Corrida eleitoral nos EUA: como os usuários do YouTube no Brasil falam sobre Kamala, Trump e democracia?

Por: FGV Direito Rio

 

Por: FGV Direito Rio

 

  • Criadores de conteúdo e mídia alternativa geraram um engajamento mais alto do que canais de mídia tradicional, precisando de apenas 12,99 visualizações, em média, para gerar interação, enquanto a mídia tradicional precisou de 28,26 visualizações para alcançar uma interação em seus vídeos.
  • Em geral, usuários demonstraram mais apoio à Kamala Harris do que a Donald Trump. Por sua vez, os comentários em apoio a Trump são permeados por ataques à candidata e à imprensa e flertam com teorias da conspiração.
  • Comentários sobre Kamala Harris são marcados por racismo e misoginia, com questionamentos sobre sua identidade étnica e suas competências para concorrer ao cargo. 
  • O debate é permeado por ataques à imprensa e à integridade das eleições (547 de 2.885 comentários), com menções à manipulação midiática e de pesquisas em favor dos Democratas, além de questionamentos às instituições democráticas e alegações de fraude eleitoral no Brasil.

Apresentação

A eleição presidencial dos Estados Unidos gera debates que mobilizam as redes sociais em todo o mundo. Os pleitos recentes têm sido marcados pela polarização ideológica entre democratas e republicanos, com intensa radicalização de discursos da extrema-direita – contra imigrantes, direitos reprodutivos e de pessoas LGBTQIA+.

Neste ano, o período pré-eleitoral incluiu alguns eventos relevantes envolvendo os candidatos ao pleito, como a tentativa de assassinato sofrida pelo ex-presidente Donald Trump durante um comício e o anúncio da desistência à reeleição do presidente Joe Biden, que apontou sua atual vice, Kamala Harris, como sua sucessora. 

Diante desse cenário, o presente relatório busca mapear o que canais e usuários do YouTube, no âmbito brasileiro, têm falado sobre ambas as candidaturas. O objetivo é identificar quais as principais características do conteúdo produzido e a finalidade dos comentários. 

Metodologia

Este relatório foi elaborado a partir de um conjunto de dados extraídos do YouTube, incluindo vídeos e comentários publicados na plataforma, no período de 22 julho a 10 de setembro de 2024. O recorte temporal escolhido compreende o período pré-eleitoral nos Estados Unidos. Um total de 390 vídeos relacionados ao tema na mídia brasileira foram extraídos utilizando uma sintaxe de busca orientada por expressões e hashtags relacionadas aos candidatos, tais como: EUA; eleição; convenção; ataque; Democratas; Republicanos; comício; Kamala; Harris; Trump.

Para a análise das interações entre os tipos de perfis que veiculam conteúdo no YouTube e a atividade de produção midiática, assim como em outros relatórios(2), utilizamos como referência principal o trabalho de Nina Santos (3) (2021). Santos propõe uma tipologia de perfis e canais que produzem conteúdo na Internet, como mostra a Tabela 1 abaixo, constituída por: Criador de Conteúdo, Mídia Alternativa e Mídia Tradicional.

Veja aqui a Tabela 1 - Quadro, com descrição de perfis com atuação em redes sociais

A partir da extração inicial, criamos um banco de dados dos vídeos coletados. A partir de uma análise preliminar, identificamos e descartamos os vídeos não relacionados ao tema proposto. Vídeos que continham apenas comentários em língua estrangeira também foram excluídos, assim como aqueles que continham menos de 90 comentários. Como resultado, restaram 29 vídeos para este estudo, com um total de 10.193 comentários. Esses vídeos estão descritos na Tabela 2 abaixo.

Veja aqui a Tabela 2 - Lista de vídeos analisados

O relatório está dividido em duas seções principais: (i) análise quantitativa das métricas gerais de canais e engajamento de vídeos; e (ii) análise dos comentários. Nessa segunda seção, realizamos análise de tópicos e de toxicidade em todos os 10.193 comentários e uma análise qualitativa em profundidade dos 100 primeiros comentários de cada vídeo. Para os vídeos com 90 a 100 comentários, todos foram considerados. Isso levou à análise qualitativa de uma amostra de 2.885 comentários.

 Para a análise dos comentários, elaboramos um dicionário de termos previamente agrupados, abrangendo menções (apoio, desaprovação, insulto ou elogio) e ataques direcionados às principais figuras políticas e temas relacionados às eleições. Esse dicionário incluiu termos e gírias frequentemente usadas para se referir à Kamala Harris, Donald Trump, integridade do processo eleitoral e mídia. O objetivo foi identificar padrões e categorizar automaticamente as interações online, facilitando a compreensão da dinâmica do debate.

Para a análise de tópicos, organizamos e agrupamos os comentários utilizando o BERTopic, uma técnica de modelagem de tópicos que emprega representações semânticas para capturar significados contextuais e gerar tópicos coerentes. Esse processo levou à criação de clusters de comentários com base em temas e palavras-chave recorrentes, resultando em uma classificação estruturada em oito tópicos: 1) Kamala Harris e Pesquisa Eleitoral; 2) Eleições americanas; 3) Donald Trump e Política Americana; 4) Questões raciais e de gênero; 5) Acusações de fraude e ataques à mídia; 6) Críticas aos debates e à imprensa; 7) Disputa política e críticas ao Trump a partir de figuras de linguagem; 8) Elogios e críticas à entrevista de Kamala Harris. Cada tópico foi identificado e nomeado com base em seu conteúdo principal, possibilitando uma visão estruturada das principais narrativas discutidas nos comentários analisados.

