Ataques, violência de gênero online e desinformação na pré-campanha à prefeitura de São Paulo em comentários do YouTube

Por: FGV Direito Rio

Por: FGV Direito Rio

  • Todas as pré-candidaturas, em maior ou menor grau, foram alvos de comentários ofensivos e discurso de ódio. No entanto, mulheres que figuram como atrizes principais no debate eleitoral têm sofrido mais ataques com discurso de ódio em relação aos homens. 
  • Elas também acumulam comentários mais tóxicos do que eles. Os comentários ofensivos à Marta Suplicy (PT), Tabata Amaral (PSB) e Marina Helena (NOVO) reforçaram estereótipos de gênero, etarismo e sexualização.
  • Ataques à integridade das eleições e à mídia, bem como  campanhas de desinformação sobre os pré-candidatos também foram elementos de destaque no levantamento. A chapa de Guilherme Boulos (PSOL) e Marta Suplicy (PT) foi a mais afetada por este último grupo de comentários.  
  • Os comentários de ataque à integridade das eleições sugerem fraude nas urnas eletrônicas e reivindicam o voto impresso. Ainda, acusam corrupção e conivência do Supremo Tribunal Federal (STF) e Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com as fraudes. 

Em 06 de outubro de 2024, cerca de 152 milhões de eleitoras e eleitores irão às urnas para as eleições municipais em 5.568 municípios por todo o Brasil. Uma das disputas mais acirradas será a da capital de São Paulo. Como principais nomes nessa disputa — oficializados pelos partidos, ou com interesse declarado em participar do pleito —, identificamos a pré-candidatura de Marina Helena (Novo), Tabata Amaral (PSB), Kim Kataguiri (União) e Ricardo Nunes (MDB), além da chapa formalizada de Guilherme Boulos (PSOL) e Marta Suplicy (PT).

Com o histórico de violência contra candidatas mulheres na política brasileira e a aproximação do período eleitoral, o objetivo do relatório é, a partir de análise de comentários em vídeos do YouTube sobre o pleito de São Paulo, responder a seguinte pergunta de pesquisa: como tem sido os comentários de usuários sobre o debate eleitoral e os pré-candidatos e pré-candidatas de São Paulo? Nossa hipótese principal é que as pré-candidatas mulheres podem estar sendo, desde este momento inicial, alvos de violências específicas nas redes sociais.

Metodologia

Este relatório possui como objetivo identificar, a partir da seção de comentários de vídeos do YouTube, as principais tendências de comentários sobre as pré-candidaturas à prefeitura da cidade de São Paulo. Para isso, fizemos o levantamento e coleta de vídeos sobre o tema, em mapeamento amplo no YouTube, a partir de uma regra linguística, orientada pelos nomes dos principais potenciais pré-candidatos, seus respectivos partidos políticos e por termos relacionados às eleições municipais. Consideramos como personagens de interesse para esse levantamento as seguintes: Marina Helena (Novo), Marta Suplicy (PT), Tabata Amaral (PSB), Guilherme Boulos (PSOL), Kim Kataguiri (União) e Ricardo Nunes (MDB).

Partimos de um universo de 291 vídeos, do qual excluímos aqueles com menos de 50 comentários para análise, restando, assim, 85 vídeos dessa primeira filtragem. Realizamos uma análise qualitativa prévia com vistas a evitar a manutenção de conteúdos não relacionados ao escopo da pesquisa. Essa análise levou em consideração a presença de menção textual no título ou descrição do vídeo: i) das eleições a serem realizadas no município de São Paulo; ii) de nomes de pré-candidaturas e; iii) de atos na cidade de São Paulo relacionados às eleições municipais. E como recorte temporal, consideramos vídeos postados entre 01 de janeiro de 2024 e 01 de março de 2024, período em que as pré-candidaturas começaram a ser (re)afirmadas publicamente, com destaque para a confirmação da chapa Guilherme Boulos (PSOL) e Marta Suplicy (PT) no dia 02 de fevereiro, data que marca também a refiliação de Marta ao Partido dos Trabalhadores. Ao final, restaram para o estudo um total de 66 vídeos de 28 canais diferentes com 14.228 comentários.

Do grupo total de 14.228 comentários foram descartados 6.893 comentários em razão de: (i) representarem respostas entre os usuários cujo conteúdo não estava atrelado a uma interação com o vídeo e as personagens em si; e (ii) não ser possível classificá-los com base nos tópicos de interesse, explicitados no Quadro 1 abaixo, representando, portanto, conteúdo fora do escopo deste relatório. A partir desse descarte restaram 7.196 comentários para análise em profundidade.

Para a análise qualitativa, os comentários foram categorizados de forma manual pelas autoras deste relatório a partir da identificação de tópicos recorrentes. Um glossário com esta categorização pode ser observado no Quadro 1. Tal análise levou em conta a personagem destinatária do comentário. Como identificamos comentários que faziam referência a mais de uma personagem, com conteúdo eventualmente divergente (ex. apoio para uma pessoa e discurso de ódio para outra), tratamos esses casos excepcionais dividindo a análise de acordo com o número de destinatários enquanto comentários independentes. Foram 139 ocorrências dessa natureza. Assim, os resultados apresentados neste relatório estão pautados no exame de 7.335 comentários no total.

Veja aqui a tabela da categorização dos canais no YouTube que postaram vídeos cujos comentários foram selecionados para análise.

Para a análise quantitativa, utilizamos dois métodos principais para interpretação dos comentários: (i) modelagem de tópicos, um modelo que nos permite calcular a probabilidade de termos encontrados nos comentários estarem atrelados a tópicos mais amplos; e (ii) análise de toxicidade, utilizando modelo pré-treinado, capaz de detectar atributos tóxicos em dados de texto.

Estruturalmente, o relatório está dividido em três seções: (i) "Eleições de São Paulo no YouTube" — que aborda a caracterização geral do levantamento de canais e vídeos do YouTube com repercussões sobre as pré-candidaturas à prefeitura de São Paulo; (ii) "Análise de conteúdo", na qual as análises de tópicos estão estruturadas; e (iii) "Como os pré-candidatos são referenciados" — que explora (a) os resultados encontrados por meio de análise de toxicidade dos comentários deixados nos vídeos; e (b) os resultados de termos mais frequentes para cada pré-candidatura. 

