Após um ano das eleições presidenciais, debate sobre STF segue associado a suspeitas de fraude nas urnas

Por: FGV ECMI

 

Por: FGV ECMI

 

  • No X, as publicações de maior alcance promovem críticas e ataques tanto aos ministros do STF quanto às discussões e decisões atribuídas à Corte;
  • Argumento geral de opositores é de que o Judiciário teria conspirado contra a reeleição de Jair Bolsonaro e promovido fraude nas urnas para beneficiar Lula, com o qual seria alinhado;
  • Alexandre de Moraes tem forte protagonismo no debate sobre os ministros, seguido de Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Luís Roberto Barroso.

 

O discurso de desconfiança em relação ao processo eleitoral, associado à ideia de que o Judiciário teria facilitado a eleição de Lula, permanece um tema central no debate digital sobre o STF e seus ministros. É o que mostra estudo da FGV Comunicação Rio, que analisou o debate digital sobre o STF no X (antigo Twitter), no Facebook, no Instagram e no YouTube, entre 1º de janeiro e 16 de outubro de 2023.

Enquanto no X o debate tende ao equilíbrio, com ligeira predominância de críticos ao STF, no Instagram, no Facebook e no YouTube há uma maior protagonismo de usuários que enxergam negativamente a instituição. Nesse sentido, existe uma forte mobilização de declarações de ministros retiradas do contexto original e um apelo recorrente à figura de Jair Bolsonaro como contraponto ético e político ao Tribunal.

 

 

Debate geral sobre o Supremo Tribunal Federal



Principais termos sobre o STF no X

Período: de 07 de junho a 16 de outubro

Nuvem de palavras

Fonte: X | Elaboração: FGV ECMI

 

  • Ao todo, foram registradas 3.891.508 menções a termos relacionados ao Superior Tribunal Federal no X, entre 7 de junho e 16 de outubro de 2023. Ministros, atores políticos, decisões da Corte e episódios envolvendo os seus membros estão entre os termos mais recorrentes. Os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes são as autoridades mais evocadas no debate, assim como a atuação do STF nos casos do 8 de janeiro e do Marco Temporal. De modo geral, as publicações de maior alcance promovem críticas e ataques tanto aos ministros nominalmente, quanto às discussões e decisões atribuídas à Corte;

 

  • A narrativa predominante nas publicações contra o STF é de que o Judiciário como um todo teria interferido diretamente nas eleições presidenciais de 2022 em favorecimento de Lula. Esse argumento é mobilizado para afirmar que as agendas e decisões no âmbito da Corte, portanto, estariam alinhadas aos preceitos e interesses do governo atual. Em contrapartida, também tem peso no debate a ideia de que ministros como Alexandre de Moraes vêm atuando de maneira consistente em prol da preservação da democracia, especialmente em posts associados aos desdobramentos do 8 de janeiro.

 

Principais vídeos sobre o STF no YouTube

Período: de 01 de janeiro a 16 de outubro

Total de vídeos: 14.088

Gráfico

Fonte: YouTube | Elaboração: FGV ECMI

 

  • Discussões e episódios envolvendo os ministros motivaram a maior parte dos vídeos. Há um tom geral noticioso, mas com perceptível inclinação a um posicionamento alinhado à extrema-direita, como sugere a presença de canais de mídia hiperpartidária como Jovem Pan News e Gazeta do Povo. A ideia de intervenção indevida do STF na sociedade está presente em parte dos vídeos, como o que destaca a declaração do vice-prefeito de Porto Alegre, Ricardo Gomes, sobre a instituição promover uma “ditadura” no país;

 

  • Críticas ao posicionamento da ministra Rosa Weber, que se colocou a favor da descriminalização do aborto no âmbito do STF, motivaram o vídeo com mais visualizações, no canal religioso Misericórdia Play. O alcance expressivo deste vídeo sugere que críticas ao STF baseadas em argumentações de cunho religioso e moral, com teor forte emocional, têm aderência expressiva no debate. A agressão a Alexandre de Moraes e família em Roma também foi um tema recorrente na rede, assim como os desdobramentos do 8 de janeiro.

