Agressividade entre candidatos e violência política de gênero marcam eleições municipais brasileiras de 2024
Por: FGV Comunicação Rio
Por: FGV Comunicação Rio
As eleições municipais brasileiras de 2024 tiveram espaço central no âmbito das produções do projeto Mídia e Democracia nos meses de setembro e outubro, refletindo a importância do pleito como um termômetro do cenário político nacional e do papel crescente das mídias digitais na construção do debate público em temas como discurso de ódio, desinformação, inteligência artificial e descrença nas instituições democráticas. Ao todo, foram desenvolvidos 10 estudos e 12 checagens de desinformação no período, além das reuniões do Conselho Mídia e Democracia.
Os estudos em questão abrangem diversos recortes acerca das eleições: desde as candidaturas e campanhas em capitais estratégicas, como Rio de Janeiro, São Paulo e Fortaleza, até temas transversais que têm influência direta no processo eleitoral. Entre os temas investigados estão a toxicidade nos debates televisivos entre candidatos, a influência da pauta climática no âmbito eleitoral, a violência política de gênero voltada para candidatas mulheres e as estratégias dos candidatos e candidatas para obter maior engajamento e ampliar o alcance nas redes.
Apresentamos esse policy paper, inicialmente, com a seção “Linhas de análise: o panorama do período”, composta pelos resultados encontrados em três estudos que tiveram como foco, respectivamente, o nível de toxicidade nas falas dos candidatos de São Paulo, a influência das mudanças climáticas na agenda eleitoral dos candidatos de Porto Alegre, após as enchentes de maio de 2024, e um mapeamento sobre a violência política de gênero voltada para candidatas de diferentes cidades.
Esses resultados, bem como o mergulho analítico realizado para a confecção destes estudos, possibilitou o apontamento de possíveis linhas de ação, reunidas na seção “Linhas de ação: direcionamentos temáticos”. Por fim, na seção “Restrospectiva”, apresentamos as principais atividades desenvolvidas pelo projeto, entre setembro e outubro de 2024.
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Linhas de análise: o panorama do período
As eleições municipais de 2024 foram analisadas sob diferentes prismas no âmbito do projeto Mídia e Democracia. Entre os temas analisados, estiveram: a violência política de gênero dirigida especificamente a candidatas mulheres; o alcance digital dos candidatos e suas principais estratégias para obtenção de visibilidade nas redes; a toxicidade nas falas dos candidatos no contexto dos debates televisivos entre os concorrentes à Prefeitura de São Paulo; a influência de agenda climática em meio às candidaturas à Prefeitura de Porto Alegre, após as graves cheias que inundaram a região Sul em maio; e o impulsionamento de postagens de viés eleitoral por parte dos candidatos na Biblioteca de Anúncios da Meta, entre outros recortes.
É importante ressaltar que as eleições presidenciais dos Estados Unidos, que levaram à segunda vitória do candidato republicano Donald Trump como presidente, também estiveram no escopo do projeto - tanto em estudos quanto em verificações. No âmbito do monitoramento, o relatório revelou que os usuários do YouTube no Brasil demonstram uma forte polarização em suas opiniões sobre Kamala Harris e Donald Trump. A alta toxicidade dos comentários, especialmente os direcionados à candidatura de Kamala Harris, sublinharam a radicalização, intolerância e agressividade dos discursos em torno das eleições.
1.1 Uma análise da toxicidade entre candidatos à Prefeitura de São Paulo
Metodologia
O estudo investigou o nível de toxicidade das falas dos participantes dos debates eleitorais nas eleições para a prefeitura de São Paulo. Para tal, foram selecionados todos os debates eleitorais transmitidos em TV aberta durante o primeiro turno da disputa, à exceção da TV Globo, sendo eles: Band, TV Cultura, RedeTV, SBT e Record. Para analisar os debates selecionados, foi utilizada uma ferramenta de inteligência artificial da OpenAI para transcrever o áudio dos vídeos coletados no YouTube das emissoras responsáveis pela transmissão do debate e delimitar os falantes em um dos debates, que foram atribuídos aos candidatos ou mediadores a partir da segmentação realizada pelos pesquisadores. Com a transcrição de cada trecho de fala, que corresponde a uma fala completa do candidato (pergunta, resposta, réplica, tréplica, fala inicial ou fala final), foi criada uma regra de instrução, também a partir da OpenAI, que permitiu a identificação de trechos de falas em quatro níveis de toxicidade, além do apelo emocional mobilizado nas falas dos candidatos.
