses indivíduos, mas também em páginas de entretenimento e/ou fofoca. Dois dos posts de maior alcance, por exemplo, foram dos perfis Gina Indelicada e Alfinetei, que noticiaram o envolvimento do surfista Pedro Scooby nos resgates de vítimas.
No Facebook, as principais postagens refletem a mesma tendência, com destaque para posts sobre a atuação do jogador Thiago Maia em resgates de vítimas e o gesto de solidariedade do cartunista Mauricio de Sousa, que inseriu o personagem Cascão simbolicamente entre os voluntários da tragédia. É interessante observar que, de modo geral, o destaque adquirido por essas publicações diluiu de maneira considerável o caráter comumente polarizado dos debates nacionais, apesar da presença significativa de perfis hiperpartidários de direita e esquerda na discussão.
2. Linhas de ação: direcionamentos temáticos
Diante das pesquisas consolidadas pelo projeto Mídia e Democracia durante a tragédia climática do Rio Grande do Sul e outros estudos produzidos pelo projeto desde 2023, evidencia-se a necessidade de promover uma discussão ampliada sobre o combate a desinformação no ambiente digital e o desenvolvimento de ferramentas que possam fornecer respostas rápidas e precisas para a população, no contexto de tragédias climáticas e outras situações emergenciais.
O debate sobre o protagonismo de atores públicos e privados evidencia um descompasso entre o papel do poder público no socorro a vítimas de tragédias climáticas e demonstra como os regimes de visibilidade na plataforma interferem na percepção pública a respeito dos acontecimentos políticos e sociais. Além dessa disputa entre público e privado, os estudos também destacam a rápida disseminação de conteúdos desinformativos e a instrumentalização desse debate para disputas no campo da política, evidenciando mais uma vez a importância dessa temática. A formação de redes de solidariedade e o debate sobre racismo ambiental também se inserem nesse contexto, sinalizando para as múltiplas narrativas mobilizadas a partir da tragédia climática.
Diante deste cenário, os estudos elaborados no âmbito do projeto Mídia e Democracia, juntamente com as verificações desenvolvidas sobre o tema e os debates promovidos pelo conselho, sinalizam para a importância do trabalho de múltiplos atores em eventos climáticos extremos. Dentre eles, se destacam a promoção de políticas públicas capazes de fortalecer a atuação do setor público diante de tragédias climáticas, a responsabilidade das empresas de plataformas digitais no combate a desinformação e o papel das organizações da sociedade civil no fortalecimento de práticas comunicativas e na elaboração de ferramentas capazes de fortalecer o ambiente digital no atendimento às vítimas e ampliar o acesso à informação qualificada. Partindo do trabalho desenvolvido no âmbito do projeto, são propostas as seguintes linhas de ação:
2.1 Políticas públicas
2.1.1 Formular e implementar políticas públicas que operem como catalisadoras no acesso a serviços emergenciais e a informações qualificadas, investindo na integração de soluções tecnológicas, como chatbots, envios de alertas por SMS e toda uma gama de ferramentas digitais inovadoras, para otimizar a acessibilidade a serviços públicos;
2.1.2 Utilizar os dados da tragédia no Rio Grande do Sul como insumos para o desenvolvimento de propostas de enfrentamento desse cenário comunicacional em episódios semelhantes, através da criação de grupos de trabalho e da exploração de outros instrumentos disponíveis nos diferentes níveis da administração pública, em parceria com os demais setores;
2.1.3 Promover iniciativas de capacitação das secretarias e demais agentes de comunicação governamental para garantir maior visibilidade em cenários de crise;
2.1.4 Criação de políticas públicas voltadas à melhoria das estratégias de combate à desinformação por parte dos cidadãos, fortalecendo iniciativas informativas e educacionais sobre mudanças climáticas e promovendo a disseminação de informações e dados precisos;
2.2 Empresas de plataformas digitais
2.2.1 Otimizar o desenvolvimento de estruturas robustas para erradicar conteúdos desinformativos e detectar informações falsas ou manipuladas, com ênfase particular em contextos de emergenciais, incluindo colaborações estratégicas com organizações da sociedade civil e entidades jornalísticas para assegurar a certificação da autenticidade das informações divulgadas;
2.2.2 Formular e desenvolver estruturas tecnológicas que permitam que as interfaces das plataformas digitais se tornem veículos eficientes para a disponibilização de informações e serviços comprovadamente autênticos, particularmente voltados à assistência de vítimas de emergências climáticas;
2.2.3 Desenvolver e publicizar protocolos de crise previamente estabelecidos, aplicáveis a situações como as chuvas no Rio Grande do Sul, visando aumentar a preparação e resposta eficiente à comunicação de interesse público nestes casos.