(I) Eleições de São Paulo no YouTube

Assim como em nosso relatório de agosto, os canais selecionados do YouTube foram classificados em cinco categorias, partindo de metodologia estabelecida por Nina Santos (2020). Buscamos com tal classificação, especialmente: i) identificar os principais perfis presentes no debate eleitoral envolvendo as pré-candidaturas de São Paulo; e ii) situar possíveis associações entre estes perfis e os comentários deixados nestes vídeos. De tal modo, as cinco categorias são: 

  • Mídia Tradicional: Canais de veículos de mídia cujo alcance é significativo no Brasil, possuindo vínculo direto com empresas de comunicação de grande porte. São controlados por empresas amplamente reconhecidas pelo público por estarem disseminadas nos principais meios de comunicação em massa.  
  • Mídia Alternativa: Canais cujo principal foco é a interlocução com o seu público e que buscam fortalecer os meios de participação popular — neste caso, gerar engajamento. Esta pode ser tida como a principal diferença da mídia alternativa em relação às mídias tradicionais, fator particularmente presente nos meios digitais de informação, segundo Ana Cristina Suzina (2019). Muitas vezes transitam entre estratégias de comunicação dos produtores de conteúdo digital e formato jornalístico. Geralmente, não contam com o investimento de conglomerados de mídia em massa e indicam o apoio financeiro de seu público como principal fonte de recursos. 
  • Criador de Conteúdo: Canais independentes, sem relação direta com empresas de comunicação, cujo principal objetivo é interagir com a audiência online por meio de uma comunicação mais próxima com seu público, tendo como foco a expressão de opiniões pessoais para gerar o engajamento com seus nichos de consumo. 
  • Governo: Canais oficiais da estrutura de comunicação e transparência do governo brasileiro. Os conteúdos trazem, em geral, os eventos dos quais participaram parlamentares, tais como Plenárias, votações de projetos de lei e comunicações abertas à imprensa que ocorrem dentro da Câmara dos Deputados.
  • Político: Canais oficiais de pessoas na política. 

Veja aqui a tabela da categorização dos canais no YouTube que postaram vídeos cujos comentários foram selecionados para análise.

No total, os 66 vídeos analisados no escopo deste relatório, listados acima, foram produzidos por 28 canais. 

  • Em termos quantitativos, a categoria "Mídia Tradicional" é a mais presente na coleta realizada, com 51 vídeos. Em segundo lugar, os canais de "Mídia Alternativa" tiveram 8 vídeos analisados; "Criadores de Conteúdo" tiveram 6 vídeos refletidos na amostra; Por fim, a categoria "Político" teve apenas 1 vídeo, do canal do próprio pré-candidato Kim Kataguiri. 

Gráfico 1: Média de interações totais por categoria de canal no YouTube

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Fonte: YouTube | Elaboração: FGV Direito Rio

 

  • O Gráfico 1 acima traz o total de interações por categoria de canais com vídeos analisados para o presente relatório. Os pontos são o valor médio e as barras representam todo o intervalo de valores. 
  • A categoria "Político" é um outlier, tendo em vista a presença de um único vídeo nesta categoria na coleta para este relatório. A média de interações nos canais da categoria "Mídia Tradicional" é a mais baixa em relação à quantidade total de interações por vídeo, devido à também baixa interação em determinados vídeos deste tipo de perfil de canal. 
  • A categoria "Criador de Conteúdo", por sua vez, apesar da menor quantidade de vídeos analisados neste levantamento, possui a maior média de interações. 

Gráfico 2: Análise comparativa de interações totais por categoria de canal no YouTube

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Fonte: YouTube | Elaboração: FGV Direito Rio.

  • Na visualização em boxplot do Gráfico 2 temos a segmentação de interações por tipo de categoria, sendo possível identificar que, enquanto para a categoria "Mídia Tradicional" as interações totais são mais baixas (caixa mais estreita), para a categoria "Criador de Conteúdo", elas são mais altas (caixa maior). A categoria "Político" tornou-se um outlier nessa visualização, assim como na anterior, pela mesma razão. 
  • É possível inferir que a categoria "Criador de Conteúdo" tem conseguido mobilizar mais engajamento no YouTube (com uma mediana elevada e amplo número de interações) do que as categorias "Mídia Alternativa" (mediana mais baixa e menor variabilidade de interações) e "Mídia Tradicional" (caixa mais estreita, com menor mediana e pouca dispersão, sugerindo menos interações). O número maior de interações em canais de criadores de conteúdo possivelmente reflete as preferências da audiência da plataforma em relação ao tipo de conteúdo consumido.

 

Gráfico 3: Evolução de comentários relacionados às eleições municipais de São Paulo por canal

 

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Fonte: YouTube | Elaboração: FGV Direito Rio

  • O Gráfico 3 acima traz a evolução da quantidade de comentários por vídeo ao longo do período da coleta realizada. Para tanto, observamos individualmente a distribuição de comentários em cada vídeo postado por todos os canais mapeados.  
  • O pico de comentários verificado no canal CNN Brasil no dia 10 de janeiro se refere à interação dos usuários com o vídeo em que é debatido o impacto da aliança Marta-Boulos na eleição em SP. Já o pico observado no canal Terra Brasil, no dia 02 de fevereiro, diz respeito ao vídeo repercutindo um trecho do discurso do pré-candidato Guilherme Boulos durante o ato de refiliação de Marta Suplicy ao PT. Boulos menciona o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, fazendo uma alusão à capacidade de articulação política do presidente Lula.  
  • O terceiro e maior pico de comentários, em 15 de fevereiro, foi destinado ao vídeo de entrevista do pré-candidato Kim Kataguiri, no canal Veja. O pré-candidato afirma expressamente que deseja disputar as eleições e comenta sobre a importância de seu nome para o fortalecimento do partido União Brasil.

(II) Análise de conteúdo: assuntos recorrentes dos comentários que fazem referência aos pré-candidatos e pré-candidatas à eleição de São Paulo no YouTube

Para a análise qualitativa, sistematizamos tópicos a partir dos temas recorrentes identificados nos comentários. Como destacado em nosso glossário, agrupamos os comentários nas seguintes categorias: i) apoio; ii) desaprovação; iii) ironia/deboche; iv) insulto/ofensa; v) discurso de ódio; vi) desinformação; vii) polarização; viii) integridade das eleições; e, ix) ataque à mídia/jornalistas. 