 

Mapa de links sobre o STF no Facebook

Período: de 01 de janeiro a 16 de outubro

Total de links: 188.330

Infografo

Fonte: Facebook | Elaboração: FGV ECMI

 

  • O mapa de links do Facebook aponta para uma predominância de grupos que questionam a idoneidade do STF e de seus representantes. O alinhamento ideológico dos grupos ressalta a alta polarização do debate. Dos oito conjuntos de grupos observados, seis reúnem grupos de extrema-direita, que concentram os ataques aos STF e apresentam alcance mais expressivo. Nestes grupos, o 8 de janeiro é frequentemente tratado como “prova” do autoritarismo atribuído ao STF e a Alexandre de Moraes;

 

  • Com alcance reduzido em comparação aos demais, apenas dois conjuntos reúnem grupos de esquerda e/ou progressistas, que tendem a classificar o Tribunal e seus membros, junto a Lula, como aliados da democracia;

 

 

Debate sobre os ministros do Supremo Tribunal Federal

 

Evolução do debate sobre os ministros do STF no X 

Período: de 07 de junho a 16 de outubro

Total de menções: 8.887.848

Gráfico

Fonte: X | Elaboração: FGV ECMI

 

  • Em números absolutos, Alexandre de Moraes adquire um forte protagonismo no debate, angariando cerca de 208% a mais de menções do que Gilmar Mendes, o segundo ministro mais citado; 
  • Nas menções aos ministros, há uma certa coesão temática, com postagens que, em sua maioria, citam os magistrados em referência ao STF, como por exemplo, para tratar de alguma decisão ou votação. Nesse escopo, o tom crítico prevalece, com exceção das menções a André Mendonça, Nunes Marques, Luiz Fux e Cármen Lúcia, citados de modo mais equilibrado;
  • Apesar do tom similar, as menções a cada ministro foram motivadas por episódios variados. Com Moraes, por exemplo, prevalecem menções que criticam a postura do ministro em relação aos presos do 8 de janeiro, alegando abuso de autoridade e “tirania”, além de posts que tratam da agressão sofrida por Moraes e família em aeroporto de Roma; 
  • Já nas menções a Gilmar Mendes, nota-se uma tendência de descontextualizar declarações do ministro, com ênfase em fala crítica à PRF, em setembro, e sobre a influência do STF na eleição de Lula, em outubro. Supostas associações indevidas com Lula foram centrais nas menções a Toffoli, gerando um pico de mais de 1000% após anulação de provas contra o presidente. O mesmo ocorre com Zanin, que tem o mérito de sua cadeira na Corte fortemente questionado.

 

Posts sobre os ministros do STF no Instagram

Período: de 01 de janeiro a 16 de outubro

Total de posts: 87.457

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Fonte: Instagram | Elaboração: FGV ECMI

 

  • Com um pico de 5,5 milhões de interações em 9 de janeiro, os posts sobre os ministros do STF no Instagram estão bastante associados aos atos antidemocráticos em Brasília e seus desdobramentos ao longo dos meses;

 

  • Assim como observado no X e no debate parlamentar no Facebook, a direita é protagonista nesta discussão, com nomes como Carla Zambelli (PL) e Nikolas Ferreira (PL) se destacando. Na esquerda, Lula é o ator principal; 

 

  • O teor das menções, vale dizer, é majoritariamente negativo, com críticas ao que é classificado como “abuso de autoridade” por parte dos ministros. No campo progressista, o foco são votações específicas, como a descriminalização do porte de maconha, além de menções aos presos do 8 de janeiro, com elogios à postura combativa do STF;

 

  • Entre os eixos temáticos abordados, Alexandre de Moraes é, de longe, o ministro mais citado, correspondendo a cerca de 54% de todos os posts mapeados no Instagram.

 

 

Monitor Parlamentar

 

Engajamento médio por partido no debate sobre os

ministros do STF no Facebook

Período: de 01 de janeiro a 16 de outubro

Total de posts: 1778 | Total de parlamentares no debate: 281

Gráfico

Fonte: Facebook| Elaboração: FGV ECMI

 

  • O domínio da oposição nesse debate é ainda mais explícito quando se observa os atores políticos em maior destaque. Gustavo Gayer (PL), por exemplo, apresenta um engajamento médio 266% maior do que Lindbergh Farias (PT), parlamentar governista com melhor desempenho;

 

  • Esse protagonismo se reflete também nas publicações com maior volume de interações no Facebook. Criadas por parlamentares como Marcel Van Hatten (Novo) e Magno Malta (PL), estas postagens indicam, por exemplo, que os ministros do STF estariam exercendo um “ativismo político” favorável a Lula. Alexandre de Moraes e sua atuação em relação aos presos do 8 de janeiro são centrais nestas publicações.