2.3 Organizações da sociedade civil
2.3.1 Formalização de parcerias estratégicas entre organizações da sociedade civil, influenciadores e páginas de entretenimento de elevada visibilidade, com o intuito de amplificar a disseminação de informações e iniciativas pertinentes;
2.3.3 Desenvolver iniciativas de capacitação e conscientização para influenciadores digitais dos mais variados setores, trabalhando em parceria com esses atores para melhorar a capilaridade da comunicação emergencial em cenários de crise;
2.3.3 Promover uma colaboração sinérgica entre organizações sociais e especialistas em comunicação para desenvolver estratégias conjuntas que potencializem o alcance e a eficácia das iniciativas comunicativas das OSCs que atuam nesses contextos emergências.
3. Retrospectiva
Monitoramento
Entre abril e junho, foram produzidos 13 relatórios semanais. Para além dos desdobramentos das chuvas no Rio Grande do Sul, que motivaram relatórios específicos e uma série de checagens de fatos, a FGV Comunicação Rio se debruçou sobre a questão da regulação das plataformas digitais, discursos de fraudes eleitorais e o avanço de pautas conservadoras no âmbito do Congresso Nacional. Todos os monitoramentos e atividades do projeto podem ser acompanhadas pelo site.
No âmbito do debate sobre a regulação das plataformas, destacou-se um estudo desenvolvido pela FGV Direito Rio a respeito da desinformação nas eleições a partir de análises de anúncios do Google Ads veiculados no YouTube. O relatório constatou que, apesar da existência de uma Política de Conteúdo da plataforma, diversas postagens abrangendo conteúdos ilegais foram aceitas, demonstrando falhas no sistema de moderação que, caso não seja aprimoradas, podem causar uma série de problemas e ilegalidades no período de campanhas eleitorais, por exemplo.
Apresentado no evento em parceria com o TSE, o policy paper "Integridade eleitoral no ambiente digital: riscos e recomendações para as eleições municipais brasileiras", desenvolvido pelo Democracy Reporting International (DRI) mapeou riscos no ambiente digital para as eleições de 2024, focando em discursos de ódio, desinformação e anúncios políticos. A partir desses riscos, foram feitas recomendações para autoridades eleitorais, entidades da sociedade civil e plataformas digitais, visando fortalecer a democracia digital e antecipar desafios regulatórios e comunicacionais nas campanhas online.
Fact-Checking
A partir do monitoramento de redes sociais, a Lupa realizou sete verificações de conteúdos desinformativos em circulação nas plataformas. Postagens desinformativas sobre as chuvas no Rio Grande do Sul foram destaque, como as acusações de que a empresa de tecnologia Starlink, do empresário Elon Musk, teria sido a única fonte de conexão à internet para auxiliar nos resgates às vítimas.
É interessante pontuar que, no mês de abril, o mesmo Musk foi tema de todas as verificações da Lupa no âmbito do Mídia e Democracia em decorrência dos embates entre o empresário sul-africano e autoridades brasileiras sobre a regulação das plataformas. Sobre esse tema, podemos destacar: Musk não entregou aos EUA provas de interferência de Moraes nas eleições; G1 não noticiou que influenciador foi multado por curtir comentário de Elon Musk contra Alexandre de Moraes; e Governo Lula não anunciou suspensão de contratos com a Starlink, de Elon Musk.
Conselho Mídia e Democracia
O conselho permanece como um espaço para fomentar debates entre organizações da sociedade civil, especialistas e autoridades políticas. As entidades que integram o conselho contribuíram para a criação do relatório de risco, que avaliou a integridade do processo eleitoral brasileiro para as eleições de 2024, além de terem acompanhado a discussão sobre a desinformação durante a catástrofe climática no Rio Grande do Sul.
Eventos
Entre abril e julho, o Mídia e Democracia realizou três eventos para discutir temáticas caras ao projeto. O Seminário Internacional - Inteligência Artificial, Democracia e Eleições foi realizado em parceria com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília, para discutir os desafios que a inteligência artificial apresenta para as democracias atuais, com destaque para a participação dos ministros Alexandre de Moraes e Cármen Lúcia. Já o Violência Política de Gênero e Raça no Brasil - Combate e Desafios, reuniu especialistas, representantes de plataformas digitais e autoridades políticas para debater a interseção entre gênero, raça e violência política. Por fim, o webinar Information Integrity in the G20 - Social Media, Human Rights and Democracy foi composto por um painel de especialistas para explorar o papel da regulação das plataformas digitais na proteção dos direitos humanos e no fortalecimento dos pilares da democracia nos países do G20.