 

Gráfico 4: Principais tópicos encontrados dentre os comentários sobre as eleições de São Paulo (capital)

 

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Fonte: YouTube | Elaboração: FGV Direito Rio

 

  • Como é possível depreender do Gráfico 4 acima, a categoria "Insulto/ofensa", isto é, conteúdos de ataques aos pré-candidatos, é a mais presente dentre os comentários coletados para este relatório. Segue-se a ela a categoria "Ironia/deboche", recurso discursivo frequentemente utilizado para inferiorização ou ridicularização das personagens destinatárias dos comentários. 

 

Em seguida, analisamos os tópicos principais de forma aprofundada. 

(i) Apoio e (ii) Desaprovação

  • Dentre os 7.335 comentários analisados, observamos que em 1.553 os usuários expressaram apoio a determinadas pré-candidaturas, enquanto 1.466 comentários demonstraram desaprovação. Para esta última, contabilizamos tanto desaprovação a determinadas pré-candidaturas, como às eleições como um todo, como por exemplo, evocações ao voto nulo. 
  • Com relação à desaprovação, os comentários que não fazem menção a nenhuma das pré-candidaturas em si contabilizam 285 na coleta realizada. A categoria "Apoio", por sua vez, era restrita a comentários em que o apoio à candidatura vinha explícito, muitas vezes contendo a intenção de voto expressa. 



"🎉sou de direita ,,,,Nunes vai ter meu voto" 

"Kim prefeito!"

"É disso que a gente precisa não só na politica municipal de São Paulo, mas no Brasil como um todo: sangue novo, coragem, competência, diálogo e equilibrio. A Tabata é uma representante disso." 

 

(iii) Ironia ou deboche

  • Essa categoria é mobilizada como recurso que pretende depreciar uma pessoa usando um tom de ridicularização ou inferiorização. Para essa categorização, também compreendemos a utilização de emojis e outros recursos linguísticos típicos da ironização, como risadas repetitivas.
  • 1.483 comentários válidos foram classificados como "Ironia/deboche", o que corresponde a 20,22% da amostra. 

"Kikikiki kakakakaka kikikiki vai esperando" 

"Só rindo mesmo isso é uma piada 🤣🤣🤣🤣🤣" 

"😂😂😂😂 calma ingenuo"

  • Em alguns casos, a intenção é flertar com piadas ou brincadeiras, mas que só são reconhecidos como tal, ou seja, como algo engraçado, para o nicho do qual o autor do comentário faz parte. A pessoa a quem o comentário é direcionado ou de quem se refere é transformada em um alvo a ser atingido. De tal modo, o efeito social esperado pelos autores desses comentários é ridicularizar o alvo

 

Gráfico 5: Ironia/Deboche por pré-candidato

 

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Fonte: YouTube | Elaboração: FGV Direito Rio

 

  • Do grupo de comentários analisados contendo ironia ou deboche, 1.074 (72,42%) comentários se referiam a homens, enquanto 360 (24,28%) comentários foram direcionados às mulheres. 
  • Os comentários direcionados aos pré-candidatos possuem um tom de "piada", com teor menos agressivo, enquanto aqueles voltados para as pré-candidatas empregam um maior nível de deboche e estereótipos de gênero, incluindo o uso de emojis, conforme os exemplos a seguir. 

 

"Esse é o verdadeiro boulos de merda" (Direcionado ao Guilherme Boulos)

"Preço do Catavento tá falando é muito bonito para todo ouvido ouvir mas ele não como Deputado não tão fazendo lei…" (Direcionado ao Kim Kataguiri)

"Falou a progressista que votou na reforma da previdência. Fala bonito a PATRICINHA DE BEVERLY HILLS. 🤮" (Direcionado a Tabata Amaral).

"CORRAM QUE A MARTAXA VEM AI🏃🏃🏃🏃🏃🏃" (Direcionado a Marta Suplicy)

  • Ao pensar no escalonamento da gravidade do comentário, foram identificados 244 comentários onde há interseção entre ironia e/ou deboche com a categoria que será apresentada a seguir, insulto e/ou ofensa. Isso corresponde a 16,45% dos comentários classificados como ironia e/ou deboche. O objetivo pretendido nesses comentários é, além de ridicularizar o alvo, ultrajá-lo, num movimento de maior agressividade.
  • Nessas circunstâncias, o recurso de ironia/deboche é mobilizado como um mecanismo para amenizar e/ou diminuir a carga ofensiva, em especial nos comentários direcionados à Marta Suplicy e ao Kim Kataguiri. No caso da pré-candidata à vice-prefeitura, a maioria das mensagens se refere ao uso de adjetivo que a relaciona ao aumento de taxas municipais quando da sua gestão como prefeita de São Paulo. Já em relação ao pré-candidato do União Brasil, a maioria dos comentários utilizam seu sobrenome para fazer algum tipo de jogo de palavras com ofensas. 

 

"Katapiroca é uma figura😂😂😂😂" (Direcionado ao Kim Kataguiri)

"Marta suplício ressuscitou das catacumbas do inferno, agora se sente viva pra cocorrer a Vice, voltou bem humilde kkkkk"

 

(iv) Insulto/Ofensa

  • Na categoria "Insulto/ofensa", identificamos 2.222 comentários. Todas as pré-candidaturas, em diferentes graus, foram alvos desse tipo de conteúdo. Ao observarmos individualmente as personagens, 73% dos comentários ofensivos foram direcionados a Guilherme Boulos (1.623), seguido por Marta Suplicy com 27% (607), Kim Kataguiri com 5% (112); Ricardo Nunes com 2% (53); Tabata Amaral com 1.5% (35) e Marina Helena (1). Em geral, os tipos de insulto identificados continham acusações de crimes como estelionato, invasão de propriedade, roubo, corrupção, entre outros.
  • Com relação aos conteúdos ofensivos direcionados a Guilherme Boulos (PSOL), a maioria dos comentários utiliza o fato do pré-candidato estar ligado à luta por moradia, onde a ocorrência de acusações de "invasor", "ladrão de terras" e "extremista" são comuns. Ademais, foram identificados comentários com insultos simultâneos a Guilherme Boulos e Marta Suplicy, devido ao fato de fazerem parte da mesma chapa. 