A partir dessa classificação inicial, foi selecionada uma amostra de 50 trechos de fala dos candidatos e moderador do debate da TV Cultura, que foram reclassificados pelos pesquisadores e adicionados ao modelo, para aperfeiçoamento dos resultados. Baseado nessas informações, o modelo classificou todos os cinco debates selecionados, classificando as falas como tóxicas ou não tóxicas, o nível de toxicidade e o apelo emocional envolvido na fala. Para verificar a confiabilidade da classificação, todos os trechos de fala dos candidatos do debate da Band foram reclassificados por pesquisadores em um teste cego, resultando em 89,4% de acertos da classificação de toxicidade em comparação com a classificação feita pelo modelo. Partindo desses dados, foram realizadas análises quantitativas e qualitativas, considerando a classificação do modelo, o conteúdo dos trechos de fala dos candidatos e o contexto dessas falas, observado através da análise dos vídeos do debate e do próprio contexto da disputa política em questão.
Análises
Para observar a variação de toxicidade durante os debates e entre os candidatos, foram selecionadas para análise apenas as falas dos seis candidatos que participaram dos debates eleitorais selecionados, excluindo trechos de falas de mediadores, jornalistas, locutores e convidados externos. As falas foram avaliadas levando em consideração o nível de toxicidade classificado pelo modelo, que podem ser detalhados da seguinte maneira: 1) Não Tóxico; 2) Toxicidade Leve; 3) Toxicidade Moderada; e 4) Toxicidade Alta. No nível 1, estão enquadradas falas que mantêm um nível de civilidade consistente, sem agressividade, insultos ou tom ofensivo mais marcado. No nível 2, há falas que, embora possam conter tom crítico, sarcasmo ou ironia, não chegam a ofender os adversários de modo direto ou ter uma dimensão fortemente agressiva. No nível 3, as falas contêm acusações e insultos velados ou explícitos que podem desencadear reações emocionais negativas, sem atingir um nível extremo. Já no nível 4, há falas com ofensas diretas e baseadas em linguagem agressiva e desrespeitosa, que buscam intencionalmente provocar, humilhar ou agredir o oponente.
Evolução de toxicidade ao longo dos debates
Total de falas classificadas: 363 falas | Porcentagem total de falas tóxicas: 51,2%
Fonte: YouTube | Elaboração: FGV Comunicação Rio
Observando os debates eleitorais de modo isolado, é possível observar como a porcentagem de falas tóxicas entre os candidatos oscilou durante o primeiro turno das eleições. O debate da Rede TV, TV Cultura e Band são os debates com mais falas tóxicas, somando 62,9%, 57,8% e 57,3% de falas no espectro de toxicidade, respectivamente. Esses também são os três debates que registraram falas com toxicidade alta (nível 4). É interessante notar que os dois debates mencionados com maior toxicidade, TV Cultura e RedeTV, foram debates em que ocorreram agressões físicas e verbais mais marcadas entre os participantes - o golpe de cadeira de Datena em Pablo Marçal e a discussão acalorada entre Ricardo Nunes e Marçal, respectivamente. É digno de nota que, no debate da RedeTV, as cadeiras dos candidatos foram fixadas no piso previamente para evitar agressões com o objeto. Seguido a esses dois debates, também foi registrado o caso de agressão física entre membros da equipe de Marçal e Nunes no debate do Grupo Flow.
O debate seguinte aos dois casos de agressão é o que registra a menor porcentagem de falas tóxicas, com 31,7%, indicando uma suavização das falas dos candidatos após o ocorrido. O tom mais brando permaneceu no debate da Record: ainda que tenha registrado 48,5% de falas tóxicas, teve um percentual de falas de nível moderado (17%) e alto (nulo) de toxicidade similar ao do SBT e inferior aos demais debates. Essa análise sinaliza para uma distinção entre os debates ao longo da corrida eleitoral e para um abrandamento da toxicidade da disputa política após um período de acirramento nos primeiros debates e de atos de agressão praticados pelos participantes.