Com relação à análise de toxicidade, utilizamos o Detoxify, que classifica a toxicidade dos comentários em uma escala de 0 a 1. Para este relatório, nos concentramos em comentários com índice de toxicidade superior a 0,6. Assim, a segunda seção da análise é dedicada aos 853 comentários com níveis elevados de toxicidade.

(i) Análise de métricas gerais dos perfis ou canais analisados

Volume de publicações

  • Como descrito na Metodologia, foram analisados 10.193 comentários distribuídos em 29 vídeos de 14 canais diferentes listados e categorizados na Tabela 2 acima. 
  • Entre esses vídeos, perfis ou canais de mídia tradicional foram responsáveis pela maior parte da disseminação de informações sobre as eleições nos Estados Unidos, com 23 vídeos analisados. 
  • Em seguida, destacam-se os criadores de conteúdo, com 4 vídeos, e a mídia alternativa, com 2 vídeos.

Gráfico 1: Proporção de Publicações por Tipo de Mídia

 

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Elaboração: FGV Direito Rio 

Análise da relação entre a interação dos usuários com os canais

  • O Gráfico 2 abaixo ilustra a análise das interações e visualizações de cada vídeo. Destaca-se que, enquanto a mídia tradicional atinge um volume maior de visualizações (eixo X e o tamanho das bolhas), os criadores de conteúdo e a mídia alternativa geram um engajamento proporcionalmente maior (Y).
  • Em média, os vídeos dos criadores de conteúdo necessitam de apenas 7,7 visualizações para gerar uma interação, enquanto os de mídia alternativa precisam de 13,9 visualizações, e de mídia tradicional 23,6 visualizações por interação.

Gráfico 2: Relação entre Visualizações e Interações nos Canais

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Elaboração: FGV Direito Rio 

  • Em relação aos canais de mídia tradicional, que foram os mais recorrentes na coleta realizada: 
    • O UOL se destaca com o maior número de visualizações (208.876) e interações (8.390). 
    • Band Jornalismo e CNN Brasil têm números elevados de visualizações, mas interações mais baixas, sugerindo um público menos engajado.
  • Sobre os canais de mídia alternativa: 
    • O canal ICL possui a maior proporção de interações por visualização, com 5.946 interações para 67.458 visualizações.
    • O canal O Tempo possui 1.163 interações para 31.014 visualizações. 
  • Em relação aos canais de criadores de conteúdo: 
    • Brasil Paralelo também apresenta alto engajamento, com 3.245 interações em 34.607 visualizações.
    • TV Coiote obteve 916 interações em 6.924 visualizações.
    • Ponderações com Joza Novalis alcançou 2.797 interações em 14.300 visualizações.
    • EconoFácil registrou 924 interações em 4.862 visualizações.
  • De forma geral, os vídeos dos canais de criadores de conteúdo e da mídia alternativa apresentam um público mais engajado, enquanto a mídia tradicional apresenta maior volume de visualizações.

(ii) Análise dos comentários

  • Para a análise dos comentários realizamos (a) uma análise de tópicos e de toxicidade, e (b) uma análise qualitativa em profundidade. 
  • A combinação desses dois métodos nos permite compreender as nuances do debate em torno da corrida entre Kamala Harris e Donald Trump para a Casa Branca, a partir de uma leitura macro e micro-sociológica deste debate.

a)Análise de tópicos 

  • A presente seção explora a frequência de categorias específicas no total de comentários coletados para esta análise. Além disso, exploramos também o nível de toxicidade do total de comentários. 
  • Os tópicos de análise incluem (1) menções aos dois candidatos (apoio, elogio, neutro, desaprovação e insulto), (2) ataques à integridade eleitoral e (3) ataques à mídia. 
  • Nos gráficos a seguir, apresentamos tanto a distribuição dos comentários por tópico quanto as correlações entre o volume de interações e o nível de toxicidade. Isso proporciona uma visão clara das tendências e polarizações observadas nas discussões online.
  • Conforme detalhado na Metodologia, a análise quantitativa diz respeito a um total de 10.193 comentários distribuídos em diferentes vídeos. Os comentários foram organizados e agrupados utilizando o BERTopic. 
  • O processo permitiu a criação de clusters de comentários com base em temas recorrentes e palavras-chave, resultando em uma classificação estruturada dos principais tópicos apresentados abaixo. 
  • Cada tópico foi identificado e nomeado conforme seu conteúdo principal, possibilitando uma visão estruturada e abrangente das principais narrativas discutidas nos comentários analisados.
  • Os comentários foram organizados em 8 grupos centrais, numerados de 1 a 8, além de um grupo adicional, identificado como Tópico 0, que reúne outliers. A categorização dos tópicos e as palavras-chave associadas a cada um desses grupos está apresentada na tabela a seguir.

Veja aqui a Tabela 3 - Quadro com análises de tópicos

  • O Gráfico 3 abaixo revela uma distribuição desigual de comentários, com uma diferença de quase 3.900 entre o maior e o menor grupo.