 

"Boulos, invasor de propriedade alheia. Marginal"

"Invaso de Terra. Não gosto de polícia gosta de bandidos" 

"Boulo e Marta duas desgraça paulistano que vota em duas miséria dessa é mais safado que os dois"

"Boulos capacho do Lule ,tenta imitar o seu dono politico até os trejeitos como se um não fosse demais , Pobre São Paulo não tem nada ruim que não pode ficar pior , Martaxa ninguém merece."

  • No caso de Marta Suplicy (PT), foram observadas acusações de traição devido sua mudança de enquadramento político, fazendo alusão à troca de partido, ao voto a favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT) e posterior retorno ao PT. Além disso, foram encontrados ataques que reforçam estereótipos de gênero, ao associarem temas de foro íntimo à sua trajetória política. Nota-se, ademais, que o alto número de menções a ela, quando comparado à Tabata Amaral, pode ser explicado pelo fato de Marta já ter ocupado o cargo de Prefeita da cidade de São Paulo e ser mais conhecida. 

 

"Marta é traidora da esquerda, quem já traiu várias vezes c ele irá traí novamente."

"Traidora dos eleitores, golpista, direitista.

"Marta. Traíra falsa igual o ALCKIMIN. Olha so com quem LULa E PT ESTÃO SE ENVOLVENDO. Falam mal e depois saem se beijando, tudo sem vergonha.." 

 

  • No que diz respeito ao conteúdo ofensivo direcionado à Tabata Amaral (PSB), a maioria associa a sua idade à incapacidade de gerir uma metrópole como São Paulo. Além disso, há ocorrência de comentários acusando-a de hipocrisia em seus posicionamentos políticos, devido ao fato de se colocar como uma pré-candidata de centro.  

 

"tá maluco. Vive num conto de fadas. Ela não propõe nada concreto. É muito fraca e superficial" 

"Tabata NÃO é de Centro! Tabata é de esquerda e covarde! A bonequinha da esquerda e nunca de Centro! É PSB comunista!" 

 

  • Tanto Marta, quanto Tabata foram alvos de comentários ofensivos que destacam suas idades e o fato de serem mulheres como características inferiores e impeditivas para suas candidaturas. Isso reforça a hipótese de que mulheres são desestimuladas a participarem da vida política e têm suas trajetórias questionadas, reforçando também a ideia de que mulheres não são capazes de ocupar cargos de gestão no Poder Executivo. 
  • O conteúdo ofensivo direcionado ao pré-candidato Ricardo Nunes (MDB) tende a associá-lo negativamente ao campo político de extrema-direita e ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

"Thu thuca do Bolsonaro." 

"Nunes golpista e antidemocratico, puxa saco de golpista criminoso.

  • Já em relação ao único comentário ofensivo direcionado à Marina Helena (NOVO), temos uma crítica ao próprio lançamento da pré-candidatura, que dividiria os votos do campo político da direita. 
  • "impulsionar candidato da merd@ do novo, que tem agendas semelhantes ao do Boulos, e sendo ela uma que roubaria votos de direita, não tem proposta relevante, não vai ganhar nada, é tolice."

     

    (v) Discurso de ódio

  • Foram encontradas 203 mensagens contendo discurso de ódio, o que equivale a 2,76% do total de comentários analisados no relatório. Nenhuma dessas foi direcionada à pré-candidata Marina Helena nem a Ricardo Nunes. 
  • Pouco mais da metade dos comentários classificados como discurso de ódio, 54.18% (110),  foi destinada às mulheres. Desse grupo, 2.95% (6) à Tabata Amaral e 51.23% (104) a à Marta Suplicy. 
  • Para os homens (38.91% ou 79 em números absolutos): 5.91% (12) foram direcionados a Kim Kataguiri e 33% (67) a Guilherme Boulos. 
  • De tal forma, as mulheres foram mais atacadas com discursos de ódio proferidos contra elas do que os homens. 
  • Os 9,85% (20) comentários restantes são relacionados a outros personagens que não são os pré-candidatos, como o próprio eleitorado. Nessas categorias residuais, há certa recorrência de discursos xenofóbicos contra nordestinos.
  • No que tange os conteúdos dos comentários, cada político apresenta uma especificidade. Os comentários direcionados a Kim Kataguiri estão relacionados com a ascendência asiática do pré-candidato. Assim, termos como "japonês", "japinha", entre outros, são usados no sentido de diminuí-lo, como por exemplo:"DEUS NOS DEFENDA DESSE , XING LING . JÁ MOSTROU QUE É UM TRAÍRA DA NAÇÃO BRASILEIRA""Japonês do Paraguai, você me enganou UMA vêz. Não existirá a segunda."
  • Por esses motivos, o relatório considera esses termos de cunho racista, dependendo do sentido do comentário, xenobiótico, uma vez que os ataques são direcionados a sua pertença racial e cultural.
  • Marta Suplicy e Tabata Amaral, por sua vez, foram atacadas com relação à sua idade, porém em sentidos diferentes. A primeira recebeu comentários com termos como "vaca", "burra" e "bruxa", além de algumas menções pejorativas ao fato da mesma já ter trabalhado como sexóloga nos anos 1980. Isso, contudo, não foi o que mais se destacou no recorte da pesquisa: Marta incomoda muito mais por estar ativa na vida política aos 79 anos. Desse modo,xingamentos como "múmia", "gagá" e "velhota" foram constantemente direcionados à pré-candidata.

 

"Mais um traste velho que não larga o osso da politica! Esta velha deveria cuidar dos netos.”

“As múmias saindo do sarcófago."

"A mulher que só pensa naquilo!"

"Marta bebendo do leite público 😂 é bom D+ ."

  • A ideia de que mulheres são inferiores ou devem ser banidas da esfera pública por conta de sua idade compõe discursos de infantilização e descredibilização. Nesse sentido, se enquadram em discursos misóginos. Tabata Amaral, com 30 anos, por exemplo, é chamada de "menina" e convidada a "brincar em outro lugar" que não seja a política e de não ser suficientemente preparada para o cargo ao qual concorre. 