1.2 Debate sobre crise climática entre candidatos à Prefeitura de Porto Alegre
Metodologia
O relatório examinou o discurso político on-line de candidatos à prefeitura de Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, após as graves enchentes que assolaram a região em maio de 2024. Analisamos quais temas os candidatos abordaram desde o início do ano corrente, observando especificamente o debate em torno das questões relacionadas ao clima, considerando as recentes inundações que afetaram a cidade. Usando métodos de análise quantitativa e qualitativa, analisamos postagens no Instagram de quatro candidatos à prefeitura de 1º de janeiro a 31 de agosto de 2024. Os pesquisadores usaram uma ferramenta de escuta social, FanPage Karma, para coletar dados do Instagram. Foram coletadas 2.149 postagens compartilhadas na plataforma pelos quatro principais candidatos: o atual prefeito, Sebastião Melo (MDB), Felipe Camozzato (Novo), Juliana Brizola (PDT), e Maria do Rosário (PT).
Análises
Para a análise quantitativa, foram empregados dois métodos principais para interpretar as postagens: (i) modelagem de tópicos, uma técnica que nos permite combinar palavras encontradas em comentários do Instagram com sua probabilidade de associação com tópicos mais amplos, e (ii) análise de volume, comparando o número de postagens relacionadas ao clima com o de postagens gerais. Para cada análise quantitativa, foram realizadas verificações qualitativas e interpretação dos dados.
Principais temas discutidos pelos candidatos à Prefeitura de Porto Alegre
Fonte de dados: Instagram Elaboração: Democracy Reporting International
Como demonstrado em uma análise anterior da DRI, as eleições municipais representam uma oportunidade essencial para os candidatos consolidarem ou recuperarem influência e apoio em suas regiões. Temas como política nacional e economia, e questões como saúde pública e educação impactam significativamente as eleições locais no Brasil.
O gráfico acima apresenta os principais tópicos e subtemas discutidos pelos candidatos à prefeitura de Porto Alegre. A análise mostra que as postagens sobre as inundações foram predominantes, totalizando 883 postagens (41%), seguidas por vários outros tópicos, como debates sobre política nacional (423 postagens, 19,7%) e sobre políticas municipais sobre questões específicas (352 postagens, 16,3%). Outras cobriram assuntos diversos (491 postagens, 23%).
Ao debater "inundações e questões relacionadas ao clima", os candidatos postaram com mais frequência conteúdos com: (i) mensagens de solidariedade, escrevendo sobre a esperança de um futuro melhor e de uma cidade próspera e reconstruída; (ii) alertas de inundação, orientando a população das áreas afetadas a deixar suas casas; (iii) comentários sobre as ações do governo federal no sentido de apoiar a gestão municipal; (iv) mensagens que atribuíam diretamente o desastre às mudanças climáticas; e (v) posts relativos à segurança pública e abrigos disponíveis para pessoas realocadas.
Os candidatos também focaram na política nacional e municipal em suas postagens no Instagram. Embora as postagens geralmente apoiassem ou criticassem o atual governo federal em questões nacionais, as discussões locais eram mais específicas, incluindo temas como educação pública, direitos das mulheres, mobilidade urbana e saúde pública.
A categoria “diversos” engloba postagens sobre feriados específicos (Dia das Mães, Carnaval, Dia do Trabalhador etc.), postagens pessoais sobre a vida privada dos candidatos e postagens destacando a decisão de concorrer à prefeitura nas eleições municipais.
Ao observar a distribuição desses temas nos últimos meses, vimos que as postagens relacionadas ao clima alcançaram o pico após as primeiras enchentes atingirem Porto Alegre, conforme esperado. Os dados apontam ainda que os candidatos priorizaram o debate em torno das questões ambientais e das inundações em detrimento de outros tópicos nos meses imediatamente após as inundações.