 

Gráfico 3: Frequência de Comentários por Tópicos

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Elaboração: FGV Direito Rio 

  • O Tópico 1, sobre Kamala Harris e pesquisa eleitoral, foi o maior agrupamento, com 3.926 comentários, enquanto os Tópicos 2 a 8, somados, tiveram menos interações que o Tópico 1 sozinho.
  • Os últimos três tópicos somam 164 comentários, evidenciando a concentração do volume de interações em poucos tópicos.

b)Análise de toxicidade

  • Para esta análise, foi realizada uma avaliação do índice de toxicidade utilizando o modelo Detoxify, que classifica a toxicidade em uma escala de 0 a 1. Focalizamos os tópicos com comentários cujo índice de toxicidade fosse superior a 0,6, ou seja, aqueles que continham os conteúdos mais tóxicos. 
  • Com isso, foram destacados 853 comentários Em seguida, calculamos as médias de toxicidade por tópico dentro desse grupo de comentários.
  • O Gráfico 4 abaixo revela não só o volume de comentários em cada tópico, mas também o nível médio de toxicidade associado. 
  • As barras roxas indicam a média de toxicidade, enquanto a linha amarela e os números ao lado refletem o volume de comentários em cada tópico.

Gráfico 4: Análise Cruzada entre Volume de Comentários e Toxicidade Média

 

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Elaboração: FGV Direito Rio 

  • O Tópico 1, sobre Kamala Harris e pesquisas eleitorais, registra o maior volume de comentários tóxicos, com 446, e apresenta a terceira maior média de toxicidade, com 0,86.
  • Neste Tópico, os comentários envolvendo a candidatura de Kamala Harris e questionamentos sobre as pesquisas eleitorais refletem o alto nível de toxicidade, destacando o impacto das críticas em torno de sua candidatura.
  • Tópicos diretamente relacionados a insultos e críticas aos candidatos, tanto Kamala quanto Trump, exibem consistentemente alta toxicidade.
  • Os agrupamentos 6 e 7, apesar do baixo volume de comentários (1 e 3, respectivamente), apresentam as maiores médias de toxicidade.

Dicionário de Termos

  • Como explicitado na metodologia, para a análise das discussões sobre as eleições americanas, foi construído um dicionário de termos previamente agrupados, abrangendo menções, elogios, insultos e ataques direcionados às principais figuras políticas e temas eleitorais. 
  • Esse dicionário incluiu termos e gírias frequentemente usadas para se referir a Kamala Harris, Donald Trump, à integridade do processo eleitoral e à mídia. O objetivo foi identificar padrões e categorizar automaticamente as interações online, facilitando a compreensão da dinâmica dos debates.
  • Os dados foram coletados a partir de comentários em vídeos e cruzados com esses termos, permitindo a classificação automática de cada menção. Esse processo possibilitou uma visão mais detalhada de como os usuários se engajaram com as discussões, especialmente em tópicos polarizadores. 
  • O Gráfico 5 abaixo reflete essa categorização, oferecendo uma visualização da intensidade e distribuição das menções. 
  • Além de ilustrar a predominância de certos temas, ele evidencia a proporção de elogios, insultos e ataques relacionados a cada figura pública e tópico.

Gráfico 5: Mapa de Calor (Tópicos por Menções)

 

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Elaboração: FGV Direito Rio 

  • O Tópico 1 (Kamala Harris e pesquisa eleitoral) concentra o maior volume de menções diretas a Kamala Harris, com 632, além de 78 insultos e 273 menções relacionadas à integridade eleitoral. A quantidade significativa de insultos e ataques à integridade eleitoral neste tópico reforça um debate altamente polarizado em torno de sua figura, especialmente em questões de legitimidade do processo eleitoral.
  • Embora Kamala tenha recebido mais menções totais, o Tópico 2 (Eleições Americanas) apresentou 378 menções diretas e indiretas a Donald Trump, com uma proporção menor de insultos (16). Isso demonstra que, apesar de ser um alvo de discussões, as menções a Trump não geraram tantos ataques pessoais quanto as direcionadas a Kamala neste tópico.
  • É possível observar o padrão que o volume de elogios a ambos os candidatos é significativamente menor quando comparado aos insultos. Enquanto Kamala recebeu 57 elogios contra 282 insultos, Trump recebeu apenas 2 elogios e 123 insultos.
  • O Tópico 1 também registrou 273 comentários contendo ataques à integridade eleitoral e 45 menções relacionadas a ataques à mídia, reforçando que as discussões sobre Kamala estavam frequentemente acompanhadas por desconfiança em relação à cobertura jornalística e à integridade eleitoral.

Tendências do Debate por Termos Frequentes

  • Identificamos padrões de linguagem recorrentes nos 10.193 comentários coletados. Por meio da filtragem de palavras, organizamos os comentários para uma melhor avaliação dos termos frequentes envolvidos no debate. Com isso, foram excluídas classes gramaticais como artigos, conjunções, numerais, preposições e interjeições, foram extraídas as principais expressões e termos, refletindo as dinâmicas de apoio, crítica ou neutralidade nas discussões. 
  • A nuvem de palavras abaixo mostra as palavras mais frequentes que lançam luz sobre as principais tendências entre os usuários. Essa visualização sintetiza as palavras mais utilizadas, destacando a polarização política e os temas centrais das eleições.