 

"MEU PAI DO CÉU, O QUE UMA PIRRALINHA DESSAS COMEU E SURTOU ? ALGUÉM POR FAVOR CHAME O PAI DESSA MENINA E DIGA PRA ELA FAZER E BRINCAR EM OUTRO LUGAR POR FAVOR....O MEU PAI DO CÉU, UMA PIRRALHA QUERENDO RESOLVER O PROBLEMA DE SÃO PAULO COM O PCC, JÁ PENSOU ? A PELO AMOR DE DEUS, O POVO PRECISA CRESCER, AQUI NÃO É GRÊMIO ESTUDANTIL CARA....PARA COM ISSO, ALGUÉM PRECISA LEVAR AS COISAS A SÉRIO CARA, ESSA MENINA NÃO DEVIA NEM TER CORAGEM DE SE CANDIDATAR.."

  • Enquanto Tabata tem sua legitimidade para a atuação política sistematicamente questionada em relação a sua idade, Kim Kataguiri, de 23 anos, é elogiado justamente por sua juventude.

"Acompanho o Kim desde de quando ele tinha 17 anos. Um rapaz, inteligente, honesto, corajoso, combatente e coerente. O meu voto ele já conquistou!"

  • Por fim, Guilherme Boulos é constantemente chamado de "terrorista", "maconheiro" e "esquerdopata". Tais comentários remetem ao fato de Boulos estar ligado aos partidos e movimentos de esquerda e à sua relação com o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). 

"Esse Boulo comunista e terrorista nunca vou votar neste vagabundo" 

"Ovacionado por Maconheiros e Marginais"

  • Os estereótipos associados às pessoas de esquerda são comumente relacionados ao uso de drogas e terrorismo. O primeiro faz alusão às políticas de descriminalização da maconha, por exemplo, defendidas também por partidos de esquerda. Além disso, há uma campanha contra esquerdistas que promove desinformação e pânico moral. No mesmo sentido estão as 
  • referências ao terrorismo, buscando associar esse tema aos atos de resistência ao período da ditadura militar e supostas invasões de propriedade, em clara alusão ao MTST e MST, movimentos com os quais Boulos mantém uma relação de proximidade, entre outros exemplos. 
  • Guilherme Boulos e Marta Suplicy formam uma chapa para disputar, respectivamente, a prefeitura e a vice-prefeitura. Por causa disso, ambos também são alvos de discurso de ódio simultaneamente. No geral, essas mensagens reforçam padrões que já foram citados neste relatório, com uma diferença de ênfase temática. Quando o ataque é direcionado à chapa, os termos ligados a sexo se sobressaem mais em relação à Marta, enquanto os termos direcionados a Guilherme Boulos o desqualificam por suas opções políticas. 

"Ela é tão safada, sem vergonha, etc qto ele. Os dois fedem o mesmo tanto. 🤮🤮🤮🤮" 

"Q CHAPA FRIA! MARTAXA E BOULOS? DEMENTES EM DOSE DUPLA." 

"Uma entede so de sexo Outro de invasao de casas de outros Outro roubar Vai dar liga ate no inferno"

  • Outro forma de desqualificar os pré-candidatos de esquerda é menosprezando seus potenciais eleitores. Observamos essa deslegitimação em comentários que empregam o “nordestino(s)” de maneira a associar o Nordeste a um atraso socioeconômico e incapacidade intelectual ou política.

"DEFENDA COLOCAR ESSES DOIS DE VOLTA. PAULISTA NÃO FACAM IGUALMENTE AOS NORDESTINOS"

" Acredito que a maioria esmagadora do pessoal de esquerda em SP, são nordestinos que vieram para ca e transferiram seus titulos de eleitor." 

"Esses nordestinos saem da miséria do nordeste para atrapalhar a eleição aqui em São paulo votando na esquerda"

  • Tais comentários demonstram ódio à população nordestina como um todo, em especial a população nordestina que vive em São Paulo. Eles são considerados discursos de ódio porque são xenofóbicos ao reforçar estereótipos negativos contra o nordeste e, ao mesmo tempo, expressaram insatisfação com esse movimento de migração.

(vi) Polarização 

  • Na coleta realizada, observamos referências recorrentes a determinadas pré-candidaturas a partir do contexto brasileiro mais amplo de polarização entre espectros político-ideológicos. Classificamos 497 comentários, do total de comentários válidos, como referências ou ao contexto das eleições em âmbito nacional ou à polarização do espectro político-ideológico. 
  • De maneira geral, os comentários classificados como polarização direcionados ao pré-candidato Boulos (195) buscavam associá-lo e compará-lo de forma pejorativa ao presidente Lula, ao Partido dos Trabalhadores (PT) e outras figuras do cenário político brasileiro: 

"Esse boulos é mais uma mula do Lula...kkk" 

"Essa quadrilha do PT no Brasil está indo longe demais pois o Lula quer tudo para ele acabar com a Democracia Brasileira Liberdade de Expressão e Liberdade da imprensa no Brasil, pois eles querem colocar o Comunismo e o terrorismo no Brasil.Fora Boulos vai gastar dinheiro do Papai e caia fora das roubalheiras do Lula no Brasil."

"Lula preso e Boulos nem pra síndico. Filho do Lula, cara de 😢pau.".

  • Kim Kataguiri, por sua vez, foi referenciado em 38 comentários a respeito do seu posicionamento no espectro político por se intitular como "o único candidato de direita". Nesse grupo de comentários, Kim foi frequentemente questionado a respeito de suas declarações em favor do impeachment do ex-presidente Jair Bolsonaro.

"De direita? Não foi você que juntou com uns amiguinhos esquerdistas para pedir impeachment do único presidente de direita que o brasil já teve?" 

"Você pediu o impeachment do Bolsonaro,se esqueceu?????" 