1.3 Violência política de gênero nas eleições municipais
Metodologia
Nesta pesquisa, o foco consistiu nos comentários direcionados a candidatas e candidatos à prefeitura em vídeos no YouTube para compreender a natureza das interações de usuários durante a corrida eleitoral. Nossa principal hipótese, seguindo estudos anteriores, como realizados pelo MonitorA – observatório da violência política nas redes sociais desenvolvido pelas organizações InternetLab, Revista Azmina e Volt DataLab – foi a de que candidaturas de mulheres receberiam mais comentários e ataques ofensivos do que candidaturas masculinas, que tenderiam a obter comentários apenas discordando de suas opiniões.
Além disso, o grau de agressividade de comentários poderia ser maior de acordo com demais marcadores sociais das candidatas, como pertencimento a grupos de identidade de gênero diverso, espectro político e região. A pesquisa analisou comentários em vídeos no YouTube de debates, entrevistas e sabatinas com candidatas que representam a diversidade de gênero e raça na corrida à prefeitura nos municípios brasileiros, no período compreendido entre a pré-campanha e a campanha.
Análises
Para compreender como a violência política de gênero acontece nas redes, a análise foi realizada a partir da classificação dos comentários em 7 categorias: i) apoio; ii) discordância; iii) desumanização; iv) inferiorização; v) sexualização/fetichização; vi) desinformação baseada no gênero e; vii) desinformação.
Categoria mobilizada por gênero
Fonte: YouTube | Elaboração: FGV Direito Rio
Como detalhado na apresentação deste relatório, uma das hipóteses aventadas, a partir de estudos anteriores, seria a de que candidaturas de mulheres recebem comentários mais agressivos enquanto homens receberam comentários de mera divergência de opiniões. O gráfico acima confirma a hipótese ao demonstrar a diferença entre o volume de comentários com conteúdo de mera discordância para os homens (com uma média de 64 comentários) e o volume de comentários direcionados às candidatas classificados em categorias mais gravosas, como inferiorização e desumanização (um total de 1569 comentários com esse tipo de conteúdo para as mulheres) – para os quais não foi identificada nenhuma incidência deste tipo de discurso. Candidatos homens destacaram-se nos comentários com teor de inferiorização devido ao alto volume de comentários em tom de ironia e deboche. Este volume pode ser derivado de comportamento usual entre os usuários das redes sociais, ao utilizar piadas e memes para ridicularizar e inferiorizar candidatos, criando apelidos depreciativos a partir de trocadilhos. Nesse sentido, Eduardo Paes recebeu um grande volume de comentários deste tipo (37,2%).
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Categorias por espectro político
No que se refere às diferenças entre os campos políticos, o gráfico abaixo mostrou que as candidatas de direita receberam sistematicamente mais apoio e menos comentários nocivos em comparação com as candidatas de esquerda.
Categoria mobilizada por espectro político
Fonte: YouTube | Elaboração: FGV Direito Rio
Apenas 14,9% das mensagens de apoio foram direcionadas a candidatas de esquerda, enquanto, no campo da direita, 90,8% dos comentários dirigidos às candidatas tiveram tom de apoio.
As candidatas de esquerda foram alvo de 96,9% dos ataques. Duda Salabert (PDT-MG), primeira mulher trans concorrendo a um pleito municipal de capital, e Tabata Amaral destacaram-se como principais alvos do conteúdo violento na amostra, representando, respectivamente, 67,4% e 19% dos ataques. Juntas, foram alvo de 86% das agressões registradas.
Do total de comentários direcionados à candidatas de esquerda, 53,4% foram de desumanização, enquanto para as candidatas de direita os comentários que visam desumanizar foram 1%.
Dentre as candidatas do campo da direita, quem sofreu mais ataques foi a candidata Clarissa Tércio (PP-PE), com cerca de 1,3% dos conteúdos nocivos identificados sendo dirigidos a ela.
2. Linhas de ação: direcionamentos temáticos
As análises realizadas neste bimestre focaram em temas essenciais para o fortalecimento da democracia brasileira, e apontam a urgência em aprimorar a regulamentação no cenário político e eleitoral do país. Os estudos evidenciam que desafios recorrentes no espectro político nacional se refletem igualmente no contexto eleitoral, apontando para a necessidade de superação de obstáculos que envolvem tanto o comportamento dos candidatos quanto a forma de participação dos eleitores. Além disso, destaca-se a urgência em consensualizar acerca do papel das plataformas digitais na amplificação desses problemas, o que reforça a necessidade de uma regulamentação que reconheça o lugar que tais corporações ocupam na mediação do diálogo entre eleitores e candidatos.