Figura 1: Nuvem de Palavras dos Comentários

nuvem de palavras

Elaboração: FGV Direito Rio 

  • A nuvem de palavras evidencia "Trump" e "Kamala" como dois dos termos mais recorrentes, mostrando que as discussões estão fortemente centradas na figura dos dois candidatos.
  • A frequência de termos como "esquerda", "direita", "extrema", "fraude", "verdade" e "mentira" evidenciam a intensa polarização ideológica nos debates e comentários de desconfiança sobre a integridade do processo eleitoral.
  • A presença dos nomes de "Brasil", “Lula" e “Bolsonaro” reflete a associação por usuários brasileiros do YouTube do debate eleitoral dos EUA com o debate brasileiro. 
  • Além disso, também é possível observar grande volume de citação ao presidente russo, Vladimir Putin, devido à entrevista em que menciona de forma sarcástica seu apoio à Harris.
  • A palavra "mulher", associada à candidatura da Kamala Harris, evidencia que questões de gênero também permeiam os comentários sobre as eleições americanas.
  • A frequência de termos como "imprensa", "fake", "news", "mídia" e "mentira" sugerem a elevada quantidade de comentários que se debruçam sobre a cobertura dos meios de comunicação na esteira dos ataques à imprensa midiática e à veracidade das informações de pesquisas.

Análise qualitativa

  • O objetivo da análise qualitativa em profundidade é observar as narrativas dos usuários brasileiros do YouTube sobre a disputa eleitoral em curso nos EUA. 
  • Conforme detalhado na Metodologia, para esta seção, analisamos os primeiros 90-100 comentários de cada um dos vídeos, resultando em um total de 2.885 comentários analisados. 
  • Criamos categorias-chave que permitiram identificar as estratégias narrativas mobilizadas. Estas foram: (i) Menções à Kamala, (ii) Menções ao Trump – apoio, elogio, neutro, desaprovação e insulto, (iii) Ataque à integridade eleitoral e (iv) Ataque à mídia. 

Menções Elogiosas

  • Os elogios não foram fortemente mobilizados. Tivemos 13 comentários para Trump e 35 para Harris. Os comentários relativos a ele exaltam sua masculinidade e inteligência. 

“Jair Messias Bolssonaro , Milei , Donald Trump e o presidente de El Salvador são os melhores do mundo

“Kavala late late mais não vai morde. TRUMP É INFINITAMENTE MAIS INTELIGENTE E TEM UMA ORATÓRIA IMPRESSIONANTE

  • Por outro lado, os comentários elogiosos relativos à Kamala tratam da sua beleza, carisma e educação. Em outras palavras, fazem alusão a aspectos típicos de estereótipos de feminilidade. 

Ela tá com um sorriso lindo

“Amo essa mulher, inteligente, articuladissima, linda. Há muito que não a assistia. Adorei”

“Ela é muito carismática. Vai ganhar desse arrogante..”

  • Dessa forma, enquanto Trump é predominantemente elogiado por sua inteligência, estratégia e força política, Harris é menciona por causa de sua beleza e seu carisma. Isso não é por acaso. Elogios sobre aparência e traços femininos típicos servem como formas de regular o comportamento feminino em espaços públicos (Curzi, 2023)(5). Assim, as mulheres muitas vezes não são elogiadas por características tipicamente valorizadas em líderes políticos masculinos, como assertividade e capacidade de liderança, mas sim por sua aparência e potencial submissão.

 

Menções Neutras

  • Os comentários neutros sobre ambos os candidatos totalizaram 252 – 112 para Harris e 140 para Trump, com 37 deles mencionando os dois personagens conjuntamente, comparando os dois candidatos ou analisando a conjuntura em geral.
  • Esses comentários são extensos e podem misturar as pretensas análises com críticas à mídia, com foco nas pesquisas de intenções de votos.

“Com Kamala fica mais fácil para Trump pois a grande maioria do povo americano e conservador"; 

"Kamala tem país não americano e isto pesa muito para o povo americano nos dias de hoje.”

“Amém. Verdade.Eu creio. Kamala Harris; foi mais educada; para com o canditato; Donald Trump. Ela não usou de grosseria.”

“Sem querer tomar partido, mas essa senhora foi procuradora dos EUA, ela é bastante preparada e inteligente. Porém só vamos ver suas habilidades nesse próximo debate contra o Trump. Esse quero assistir. Enfim, vamos aguardar👍🏻”

 

Menções de Apoio

  • Tanto em Kamala Harris, quanto em Donald Trump, tiveram “Apoio”, como categoria mais proeminente. Ele com 241 e ela com 328 comentários. De maneira geral, nos vídeos selecionados em nossa amostra, Harris tem sido significativamente mais apoiada que seu opositor pelos usuários do YouTube no Brasil. 
  • As mensagens de apoio a ela são mais neutras. Algumas mencionam Trump, mas isso não é feito de maneira ofensiva, como mostram os exemplos:

Ela tá Kamala pronta pra Casa Branca”

“Melhor que tramp , mais conciente.”

  • Comentários de apoio ao Trump seguem uma linha mais provocativa, menosprezando e zombando de Harris. Possuem também tons de sarcasmo contra a mídia e teorias de conspiração sobre uma suposta ameaça comunista advinda da candidatura de Harris:

Bla bla bla bla nunca que essa comunista vai ganhar de traump 😂😂😂”

Mídia mentirosa e demoníaca, mentem e os bobos acreditam, se não roubarem de novo, Trump vai dá de lavada nessa comunista diabólica

“Dito isto, Trump vai amassar ela…”

  • Em apoio a Harris, há acusações de que Trump é amigo do ex-presidente Jair Bolsonaro (mencionado como “ladrão de joias”) devido à proximidade ideológica entre ambos.

“Se o TRUMP defendesse nós GAYS eu votaria nele. Por conta disso vou torcer pela Kamala.

“Quem tem mais chance? A Kamala, claro. Muito mais bonita que o Trump.”