"Qual direita?direita se une com esquerda afavor do impeachment de um candidato de direita?😂😂😂😂😂, eu votei no bozó, mas voto e faco campanha para o Boulos ao inves de mbl!😂😂😂"

  • Questionamentos acerca da coerência político-ideológica não se restringiram a Kim, mas também foram direcionados à Marta Suplicy (88), que compõe a chapa de Guilherme Boulos, e à Tabata Amaral (8), pré-candidata pelo PSB. Comentários críticos ao posicionamento de Marta como pré-candidata na esquerda trouxeram à tona seu voto pelo impeachment da Dilma.

"Marta é tao confiável igual o Bolsonaro é honesto ! O Boulos terá uma vice que apoiou o impeachment de Dilma ! Marta é o lixo da direita ! Lula faz mal ao chamar a Marta pra ser vice e voltar ao PT !" 

"Lembranças: a senadora votou pelo impeachment contra a Dilma, ficou com a Lava Jato, o PT é só corrupção, votou a favor da Reforma Trabalhista, gesta Haddad na prefeitura é um desastre, só flores a Janaina Pascoal. Ficou com Temer (se filiou ao MDB). É gostar de Traição. M pula galho é destruir Boulos"

 

  • Para Tabata Amaral, os comentários críticos relacionados ao contexto político mais amplo foram realizados tanto à esquerda como à direita. À esquerda, Tabata foi questionada sobre sua posição em favor das Reformas Trabalhista e Previdenciária, bem como por sua associação com figuras consideradas como de direita. À direita, Tabata foi alvo de comentários sexistas que a criticaram por ter posicionamentos "de mulher esquerdista".

"É essa daí q votou " SIM" pra reforma trabalhista do TEMER ? Agora te falo, imagina uma patricinha dessa na prefeitura ??😅 Uma menina dessa nunca veio aqui em Itaquera, zona leste 😅." 

"Essa é Tabata Amaral que esperamos. A Tabata do estelionato eleitoral, que vota a favor da reforma previdência pra que as pessoas morram trabalhando e retirada de direitos básicos trabalhistas, em favor da pauta farsante do empresariado brasileiro e retomada dos empregos. Aquela Tabata escolada na Fundação Lemann, do tal Renova Br, patrocinado pelo Luciano Hulk (descarado que votou na dobradinha genocida/posto Ipiranga), que agora entoa o coro da extrema direita de lei e ordem. Quem confundir-se é trouxa que busca heróis na política." 

"Tabata Amaral e gatinha uma pena ela ser esquerdista e comunista 😖😖😖😖Passo longe de mulher esquerdista 😤😤"

(vii) Desinformação 

  • No âmbito da coleta, observamos 675 comentários com teor de desinformação. No total, a chapa Marta-Boulos foi o maior alvo de mensagens desse tipo, totalizando  636 comentários com conteúdos falsos descontextualizados (vide Gráfico 4). 
  • A maior parte dos comentários com teor desinformativo em relação a Boulos lhe atribui a alcunha de "invasor", como uma crítica à sua atuação no Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Foram encontrados comentários que o mencionavam como "invasor de terras", "invasor de propriedade", além de "criminoso" e "terrorista". 
  • A narrativa é reforçada por comentários que o associam a organizações criminosas, tais como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), e que o vinculam ao tráfico de drogas e crime organizado.
  • Adicionalmente, na coleta realizada, observamos pelo menos 49 comentários associando Boulos ao Hamas, acusando-o de envolvimento com o movimento e de defender terroristas. 

"Povo de São Paulo mão vota no boulo ele chefe de cadrila"/ "A prefeitura de SP na mão do PCC eles quis dizer né 🤣🤣 OU VAMOS VER QUEM SÃO OS AMIGOS DO REGIME PETISTA TOTALITÁRIO. PCC COMANDO VERMELHO CUBA VENEZUELA RÚSSIA CHINA NICARÁGUA HAMAS HESBOLA E IRÃ PSOL OUTRAS DITADURAS DO MUNDO. SÃO TODOS DO EIXO DO MAU."

  • Alguns comentários também manifestam um forte componente ideológico e conservador, sendo contrários à suposta desordem moral no país que atinge instituições tradicionais tais como a escola e a família e em menção ao "globalismo". 

"Essa Tabata é cria do Leman e do Soros, ja fez curso em NY só para políticos seletos , ela segue os Interesses da ONU, dos globalista e não os iteresses Verde e Amarelo, azul é Branco😧 Longe de nós essa Esquerda Caviar😡, o Brasileiro já não aguenta mais o Socialismo deixando o povo pobre."

"1:50 começou mal. A quem mais interessa ficar no Brasil sendo roubado pela oligarquia, tendo a familia destruida por leis corrompidas e os filhos virando p.. e traveco na mao de professor comunista nas escola: A) a nos mesmo. B) aos politicos. Quem marcou B* ta perdendo tempo. Teoria da cinco bandeiras, vaza daquele barco furado chamado Brasil, e deixe para traz essa corja de sangue sugas."

  • Além destes, observamos comentários em tom acusatório que pretendem promover o pânico moral em torno de pautas como identidade de gênero, orientação sexual, direitos das mulheres, dependentes químicos, pessoas em situação de rua e segurança pública. Nessa linha, há menções expressas à "ideologia de gênero", direitos reprodutivos e legalização das drogas. 

"Sampa seus filhinhos estão seguros aí 😂 ? Boulos e Marta Cracolândia e assaltantes agradece, liberação , drogas,roubo, aborto, cartilha ideologia de gênero 😂"

"Boulos é especialista em invasão de propriedade privada defensor do Hamas ideologia de gênero aborto drogas etc parabéns procure um psiquiatra urgente" 

"SIM!! Ricardo Nunes apoia ideologia de gênero" 

"Guilherme Boulos tem que ser preso, ele estimula e apóia a mudança de gêneros."

"Se a cracolandia já dominou as ruas de SP, imagine com essa dupla extremamente liberal q costuma passar a mão na cabeça dos infratores da vida...!!!! Afffff!"

"Tabata vai querer liber o crack..! Ela segue a cartilha de Lula de liberar as drogas e aborto.. 🇧🇷"

(viii) Integridade das eleições

  • Nesta categoria, observamos um total de 236 comentários que buscavam descredibilizar o sistema eletrônico de voto, bem como o Supremo Tribunal Federal (STF), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e demais instituições federais responsáveis por assegurar a integridade do pleito democrático. Os comentários analisados abordam fraudes nas urnas eletrônicas e reivindicam o voto impresso por entenderem que o formato favorece a prestação de contas, transparência e auditabilidade. 
  • Também identificamos mensagens afirmando a ocorrência de fraudes nas eleições presidenciais, que supostamente contaram com o envolvimento do STF e TSE, e como isso poderia se repetir na cidade de São Paulo.