As evidências produzidas nas análises, juntamente com as reflexões dos encontros periódicos do Conselho, indicam caminhos e inspirações para a formulação de políticas públicas e ações de advocacy que visem construir um ambiente eleitoral fundamentado em valores como transparência e auditabilidade. Diretrizes que devem orientar a disputa eleitoral democrática, possibilitando o retorno ao diálogo entre as diferentes perspectivas ideológicas e superando a forma hostil, tóxica e difamatória que a conversação política assumiu no país.
Enfrentar um desafio dessa magnitude requer a articulação entre os diversos atores comprometidos com a consolidação da democracia, promovendo ações em rede que incentivem inovações institucionais implementadas de forma permanente, com as eleições servindo como momentos de avaliação e ápice dessas iniciativas. Nesse contexto, a coordenação entre a sociedade civil, as Big Techs e os governos, especialmente por meio do TSE e dos TREs, é essencial para fortalecer uma estrutura democrática robusta e adaptada aos desafios atuais.
Entre as ações necessárias, destaca-se o aprimoramento das políticas públicas, com a criação de mecanismos institucionais que orientem e influenciem a conduta de candidatos, eleitores e plataformas digitais em temas cruciais como mudanças climáticas e violência política. Também é essencial o fortalecimento de dispositivos técnicos e uma arquitetura da rede, voltados para o desenvolvimento integrado de moderação humana e algorítmica, com o objetivo de remover conteúdos tóxicos e violentos e identificar práticas ilícitas por eleitores e candidatos. Além disso, as ações de advocacy e educação promovidas pela sociedade civil devem ser ampliadas para gerar pressão sobre candidatos e governos e para realizar campanhas que incentivem o engajamento em questões climáticas e o fortalecimento de competências informacionais, capacitando a população a identificar, denunciar e combater a disseminação e circulação de conteúdos prejudiciais.
Por fim, a transparência e o acesso aos dados que circulam nas plataformas digitais- por pesquisadores, jornalistas e observadores eleitorais - continua sendo uma das demandas mais urgentes a serem implementadas pelas empresas que detêm o monopólio da circulação das mensagens. A disponibilização de APIs é um critério básico de transparência que deve ser incorporado imediatamente pelas Big Techs.
Deste modo, propõem-se as seguintes linhas de ação:
2.1 Políticas públicas
2.1.1 Discursos tóxicos: Desenvolver definições conceituais e objetivas sobre toxicidade, que sejam consensualizadas entre candidaturas e TSE e TREs regionais, bem como estabelecer penalidades para a utilização de tais conteúdos por parte dos candidatos. Tomando como exemplo os casos ocorridos em 2024, promover campanhas e um pacto público contra a violência política nas eleições.
2.1.2 Violência de Gênero no Contexto Eleitoral e Digital: implementar uma ação robusta - semelhante à que foi feita em relação ao uso de IA nas eleições - que informe sobre penalidades e protocolos específicos de denúncia contra violência de gênero. Ampliar o conhecimento da população acerca da linha direta de denúncia contra violência de gênero, a formação de equipes especializadas da justiça eleitoral que possam fazer buscas ativas sobre tais eventos, a ampliação de ações de acolhimento de mulheres candidatas vítimas de violência e a desoneração de custos envolvendo processos criminais/judiciais que, eventualmente, precisem ser acionados.
2.1.3 2. Financiamento Público Vinculado a Compromissos Climáticos: O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) poderia estabelecer que parte dos recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) seja destinado prioritariamente às campanhas e partidos que incluam políticas ambientais explícitas e alinhadas às demandas de sustentabilidade dos municípios/estados em que concorrem ao pleito eleitoral. Isso poderia ajudar a garantir que questões ambientais sejam discutidas e priorizadas nas eleições, ao mesmo tempo que desencoraja promessas superficiais/oportunistas para enfrentamento de problemas climáticos.