“SÓ VAI AUMENTAR AGORA KKKKKK KAMALA VAI VENCER DO AMIGO DO LADRÃO DE JÓIAS 💎💎💎💎 KKKKKK"

 

Menções de Desaprovação

  • Na categoria “Desaprovação”, Kamala é um pouco mais desaprovada que Trump, com 193 comentários desaprovando-a contra 168 dirigidos a ele.
  • Além disso, 28 comentários desaprovam ambos os candidatos. 

“Os EUA vai quebrar de qualquer jeito, co umm trump  é mais divertido com kamala é mais rápido.”

“Kamala e Trump são farinha do mesmo saco.”

  • Os comentários que desaprovam Trump possuem tom de deboche e acusações diretas de supostos crimes cometidos pelo candidado. Por outro lado, valorizam Kamala enquanto ex-promotora. 

“@@Alvaruskühl Tão morrendo de medo, Trump já fugiu do debate com a Kamala, Vcs tem medo de mulher kkkkk”

“De um lado uma procuradora de justiça do outro um cheio de problemas de processos para resolver tu acha quem ganha”

O Trump tem 34 processos para responder!”

  • Trump também é comparado a Bolsonaro nesse conjunto de comentários.

“Trump sera derrubado pela arrogância. Igual Bozo aqui

  • Nos comentários que desaprovam Harris, aparecem especulações com teorias de conspiração acerca de uma possível vitória do comunismo nos EUA. 

“Essa mulher com certeza quer implantar o comunismo no Estados Unidos aí a merda tá feita 🤔”

“Votar em Karmala e ter novamente um 11 de setembro dez vezes pior, e ter 100 vietnas em cima do.povo americanos. A esquerda corrupta e desleal fortalece a desgraca no mundo, e os americamos historicamente sempre pos a esquerda abaixo dos pes .. Pensem nisso vc s pessoas do Eua Querem um novo 11 de setembro?”

 

Menções com Insulto

  • Um total de 161 comentários continham insultos direcionados a Donald Trump, enquanto 266 comentários continham insultos para Kamala. 
  • Os comentários relacionados a Trump se dividem, principalmente, entre menções à idade avançada e características físicas. 
    • A idade do candidato foi mobilizada como pedidos para a sua saída da disputa, inclusive com menção à desistência de Biden. Identificamos xingamentos etaristas, com o uso de palavras como “velho”, “velhinho” e “idoso” nos comentários direcionados a ele. 
    • Em relação a sua aparência, apelidos como “laranjão” e “cenourão” apareceram para satirizar o característico tom de bronzeamento do candidato.

“Só doido pra votar em um doente ainda velho😅😅😅” 

“Vai apanhar feio velho gagá 😂😂😂😂😂😂😂” 

Escolha dificil 😂 procuradora X condenado gagá

“O velho extremista tinha que tomar a mesma atitude do Biden .ficaria menos vergonhoso pra ele..👍👍” 

 “Para cima dos criminosos! Coloca o Trump na cadeia já!” 

“Tadinho do Laranja 🍊 Mecânica😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂” 

“Laranja vai pro lixo 🗑️”

  • Em relação a Kamala Harris, encontramos comentários marcados por racismo, misoginia e xenofobia, com o objetivo de descredibilizar seu histórico na política norte-americana.
  • Tais comentários representam tentativas claras de deslegitimar sua candidatura e eventual presidência. Uma estratégia bastante observada foi nomear a candidata de “cotista” – termo muito específico e ofensivo no contexto político brasileiro. À direita ou à esquerda da candidata, o termo é usado com intuito racista e como um meio de deslegitimar sua candidatura. 

“O único que não começou guerra foi ele. A cotista é candidata do sistema, vai se envolver em conflitos pra alimentar o complexo industrial militar

Tá lindo o pessoal acreditando que a cotista vai ganhar UEBEHHEHEHE. Parece que esqueceram que as pesquisas diziam que a Hillary ia ganhar dele HAHAHAHAHAHAHA”

“A cotista não sabe responder uma pergunta, coitada” 

“Olha o naipe do pessoal acreditando que a cotista vai ganhar HAHAHAHAHAHAHAHA” 

“[...] A cotista é candidata do sistema, vai se envolver em conflitos pra alimentar o complexo industrial militar” 

  • Os ataques direcionados à Kamala também a caracterizam como inapta para ocupar a presidência por meio de insinuações evidentemente racistas e xenofóbicas acerca de sua identidade étnico-racial. 

IMAGINA ESSA MUIÉ KOZINHANDO GOROROBAS INDIANAS E AFRICANAS NA KAZA BRANCA !!!!!!! 🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣”

"ESSA JAMAICA, COM HINDU, NÃO VAI DAR NEM PRO CHEIRO , PRO LARANJÃO.” 

“ESSES AI SÃO OS VELHOS KOZINHEIROS DE GOROROBAS INDIANAS DE FAST FUCK FOODS STREET E JAMBIROBAS AFRICANAS NA KOZINHA DA KAZA BRANCA !!!!!!! BLACK HOUSE MASTER CHEF !!!!!!!!! 🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣 VÃO PEDIR AZILO AQUI P TRAMPA LA NO CTN !!!!!!!!!! 🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣”

 

  • Como filha de imigrantes da Jamaica e da Índia, a origem da família de Kamala foi utilizada para fazê-la alvo de ataques abertamente racistas e xenofóbicos que questionavam sua identidade como mulher afroasiático-americana e seu lugar na sociedade estadunidense. 