 

Principais posts de parlamentares no debate sobre os ministros do STF no Facebook 

Período: de 01 de janeiro a 16 de outubro

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Fonte: Facebook | Elaboração: FGV ECMI

 

  • Como indicado acima, entre os principais posts no debate parlamentar sobre os ministros do STF, Alexandre de Moraes ocupa um lugar de centralidade. Nesse escopo, o magistrado é citado em cerca de 41% de todos os posts sobre os ministros da Corte. Ainda que majoritariamente negativo, já que é dominado por figuras da direita bolsonarista, o debate sobre Moraes também aglutina elogios de nomes da esquerda, como Gleisi Hoffmann (PT);

 

  • A esse respeito, há um padrão: as críticas e os elogios são majoritariamente relacionados ao bolsonarismo. Isto é, quando os ministros são atacados, as críticas vem de ex-aliados de Bolsonaro; já os elogios, reiteram o relevante papel da Corte em combater ações antidemocráticas por parte de apoiadores do ex-presidente;

 

  • Corroborando com essa noção, há um pico de cerca de 304,4 mil interações no debate parlamentar sobre os ministros no dia 14 de setembro, motivado pelo julgamento dos primeiros réus do 8 de janeiro;

 

  • Entre os posts de maior destaque, em termos de volume de interações, há o recorrente uso de uma retórica alarmista, com indicativos de que estariam vindo à tona "grandes descobertas" sobre os ministros do STF. Junto a isso, há ainda um forte tom conspiratório nessas publicações.

 

Debate associado à desconfiança eleitoral



Evolução de temas associados ao STF no X 

Período: de 07 de junho a 16 de outubro

Total de menções: 1.843.608

Gráfico

Fonte: X | Elaboração: FGV ECMI

 

  • A discussão sobre intervencionismo dominou com folga o debate temático sobre o STF, sendo 610% maior do que a discussão sobre segurança da urna eletrônica, o segundo tema mais comentado. Assinadas por jornalistas e atores políticos, as publicações de maior alcance expressam posições favoráveis ao STF e elogiam o combate a tentativas de golpes de Estado. Apesar disso, os ataques à instituição, em especial na figura de Moraes, continuam numerosos. No campo progressista, ainda circularam com destaque denúncias de supostas tentativas de golpe contra o STF por parte de parlamentares.

 

  • No debate sobre segurança da urna, tenta-se imputar a ideia de que o Judiciário teria colaborado para uma suposta fraude nas eleições presidenciais de 2022. Este argumento é reforçado, por exemplo, em posts que retiram de contexto trecho de vídeo no qual Barroso e Gilmar Mendes teriam elogiado a modalidade de voto impresso. Falas dos ministros em eventos externos também são descontextualizadas para endossar a tese de fraude nas urnas;

 

  • Com destaque no debate, o discurso anticomunista de cunho conspiracionista também associa o STF a um suposto conluio com o governo para censurar e perseguir a imprensa e opositores políticos, com alegados casos de abuso de autoridade envolvendo os membros da Corte. De modo geral, as publicações exploram supostas contradições institucionais dos ministros, a partir de recortes de declarações e decisões no âmbito do Tribunal.

 

Principais termos sobre fraude nas urnas no X 

Período: de 07 de junho a 16 de outubro

Nuvem de palavras

Fonte: X | Elaboração: FGV ECMI

 

  • A suposta tentativa de hackear as urnas eletrônicas por parte da deputada federal Carla Zambelli e os desdobramentos do 8 de janeiro são os episódios centrais no debate sobre fraude nas urnas. Moraes, o hacker Walter Delgatti e a parlamentar referida foram os principais personagens da discussão. Enquanto a discussão envolvendo Moraes é mais diversa e se equilibra entre críticas e elogios, Delgatti e Zambelli são mencionados em decorrência de denúncias sobre associação criminosa em relação às urnas eletrônicas, em postagens de tom majoritariamente crítico à deputada;

 

  • O termo “derrotamos o bolsonarismo” também teve destaque no debate a partir da descontextualização de declaração do ministro Barroso em evento nos Estados Unidos. Argumentou-se que o uso deste termo, somado a outros - como “perdeu, mané”, direcionado a um eleitor bolsonarista - prejudicariam a reputação e a parcialidade da instituição, além de supostamente comprovar alinhamento indevido com o presidente eleito.

 

Posts sobre fraude nas urnas no Facebook e no Instagram

Período: de 01 de janeiro a 16 de outubro

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Fonte: Facebook e Instagram | Elaboração: FGV ECMI

 

  • Investidas contra a ideoneidade de ministros do STF e denúncias sobre suposta intervenção ilegal de Alexandre de Moraes nas eleições são recorrentes no debate sobre fraude nas urnas no Facebook e no Instagram;

 

  • No Facebook, vídeos de Jair Bolsonaro reforçando essas denúncias tiveram alto alcance, seja defendendo o voto impresso ou alegando que, na ocasião das eleições de 2018, atores políticos ligados ao atual governo classificaram a sua vitória como fraude no sistema eleitoral. Dessa forma, o ex-presidente busca legitimar as suas próprias acusações referentes ao pleito de 2022;

 

  • No Instagram, acusações de supostos favorecimento dos ministros Fachin, Barroso e Moraes a Lula tiveram destaque. Na rede, a atuação de celebridades como a ex-atriz Regina Duarte e de veículos de mídia hiperpartidária de direita reforçou o predomínio de perspectiva que associa o STF a fraudes eleitorais.