2.2 Empresas de plataformas digitais
2.2.1 Disponibilizar acesso às API e interfaces de acesso amigável, para que usuários comuns, instituições de pesquisa, jornalistas e observadores eleitorais possam acessar e auditar as mensagens que circulam nas plataformas, permitindo que tanto a análise de dados, bem como a realização de denúncias diminuindo, o máximo possível, a circulação de tais conteúdos nas redes.
2.2.2 Criação de um “observatório eleitoral” financiado pelas plataformas e composto por diferentes representantes da sociedade civil, governo e campanhas eleitorais para que o monitoramento dos conteúdos seja feito em tempo real, com direito de recomendação para modificação na arquitetura da plataforma ainda no processo eleitoral vigente.
2.2.3 Em parceria com a sociedade civil e o TSE, desenvolver, antes do período eleitoral, protocolos para a tipificação de conteúdos tóxicos e de violência de gênero contextualizados com a realidade eleitoral e cultural brasileira. Esses protocolos deverão permitir a detecção e o treinamento de algoritmos para garantir a remoção desses conteúdos, evitando a ampla disseminação de mensagens prejudiciais e promovendo um ambiente eleitoral mais seguro e democrático.
2.3 Organizações da sociedade civil
2.3.1 Promover campanhas para que candidatos se comprometam publicamente com as questões climáticas em seus planos de governo, como a assinatura de cartas e manifestos, além de pressionar para que as campanhas incorporem, de maneira contextualizada com a realidade local, conteúdos específicos sobre clima na comunicação política e eleitoral do processo eleitoral.
2.3.2 Criação de um índice de toxicidade em que organizações monitoram e disponibilizam em tempo real, o grau de toxicidade de candidatos pressionando para que os discursos sejam modificados. A ação pode envolver um código de conduta online - identificado por um um selo ou um filtro nas fotos de perfil - em que usuários indicam a intenção em realizar uma conversação política respeitosa e construtiva com pessoas de diferentes visões ideológicas.
2.3.3 Financiar as já existentes organizações e redes de combate à violência de gênero para que sejam feitos monitoramentos colaborativos focados em identificar e denunciar casos de violência política durante o período eleitoral. O financiamento pode prevê uma plataforma para coleta de denúncias, contendo exemplos que tipifiquem as diversas violência existentes. Além disso, podem estar associados a campanhas realizadas em níveis locais, como escolas e bairros, que promovam a ampliação da percepção do eleitorado sobre o que é violência de gênero e seus impactos na participação política de mulheres no processo eleitoral.
3. Retrospectiva
Monitoramento
Entre setembro e outubro, foram produzidos 10 relatórios semanais com enfoque dirigido aos processos eleitorais. Para além de questões relativas às eleições municipais brasileiras, as eleições presidenciais estadunidenses também foram analisadas no âmbito do projeto, revelando interseções importantes entre ambos os pleitos, como a violência política de gênero destinada às candidatas mulheres. Todos os monitoramentos e atividades do projeto podem ser acompanhadas pelo site.
Fact-Checking
A partir do monitoramento de redes sociais, a Lupa realizou 12 verificações de conteúdos desinformativos em circulação nas plataformas. No contexto das eleições, ataques e mentiras contra candidatos e candidatas estiveram em destaque, como falsas acusações de atentados entre opositores políticos.
Refletindo a notória violência política de gênero no contexto eleitoral, destacaram-se checagens a respeito da circulação de deep nudes das candidatas à Prefeitura de São Paulo Tabata Amaral e Marina Helena, e, no âmbito das eleições presidenciais estadunidenses, afirmações falsas e de teor transfóbico de que a vice-presidenta Kamala Harris e a ex-primeira-dama Michelle Obama, duas mulheres cisgêneras, estariam escondendo suas supostas identidades trans. Ainda houve uma checagem a respeito de dezenas de postagens transfóbicas do vereador eleito Lucas Pavanato (PL-SP), que recebeu o maior número de votos na cidade de São Paulo.
Conselho Mídia e Democracia
O Conselho permanece como um espaço para fomentar debates entre organizações da sociedade civil, especialistas e autoridades políticas. No período em questão, especificamente no dia 18 de outubro, o Conselho contou com a presença do diretor da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, que debateu questões pertinentes acerca da Segurança Pública no contexto eleitoral, ressaltando os esforços da corporação para manter a regularidade democrática no pleito municipal.