Uma mistura de dominicana com hindu descendente do maior escravagista dominicano querendo se passar por mulher afro!! Como procuradora foi a que mais prendeu negros na Califórnia! Politicamente é dilma americana so fala coisa sem nexo conhecida como hiena pois vive rindo perdeu a indicação na campanha anterior para BIDEN! Agora midia do sistema tenta alavancar esta anta na pesquisa fajuta! uma social climber cujo sucessos tem o minimo de meritocracia e pesa mais os casos e casos com homens influentes casados!!! pesquise e vão ter a ficha dela completa” 

“[...] Agora vamos ver quem é o marido da Kamala. Um branco velho. Precisamente aquilo que a comunidade negra não gosta. Uma "suposta" negra que preferiu escolher um marido branco. Interessante que a Mónica é bem articulada, mas tem aquele sorriso estranho da Kamala.” 

“Kamala é filha de indianos com nigeriano... é americana faz muito pouco tempo 

  • Ao contestar sua identidade enquanto mulher negra, os comentários sugerem que Kamala não apresentaria as qualidades necessárias para ser considerada “suficientemente negra”, ou seja, não seria uma mulher afro-americana “verdadeira” e, portanto, ainda não estaria integralmente incorporada à sociedade norte-americana, muito menos habilitada para o exercício da função de Presidência dos Estados Unidos. 
  • Além disso, frequentemente os usuários, ao atacar sua origem, se referiam a outros países que não aqueles dos quais seus pais migraram (ex. Nigéria e República Dominicana), revelando total desconhecimento de sua história, bem como incorrendo em generalizações racistas. 
  • Muitos ataques recorreram à misoginia pura contra Kamala, insinuando que a candidata não seria equilibrada para ocupar a Casa Branca, uma das maiores posições de poder no mundo.

     

“EU TENHO MEDO de mulheres com TPM, imaginem agora UMA mulher com poder nuclear nas mãos?”

Essa mulher é um perigo. Já imaginou comunista governando os US. A URSS do continente americano”

“mil vezes o Trump. Mulher ainda não tem pulso pra assumir o mais poderoso país do mundo.”

 

  • A maior parte dos ataques e insultos direcionados à Kamala Harris apelam para o seu posicionamento favorável aos direitos reprodutivos e seus esforços para abordar questões como a segregação e desigualdade de gênero e raça. 
  • Há sempre a insinuação de que Kamala representa uma figura inadequada para  governança nestes temas, sugerindo que ela levaria à degradação de valores, colocando em risco instituições como a família e a própria segurança nacional.

 

“Direito ao aborto? Direito à produtividade? Diz isso uma mulher que aos 59 anos não tem filhos? O que ela entende sobre maternidade?”

“Qualificações e virtudes de Kamala: Mulher,Negra,Feminista,Abortiva,Liberar as Drogas etc.... 😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂”

Essa mulher vai transformar o exército americano num puteiro com muito LGBT vai ficar fácil destruir os usa.”

  • Ainda nesta perspectiva, é comum que tais comentários de cunho mais conservador se refiram aos posicionamentos da Kamala como reflexo da chamada “Cultura woke”, que nessa perspectiva, significaria uma suposta perda de direitos daqueles que não integram grupos minoritários, relevando o caráter reacionário destes ataques.

“O programa de governo da Harris é Matar dentro do ventre materno, liberar bandidos, aumentar a invasão autorizada pelos governantes da esquerda, e promover a cultura WOKE. “

“Kamala freedom abortion gender ( gays , lesbians , LGBT , lGPT, etc etc , Full freedom for Emigration…war between Black and White … representation of the American cooperation.. etc etc etc !… fuck the average people!!!” 

 

  • Analisando a categoria “Insultos”, outra estratégia discursiva comummente utilizada para atacar Kamala Harris foi compará-la com a ex-presidenta Dilma Rousseff. Na visão dos usuários, Kamala seria apenas uma marionete da administração democrata e de Joe Biden, tendo em vista que, de acordo com os comentários, a candidata teria somente “herdado” os votos de Biden. 
  • Nesse sentido, assim como Dilma Rousseff, Kamala é alvo de uma suposta falta de capacidade e preparo, sugerindo que ela não teria autonomia em suas decisões. Por esse motivo, ela é considerada uma candidata fraca à Presidência dos EUA. 

 

“KAMALA É A DILMA VERSÃO INGLÊS BURRA SÓ FALA BESTEIRAS E DESASTROSAS, ATÉ ENGRAÇADAS, KAMALA ROUSSEFF 🤣🤣🤣🤣🤣”

“NUNCA QUE A DILMA AMERICANA VAI GANHAR”

“claro qui eli vai apoio a Dilma americana eli que qui ela gsnhe pq eli tem nedo do tramp”

“Essa Dilma Americana nem vice tem e é líder nas pesquisas que mentira em😂😂😂😂😂” 

“KAMALA É A DILMA VERSÃO INGLÊS BURRA SÓ FALA BESTEIRAS E DESASTROSAS, ATÉ ENGRAÇADAS, KAMALA ROUSSEFF 🤣🤣🤣🤣🤣 NUNCA QUE A DILMA AMERICANA VAI GANHAR”

 “Dilma.2. Tomara que o veinho caia fora pq as pérolas ditas e feitas por ela se tornarão ainda mais evidentes ANTES das eleições”

 

Ataques à imprensa e à integridade das eleições

  • Identificamos 508 ataques à imprensa no conjunto de 2.885 comentários analisados em profundidade. 
  • Os usuários apontam uma suposta imparcialidade dos veículos de comunicação e dos jornalistas que narram as reportagens ou tecem análises acerca do pleito norte americano, tanto canais norte americanos, quanto brasileiros.