"Seus amigos do tse vai armar a arapuca das eleições de novo?; normais codigos fontes manipulados como disse o hacker ; voto impresso este tse não quer pra.manipular as eleicoes de novo?" 

"Só tenho uma dúvida......o voto irá ser impresso? Se não for o PT já ganhou ...ANOTA isso aí...." 

"PARA A TRAGÉDIA DO PAULISTANO BOULOS JÁ ESTA ELEITO,O MESMO ESQUEMA ,TSE,STF, CONSÓRCIO, REDES SOCIAIS QUE ELEGEU LULA O ELEGERÁ SEM FALAR NA ATUALIZAÇÃO DA URNA ELETRÔNICA QUE NÃO IMPRIME VOTO ESTAR SE DO ATUALUZADA NO ANTRO ESQUERDISTA USP,TRANSPARÊNCIA ZERO SOBRE A ATUALIZAÇÃO ESSE É O BRASIL RELATIVO". 

"Agora falta o STE fazer vista grossa enquanto com bolsonaro por menos é perseguido" 

"Eleição e pano de fundo ganha quem o STE quizer como aconteceu com lula não fez campanhas mas eo kkkkkkkk presidente" 

 

(ix) Ataque à mídia e jornalistas 

  • Por fim, na coleta realizada identificamos de forma recorrente ataques à mídia e jornalistas. Neste bojo foram 456 comentários que extrapolaram a liberdade de expressão legítima e se tornaram ataques ofensivos. 
  • 83% desses comentários não são direcionados a nenhum político, mas apenas a jornalistas e veículos de informação.

"Raquel é de longe a PIOR, A MAIS ASQUEROSA DA CNN. da nojo só de ouvir a voz dela.....tanto dela quanto do bandido 9 dedos" / "A CNN é um braço do terrrorismo internacional. Sr expõe Boulos neste quesito, é porque não tem como esconder. Lata de lixo e CNN são sinônimos." / "Os jornazista n sabem disso?" ou "Estadão ,folha ,Globo e Muladrão ; Um consórcio diabólico 👹🔥💀🇨🇳13 hamas number 🐍" ou "VERA CAGALHOES!!! QUE COCÔ! LIXO!" / "CNN é quase uma filial da Globonewslixo. Só que sem a desmiolada daniela lima.".

(II) Como os pré-candidatos são referenciados

Na análise qualitativa dos comentários extraídos dos vídeos no YouTube, categorizamos as menções diretas e indiretas aos pré-candidatos, a partir de citação de seus nomes ou referência contextual. No Gráfico 6 abaixo, é possível visualizar tais dados de forma agregada por pré-candidato. 

Gráfico 6: Total de menções diretas ou indiretas a pré-candidatos nos comentários do YouTube

 

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Fonte: YouTube | Elaboração: FGV Direito Rio

Dos 7.335 comentários analisados neste relatório, 3.668 foram em referência ao pré-candidato Guilherme Boulos, enquanto 1.580 à Marta Suplicy — vice de sua chapa. Em seguida, 1.094 comentários foram direcionados ao pré-candidato Kim Kataguiri, 268 ao Ricardo Nunes, 161 à pré-candidata Tabata Amaral e, por fim, apenas 13 à Marina Helena. 

a. Análise de toxicidade de comentários que fazem referência aos pré-candidatos e pré-candidatas à eleição de São Paulo no YouTube

Para a análise de toxicidade, utilizamos o modelo Detoxify. Este é um modelo pré-treinado, especialmente projetado para detectar atributos tóxicos em dados de texto. Os níveis de toxicidade variam de 0 a 1, sendo 0 indicativo de comentários não tóxicos e 1 indicativo de comentários altamente tóxicos. Para entender quais canais contam com o maior número de comentários tóxicos, as autoras deste relatório entenderam – ao analisar a amostra qualitativamente – que comentários que receberam um nível maior que 0.6 pelo modelo são considerados tóxicos. Em razão da considerável discrepância do número de comentários identificados entre as personagens, os dados foram tratados de forma proporcional. 

Ao observarmos a distribuição de comentários por nível de toxicidade, 731 comentários foram classificados com valor igual ou maior que 0.9, 317 comentários entre 0.8 e 0.89, 235 comentários entre 0.7 e 0.79, e 218 comentários entre 0.6 e 0.69. Desse modo, existe na amostra uma prevalência significativa de mensagens altamente tóxicas (1048 comentários com valor igual ou acima de 0.8), de conteúdo explicitamente violento.

Gráfico 7: Total de comentários identificados como tóxicos proporcionalmente por pré-candidato

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Fonte: YouTube | Elaboração: FGV Direito Rio

 

  • O Gráfico 7 acima apresenta a proporção total de comentários com conteúdo tóxico encontrados por pré-candidatos. Como é possível visualizar, Guilherme Boulos (24.9%) é o pré-candidato com maior proporção de comentários tóxicos, seguido por sua vice, Marta Suplicy (18.1%), Tabata Amaral (15.5%), Maria Helena (13.3%), Ricardo Nunes (12%) e Kim Kataguiri (10.5%). Nesse sentido, apesar de possuírem um número absoluto de comentários menor mencionando-as diretamente ou indiretamente, as mulheres são, ainda assim,  alvos significativos de comentários com conteúdo tóxico. 

b. Análise de termos mais frequentes em relação às pré-candidaturas

Figura 1: Nuvem de palavras sobre o total de comentários sobre as eleições de São Paulo (capital)

 

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Fonte: YouTube | Elaboração: FGV Direito Rio

 

  • A partir da análise da nuvem de palavras com todos os comentários deste levantamento, observamos a prevalência do nome de Guilherme Boulos, seguido por Marta Suplicy. Há recorrência de termos como "invasor" e "martaxa", o que denota o número maior de comentários voltado à chapa, seja de forma positiva ou negativa, conforme exposto ao longo deste relatório.
  • Ainda que a análise tenha envolvido 5 pré-candidatos à prefeitura, os comentários são mais voltados à "dupla" (81) de Marta e Boulos, com o termo "bandidos" (55) aparecendo de forma recorrente, juntamente com " terroristas" (20), "lixo" (108) e “comunistas” (27). As manifestações contrárias à “esquerda” (109) também aparecem, de modo que nota-se uma vinculação da chapa de Boulos e Marta ao presidente Lula (182). 
  • Ainda que o termo “invasor” (243) apareça com mais frequência, vinculado a conteúdos desinformativos contra Boulos, Marta é chamada de alcunhas diversas, com teor de discurso de ódio e misoginia. Termos como “traíra” (38), "golpista" (26), "traidora" (26), "oportunista" (27) e “martaxa” (86) aparecem relacionados à Marta Suplicy. 

Figura 2: Nuvens de palavras de comentários relacionados a cada pré-candidato à prefeitura de São Paulo (capital)

 

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Fonte: YouTube | Elaboração: FGV Direito Rio

  • A ocorrência, nas nuvens de palavras individuais dos pré-candidatos, demonstra como há uma menção constante a Boulos e/ou Marta, o que novamente aponta para como o interesse dos usuários, seja de forma positiva ou negativa, recai sobre essa chapa para prefeitura de São Paulo.
  • No caso de Kim, os termos “preparado” (51) e “melhor” (156), reforçam o número de comentários de apoio que o pré-candidato recebeu (757).
  • Para Tabata Amaral, há termos atinentes à polarização, tendo em vista o questionamento de sua posição ideológica, conforme mencionado anteriormente.
  • Na nuvem de palavras de Marta, o fato de ter sido a que recebeu um maior número de comentários de discurso de ódio (104) fica mais evidente quando identificamos o emprego de termos como “velha” (13) e “múmia” (11), de caráter etarista.
  • No caso de Boulos, termos como “invasor” (277) e "ladrão" (79) foram alguns dos mais recorrentes.
  • A nuvem de palavras de Ricardo Nunes aponta para observações acerca do atual prefeito em comparação a outros membros da direita, como “Bolsonaro” (14) e “Salles” (9).
  • Marina Helena é vista como uma alternativa por meio de sua pré-candidatura pelo partido “Novo” (3), no espectro da direita (3). O termo “ótima” para qualificá-la positivamente foi identificado 2 vezes. 

Notas de rodapé:

  1. Agradecemos ao Prof. José Luiz Nunes (CTS-FGV) pela contribuição na elaboração da metodologia e visualizações de dados para este relatório. 
  2.  Uma regra de filtro linguística é um conjunto de critérios ou parâmetros definidos para selecionar e filtrar determinados tipos de dados ou conteúdo com base em características linguísticas específicas. Para este relatório, agradecemos à equipe da Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV pela elaboração do conjunto de palavras que orientaram a busca das postagens.
  3. A inserção do nome da Marta Suplicy especificamente se justifica em razão da sua evocação ao debate devido ao apoio do presidente Lula e de sua filiação ao PT.
  4.  O total de interações é a soma de curtidas e comentários para cada vídeo.
  5.  O total de interações é a soma de curtidas e comentários para cada vídeo.
  6.  Ver: Martins, Fernanda K. MonitorA 2022: a diferenciação necessária entre insultos e ataques no debate sobre moderação de conteúdo. Internetlab, 06 set. 2022. Disponível em: https://internetlab.org.br/pt/noticias/monitora-2022-a-diferenciacao-necessaria-entre-insultos-e-ataques-no-debate-sobre-moderacao-de-conteudo/

  7. Council of Europe, Recommendation No. R (97) 20 of the Committee of Ministers to Member-States on “Hate Speech”, 30 October 1997. Disponível em: https://www.ohchr.org/sites/default/files/Documents/Issues/Expression/ICCPR/Others2011/CouncilofEurope.pdf

  8. O modelo Detoxify é uma ferramenta de análise de texto desenvolvida pela Unitary AI. Projetado para detectar atributos tóxicos em dados textuais, o Detoxify é um modelo pré-treinado de alta precisão que atribui pontos de toxicidade a diferentes partes do texto. Esses pontos variam de 0 a 1, indicando o grau de toxicidade de cada trecho analisado. Com base em um amplo conjunto de dados, o Detoxify é capaz de discernir entre conteúdo tóxico e não tóxico, ajudando moderadores de conteúdo, administradores de plataformas e pesquisadores a identificar e lidar com comentários, mensagens e publicações prejudiciais ou ofensivas em ambientes online. Seu código-fonte está disponível no repositório GitHub da Unitary AI (https://github.com/unitaryai/detoxify

 

Elaborado por:

Yasmin Curzi (Professora da FGV Direito Rio, Coordenadora do Programa de Diversidade & Inclusão e do Projeto "Mídia e Democracia" na Escola de Direito)

Giullia Thomaz (Pesquisadora do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV Direito Rio/ Projeto "Mídia e Democracia")

Iris Rosa (Pesquisadora do Programa de Diversidade & Inclusão da FGV Direito Rio/  Projeto "Mídia e Democracia")

Lorena Abbas (Pesquisadora do Programa de Diversidade & Inclusão da FGV Direito Rio/ Projeto "Mídia e Democracia")

Carolina Peterli  (Doutoranda em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo pela UFBA / Pesquisadora do Programa de Diversidade & Inclusão da FGV Direito Rio/ Projeto "Mídia e Democracia")

Fernanda Gomes (Doutoranda em Sociologia pelo IESP-UERJ / Pesquisadora do Programa de Diversidade & Inclusão da FGV Direito Rio/ Projeto "Mídia e Democracia")

Isabella Markendorf Marins (Mestranda em Antropologia na UFF/ Pesquisadora do Programa de Diversidade & Inclusão da FGV Direito Rio/ Projeto "Mídia e Democracia")

Hana Mesquita (Mestranda em Políticas Públicas em Direitos Humanos pelo NEPP-DH/UFRJ/ Pesquisadora do Programa de Diversidade & Inclusão da FGV Direito Rio/ Projeto "Mídia e Democracia") 

Camila Lopes (Pesquisadora do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV Direito Rio)