“Mais uma narrativa da imprensa comprada”

“Reportagem ficou 70% do tempo exaltando a Kamala. Impressionante a parcialidade.”

“Kamala à frente de Trump??? A mulher não teve voto nem no próprio partido 🎉 . Esse jornalismo da Band é muito ruim, eu diria delirante”

 

  • Um importante aspecto identificado nos comentários direcionados à mídia, conecta institutos de pesquisa a veículos da imprensa. Os comentários questionam a confiabilidade do resultado das pesquisas, em particular daqueles que apontam empate entre os candidatos ou vantagem de Kamala. O principal argumento associa o resultado da pesquisa com a preferência política e/ou partidária da mídia que está noticiando a pesquisa de intenção de voto.

 

“😂😂😂😂😂 empatada nas pesquisas... Ridículo!! E data folha é???? 😂😂😂😂😂😂”

Todas as pesquisas de opinião são tendenciosas e falseadas quando estão em questão interesses políticos. O sistema, lá como cá, é de esquerda. Eles vão sempre tentar impingir a ideia de que Kamala está à frente. Trump há de vencer.”

“QUEM FEZ A PESQUISA? A QUAEST-BTG DO AMIGO DO LULLE?? KKKKKK PRA QUEM NÃO VIU A PESQUISA, ELES SIMPLESMENTE ENTREVISTARAM 25% MAIS DEMOCRATAS DO QUE REPUBLICANOS. DÁ ATÉ VERGONHA!!!”

Trump tinha 80 % do consenso.... Chegou a h Kamala...e ja empatou Que jornalismo .. péssimo 😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂”

 

  • Os comentários denotam ampla desconfiança nos institutos de pesquisa que fraudariam os dados das intenções de voto para favorecer pessoas candidatas de partidos à esquerda. 
  • Frequentemente os usuários relacionam os dados das pesquisas com os institutos de pesquisa brasileiros, sugerindo uma manipulação das pesquisas pelas instituições que seriam, supostamente, tendenciosas à esquerda. 
  • Mais diretamente, 65 comentários dos 2.885 analisados de forma qualitativa em profundidade atacam a integridade eleitoral do sistema norte-americano. 
  • Equivocadamente, alguns comentários questionam o uso de urnas eletrônicas – sistema utilizado apenas em alguns estados dos EUA que, majoritariamente, ainda opta pelo sistema de votos impressos. 
  • Outros, questionam as pesquisas eleitorais e atacam também a confiabilidade no sistema eleitoral, apontando fraude nas instituições democráticas.

"Era bom já pedir voto impresso, código fonte, para não acontecer o mesmo que no Brasil. Patriotas unem-se"

"Pesquisa Band News... tão confiáveis quanto as urnas eletrônicas..."

"Esses vermes só fala mentira estão doido pra frauda lá também"

"Gente, olhem como se prepara uma fraude eleitoral.. . observem... começa assim, empate técnico... kkkkk"

"A DEMOCRACIA já era,FRAUDE a vista,só não vê quem não quer,e olha que não torço para NINGUÉM 🧠"

 

  • A partir do questionamento às instituições nos EUA, há evidente tentativa de se questionar também o resultado das eleições brasileiras. 

 

"Já tá planejando de novo para fazer um fraude igual aqui no Brasil também"

"Se as eleições lá não forem fraudadas iguais a da Venezuela e a do Brasil, com certeza absoluta o Trump ganhará de lavada!"

 

  • Adotando esta perspectiva comparativa entre Brasil e Estados Unidos, alguns usuários sinalizam para as supostas fraudes nas urnas brasileiras e apontam com receio a possibilidade de algo semelhante se repetir nos Estados Unidos. Ainda, os usuários comentam que as pesquisas servem apenas para construir uma narrativa que irá endossar a vitória alegadamente forjada de Kamala Harris. 

“Iiii levaram is institutos de pesquisas oara EUA daqui, isso si tem a mão de George soros!!!!!!”

“PAREM DE MENTIR SEUS ORDINÁRIOS! PESQUISAS FALSAS! MANIPULADAS!”

“Esses vermes só fala mentira estão doido pra frauda lá também.”

 “Caralho!!! Até nos EUA tem essas maracutaias” 

“Tudo certo para a segunda fraude” 

“Essa pesquisa é mentirosa e safada fake news puro bando de pilantras vagabundos”.

“Nunca que essa dilme tem esse número”

“Ja repararam,em governo de esquerda,as pesquisas sempre da o candidato deles na frente?”

  • Ainda neste tópico, usuários se referiam ao percentual de 51% apresentado em uma das pesquisas como resultado de manipulação, tal como ocorreu nas eleições brasileiras e venezuelanas. 
  • Os comentários reagiram ao vídeo comentando que esse percentual seria adulterado, sugerindo que o “milagre dos 51%” seria uma forma de ludibriar os eleitores. A narrativa se centra na ideia de que os dados irão apontar o candidato progressista à frente, mas não muito, dado o "apoio verdadeiro" ao candidato da direita para que, em seguida, a fraude nas eleições possa ocorrer sem suspeitas.  

"Kkkkk a mesma coisa que aconteceu no Brasil não pode botar muito a frente porque isso não pegaria bem!”

Fraldes do 51%

“Lula 51%, Dilma 51%, Kamala 51% e Maduro 51%...”

“ACREDITEM....LULA 51,2 %....MADURO 51,2 %...E AGORA KAMALA 51,2 %...PODEM APOSTAR.”

“imprensa mais corrompida do mundo, querendo passar credibilidade!!!...e la vão os 51% acredite se quiserem!”

“Começou o "milagre" dos 51%!!” 

“vixeee olhe o golpe ai genteee, 51 X 49, repetindo o brasil de lule e a Venezuela do maduro”.

Considerações finais

 

  • Este relatório revelou que os usuários do YouTube no Brasil demonstram uma forte polarização em suas opiniões sobre Kamala Harris e Donald Trump. Embora Kamala tenha recebido mais apoio em geral, os comentários negativos foram marcados por discriminações de gênero e de raça. 
  • Na análise quantitativa, os perfis de criadores de conteúdo independentes e mídias alternativas no YouTube conseguiram gerar mais interações (curtidas, comentários, compartilhamentos) com um número menor de visualizações, em comparação com a mídia tradicional, que precisou de um número maior de visualizações para obter o mesmo nível de engajamento. Em outras palavras, embora as mídias tradicionais (como CNN, UOL, Band) alcancem um público maior em termos de visualizações, os criadores de conteúdo independentes e as mídias alternativas têm um público mais engajado, ou seja, suas audiências tendem a interagir mais ativamente com o conteúdo, indicando que o público dessas plataformas menores sente uma conexão maior com os criadores ou vê neles uma maior proximidade e representatividade de suas opiniões e crenças.
  • A alta toxicidade dos comentários, especialmente os direcionados à candidatura de Kamala Harris, ressaltam a radicalização, a intolerância e a agressividade dos discursos em torno das eleições. 
  • Na análise qualitativa em profundidade dos comentários, uma das principais conclusões foi como Kamala Harris se tornou alvo de ataques com base em seu gênero e identidade racial, os quais vão além de críticas políticas tradicionais. Os comentários não só questionaram suas propostas e qualificações, mas recorreram a insultos racistas e misóginos que visavam desqualificá-la como uma mulher negra em posição de poder.
  • Outro padrão recorrente foi a desconfiança generalizada tanto na imprensa e no sistema eleitoral dos EUA quanto na cobertura midiática, especialmente em relação às pesquisas eleitorais, relacionando-os com o caso brasileiro. Elas objetivam criticar as instituições democráticas, abrangendo o contexto brasileiro. 
  • Além disso, o debate eleitoral norte-americano está fortemente influenciado por referências ao cenário político brasileiro, com comparações frequentes entre Trump e Bolsonaro, bem como menções de fraude eleitoral no Brasil.

Notas de Rodapé:

  1. A sintaxe de busca (também conhecida por query) refere-se à maneira como formulamos consultas para procurar informações específicas em bancos de dados, motores de busca ou sistemas de filtragem de dados. Esses filtros têm a base linguística, o que corresponde a um aglomerado de palavras-chave (ou termos) associadas a operadores booleanos e caracteres de linguagem de programação. Para este relatório, agradecemos à equipe da Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV pelo apoio na elaboração do conjunto de palavras que orientaram a busca e extração das postagens.
  2.  Nesse sentido, ver: Ataques, violência de gênero online e desinformação na pré-campanha à prefeitura de São Paulo em comentários do YouTube | Mídia e Democracia"O que é Racismo Ambiental?" Para onde a Internet levou o debate do termo a partir da fala da ministra Anielle Franco | Mídia e Democracia, entre outros. 
  3. Santos, N. (2021). Fontes de informação nas redes pró e contra o discurso de Bolsonaro sobre o Coronavírus. E-Compós, 24. Disponível em: https://www.e-compos.org.br/e-compos/article/view/2210

  4. Os canais Brasil Paralelo e TV Coiote foram classificados como Criadores de Conteúdo, pois são categorizados por agências de checagem de fatos como fontes enganosas.

  5. CURZI, Yasmin. Violência de gênero online: silenciamento tecnológico e resistência nas redes sociais no Brasil (2010-2022). Orientadora: Mariana Cavalcanti. 2023. 261 páginas. Tese (Doutorado em Sociologia) – Instituto de Estudos Sociais e Políticos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2023.

     

Elaborado por:

Este relatório foi produzido pelo Programa de Diversidade & Inclusão e pelo Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV Direito Rio no âmbito do Projeto Mídia e Democracia.

Autoria:

Yasmin Curzi (Professora da FGV Direito Rio, Coordenadora do Projeto "Mídia e Democracia" na Escola de Direito)

Carolina Peterli (Pesquisadora do Programa de Diversidade & Inclusão da FGV Direito Rio/ Projeto "Mídia e Democracia")

Fernanda Gomes (Pesquisadora do Programa de Diversidade & Inclusão da FGV Direito Rio/ Projeto "Mídia e Democracia")

Giullia Thomaz (Pesquisadora do Programa de Diversidade & Inclusão da FGV Direito Rio/ Projeto "Mídia e Democracia")

Hana Mesquita (Pesquisadora do Programa de Diversidade & Inclusão da FGV Direito Rio/ Projeto "Mídia e Democracia")

Iris Rosa (Pesquisadora do Programa de Diversidade & Inclusão da FGV Direito Rio/ Projeto "Mídia e Democracia")

Isabella Markendorf Marins (Pesquisadora do Programa de Diversidade & Inclusão da FGV Direito Rio/ Projeto "Mídia e Democracia")

Lorena Abbas (Pesquisadora do Programa de Diversidade & Inclusão da FGV Direito Rio/ Projeto "Mídia e Democracia")

Nikolas Carneiro (Pesquisador do Programa de Diversidade & Inclusão da FGV Direito Rio/ Projeto "Mídia e Democracia")